O relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal (STF), ministro Edson Fachin, retirou o sigilo dos vídeos dos depoimentos, concedidos após acordo de delação premiada, de funcionários da empreiteira Odebrecht. Entre os citados, estão políticos e agentes públicos gaúchos, como os deputados federais Maria do Rosário (PT), Marco Maia (PT) e Onyx Lorenzoni (DEM) e a deputada estadual Manuela D'Ávila (PCdoB). Com base nas colaborações, Fachin autorizou aberturas de inquéritos para a Procuradoria-Geral da República investigar as possíveis irregularidades.
Leia mais:
Lista de Fachin: o que pesa contra os sete gaúchos investigados no STF
Beto Albuquerque teria recebido R$ 300 mil
Divulgação de lista pega Fachin de surpresa
Abaixo, veja os vídeos envolvendo os nomes de gaúchos.*
*A lista ainda não inclui todos os políticos gaúchos citados, já que está sendo atualizada com a entrada de novos vídeos das delações.
--> Clique aqui para conferir a relação de gaúchos investigados no STF.
--> Clique aqui para ver os gaúchos com processos remetidos a outros tribunais.
Dilma Rousseff (PT):
Por suposta participação em irregularidades envolvendo a empreiteira Odebrecht, a ex-presidente da República Dilma Rousseff aparece em duas petições que o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato do Supremo Tribunal Federal (STF), remeteu a juízes de outras instâncias. Caberá a eles avaliar se cabe a abertura de inquéritos.
A primeira petição, de número 6.803, trata do "pagamento de vantagens indevidas, não contabilizadas, no âmbito da campanha eleitoral" de Dilma em 2014, intermediados pelo assessor Manoel Araújo Sobrinho a pedido de Edinho Silva. Na outra, de número 6.664, os delatores narram "o desenvolvimento das relações institucionais entre o Grupo Odebrecht e o governo federal, a criação do Setor de Operações Estruturadas, a criação da empresa Braskem, os pagamentos que teriam sido feitos ao governo e o funcionamento das planilhas 'Italiano' e 'Pós-italiano', em suposta referência aos períodos em que Antônio Palocci e Guido Mantega ocuparam cargos no governo". Assista:
Eliseu Padilha (PMDB):
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), abertos a partir da lista do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato. Suspeito de receber recursos ilícitos no valor de R$ 5,49 milhões, Padilha é acusado de três crimes: corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em um dos inquéritos, os delatores apontam que Padilha recebeu R$ 4 milhões em propina em seu escritório em Porto Alegre a pretexto de financiar campanhas eleitorais. No segundo inquérito, o peemedebista passou a ser investigado por ter supostamente recebido R$ 1,49 milhão da Odebrecht em relação à obra de extensão da linha do Trensurb entre São Leopoldo e Novo Hamburgo. Assista:
Marco Maia (PT):
A presença da Braskem no Rio Grande do Sul, especialmente no polo petroquímico de Triunfo, é apontada pelo delator Cláudio Melo Filho como um dos fatores que levou o deputado federal Marco Maia (PT) a pedir "colaboração" para a empresa controlada pela Odebrecht. O parlamentar gaúcho é alvo de dois inquéritos autorizados pelo ministro Edison Fachin. Em um deles, é investigado por caixa 2 durante a campanha de 2014 à Câmara dos Deputados. No vídeo abaixo, Melo Filho diz que foi procurado em 2014 por Maia.
– Fui ao gabinete dele. Ele falou que estava na pretensão da reeleição à Câmara dos Deputados e perguntou se a Odebrecht poderia fazer uma contribuição a ele – afirmou o ex-executivo. Assista:
Germano Rigotto (PMDB):
A relação de proximidade do ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (PMDB) com a Odebrecht, para quem inclusive prestou consultoria por alguns anos, teria levado a empreiteira a fazer uma doação ilegal de R$ 100 mil para sua campanha a senador em 2010. A informação foi detalhada pelo ex-dirigentes da empresa Alexandrino de Alencar e Pedro Novis, cujos depoimentos foram divulgados em vídeo após liberação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin.
Maria do Rosário (PT):
A suposta doação ilegal feita pela Odebrecht em 2010 a Maria do Rosário (PT-RS) teria sido pedida pela própria deputada. A revelação está no vídeo de delação premiada do ex-diretor da empreiteira Alexandrino de Alencar que embasou o pedido de investigação determinado pelo relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin.
O delator diz que o que corrobora sua versão é que Maria do Rosário está na planilha da Odebrecht como "Solução" e que, ao lado do codinome, aparecem dois valores: de R$ 100 mil e R$ 50 mil. O documento foi entregue ao Ministério Público. Assista:
Beto Albuquerque (PSB)
Em dois depoimentos à Procuradoria da República em Campinas (SP), em meados de dezembro, o ex-diretor da Odebrecht no Rio Grande do Sul, Alexandrino de Alencar garantiu que o setor de operações estruturadas da empresa, o departamento da propina, fez repasses de R$ 650 mil, via caixa 2, atendendo a pedidos do ex-deputado Beto Albuquerque (PSB).
O dinheiro seria para apoiar candidaturas de Beto, de correligionários do PSB e da deputada estadual Manuela D'Ávila (PC do B). Desse total, Alexandrino disse que R$ 200 mil foram doados a Beto, como ajuda na campanha dele a deputado federal, em 2010. Conforme o ex-executivo da empreiteira, o valor superou em muito a quantia de doações legais candidatos a deputados federais – tabelada pela empresa em R$ 50 mil. Alexandrino afirmou que, em 2012, foram repassados R$ 100 mil a Beto, a título de contribuição a campanhas municipais do PSB. Assista:
Manuela D'Ávila (PCdoB):
Conforme o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino de Alencar, em 2008, R$ 300 mil da empresa irrigaram a campanha de Manuela D'Ávila à prefeitura de Porto Alegre, por meio de caixa 2. Alexandrino ressaltou que o dinheiro foi solicitado por Beto Albuquerque, que era coordenador da campanha de Manuela. Segundo o delator, na eleição a deputada federal, em 2010, Manuela recebeu mais R$ 50 mil, também por meio de caixa 2. Assista:
Frederico Antunes (PP):
Diretor da Odebrecht Ambiental na Região Sul, Guilherme Paschoal, revelou em depoimento ao MPF que a empresa doou, em 2014, R$ 70 mil por meio de caixa 2 para a campanha a reeleição do deputado estadual Frederico Antunes (PP).
Segundo Paschoal, a contribuição se deu pelos laços de Frederico com Uruguaiana, sua terra natal, onde a companhia tem contrato com a prefeitura para serviços de saneamento. Assista:
Onyx Lorenzoni (DEM):
O fato de o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ter sido uma "potencial liderança no quadro político em 2006" foi o que levou a Braskem a buscar o então candidato para oferecer um pagamento via caixa 2. De acordo com a delação premiada de Alexandrino de Alencar, que naquele ano negociou o valor com o político, Onyx sabia que se tratava de um repasse ilegal. Assista:
Darcísio Perondi (PMDB), Paulo Pimenta (PT) e Sérgio Zambiasi (PTB)
O ex-senador gaúcho Sérgio Zambiasi (PTB) teria sido beneficiado por pagamentos sistemáticos para auxiliar a Odebrecht a receber por contratos de obras no Porto de Rio Grande (RS). A informação foi dada por dois dirigentes da empreiteira, João Borba Filho e Valter Lana, em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR). Eles mencionam também que teriam ajudado dois outros parlamentares gaúchos, os deputados federais Darcísio Perondi (PMDB) e Paulo Pimenta (PT). Por ter considerado que faltam provas para abrir inquérito contra os três políticos, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitou investigações adicionais por parte da PGR. Assista:
Jairo Jorge (PDT)
O interesse da Braskem em apoiar as campanhas eleitorais do ex-prefeito de Canoas Jairo Jorge (PT-RS), tanto por meios legais como por caixa 2, teria ocorrido pela "parceria" do político na viabilização de obras da empreiteira no Rio Grande do Sul. Em delação premiada, o dirigente da empreiteira, Alexandrino de Alencar, contou que conheceu o petista em 2004, quando ambos foram apresentados por Tarso Genro, então ministro da Educação, durante um evento em São Paulo. Segundo Alexandrino, o ex-prefeito de Canoas teria recebido um repasse ilegal de R$ 50 mil para a campanha eleitoral de 2008. Assista:
Estilac Xavier (PT)
O executivo da construtora Odebrecht Valter Lana detalhou como se deu a negociação de R$ 250 mil supostamente repassados ao PC do B em 2010, durante campanha de Tarso Genro (PT). No depoimento prestado em regime de colaboração premiada, disse que a intenção da construtora era doar o dinheiro na via caixa 2 à campanha do petista, mas que a oferta foi recusada por Estilac Xavier, então coordenador da campanha do PT e pessoa designada para negociar as referidas contribuições.
O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ex-deputado estadual pelo PT exigia que a doação fosse feita de forma legal. No entanto, segundo Lana, uma alternativa foi oferecida: doar em caixa 2 para o PC do B, que estava na aliança encabeçada pelo PT. Assista:
Paulo Ferreira (PT)
Um montante de R$ 200 mil foi pago via caixa 2 pelo Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht – conhecido como setor de propinas da empresa – ao ex-deputado federal Paulo Ferreira, segundo o delator Alexandrino de Alencar. Em acordo de delação premiada, o ex-diretor da empreiteira no Rio Grande do Sul detalhou a boa relação que mantinha com a esposa de Ferreira, Tereza Campello, e o encontro em que o ex-tesoureiro do PT pede contribuição para sua campanha eleitoral de 2010. Assista:
Anderson Dorneles (ex-assessor de Dilma Rousseff)
Ex-executivos da Odebrecht confirmaram, por meio de acordo de delação premiada, pagamentos que somam ao menos R$ 350 mil a Anderson Dorneles, ex-assessor especial de Dilma Rousseff, de 2013 a 2014.
Dorneles é citado nos depoimentos do ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht e de outros integrantes do alto escalão da empresa: Cláudio Melo Filho, João Carlos Mariz Nogueira e José Carvalho Filho. Assista:
________________
CONTRAPONTOS
O que diz Dilma RoussefF:
Em nota divulgada por sua assessoria, Dilma declarou enfaticamente que "nunca pediu recursos para a campanha ao empresário". Refutou também "as insinuações de que tenha beneficiado a construtora" e afirmou que "o senhor Marcelo Odebrecht faltou com a verdade". "É fato notório que Dilma Rousseff nunca manteve relação de amizade ou de proximidade com o senhor Marcelo Odebrecht. Muitas vezes os pleitos da empresa não foram atendidos por decisões do governo, em respeito ao interesse público. Essa relação distante, e em certa medida conflituosa, ficou evidenciada em passagens do depoimento prestado pelo senhor Marcelo Odebrecht", assinalou o texto da equipe da ex-presidente. "Ele (Odebrecht) não consegue demonstrar tais insinuações em seu depoimento", desafia a petista. "E por um simples motivo: isso nunca ocorreu. Ou seja: o senhor Marcelo Odebrecht faltou com a verdade."
O que diz Marco Maia:
"São completamente mentirosas essas informações. Não há absolutamente relação minha de pedido de qualquer ilegalidade para ter qualquer benefício desta ou de qualquer outra empresa que tenha atuado no Rio Grande do Sul ou no país."
O que diz Germano Rigotto:
"Não fui comunicado, não sei de nada. Se foram feitas doações (pela Odebrecht), foram legais. Dentro do meu período de governo, nunca defendi nenhum interesse de Odebrecht. Quero ver quem citou, quando citou e como citou. Estou muito tranquilo".
O que diz Maria do Rosário:
Por meio de nota divulgada por sua assessoria de comunicação, a deputada afirma que a decisão do ministro Edson Fachin "é uma mera autorização do STF para apuração dos fatos sobre as delações da Odebrecht". No entanto, a parlamentar diz que "a citação de seu nome a deixa indignada. Não me calarei frente a este episódio e não me afastarei um milímetro sequer das causas que acredito e que o nosso trabalho representa. Vou disponibilizar meus sigilos fiscal, bancário e telefônico ao STF tamanha é minha tranquilidade. Meu nome e minha vida não estão à disposição para serem enxovalhados por ninguém em nenhum lugar", diz a deputada no documento. Ela também divulgou um vídeo com seu posicionamento.
O que diz Onyx Lorenzoni:
Em entrevista à Rádio Gaúcha, o deputado afirmou que nunca esteve com ninguém da Odebrecht e que desconhece as pessoas que o acusam. "Tenho absoluta tranquilidade dos meus procedimentos e vou em busca dos esclarecimentos. Se necessário, vou abrir mão do meu foro privilegiado. Devo isso aos meus eleitores, que confiaram em mim", disse o parlamentar gaúcho. Onyx ainda afirmou que, no caso do surgimento de provas, ele deixaria o cargo.
Beto Albuquerque:
"Nunca recebi de Odebrecht qualquer coisa ilegal. Se meu nome está na lista, vou buscar informações para me manifestar. Jamais eu recebi qualquer coisa ilegal da Odebrecht. Quem não deve, não teme".
O que diz Manuela D'Ávila:
"Sobre as notícias veiculadas pela imprensa, comunico que não fui informada pela Justiça, mas tenho ao meu lado a tranquilidade de quem há 13 anos constrói sua vida pública com transparência e ética".
O que diz Frederico Antunes:
A assessoria do deputado Frederico Antunes ficou de dar retorno.
O que diz Darcísio Perondi:
"Não recebi nada da Braskem nem da Odebrecht. Vou ver hoje o que diz essa petição."
O que diz Paulo Pimenta:
"Eu tenho certeza que esse prazo estabelecido pelo ministro Fachin é o prazo para que se esclareça o assunto e que ele seja arquivado, pois eu não tenho qualquer tipo de relação que possa caracterizar algum motivo que justifique alguma investigação. Tanto que já não foi aceito em um primeiro momento. Este é mais um procedimento formal para ser feito o arquivamento. Eventuais contribuições de campanha que recebi são contabilizadas."
O que diz Sérgio Zambiasi:
"Não tive acesso a nada. Não conheço o teor, não sei exatamente qual a abordagem. Desconheço os codinomes. mas sobre a entidade é verdadeiro. Em final de 2009 ou 2010, me encontrei com o Valter (Lana) e sugeri que ele conhecesse uma entidade periférica que precisava de muita ajuda. Eram mais de cem pessoas em situação de abandono. Pedi que, se ele pudesse, oferecer algum tipo de ajuda. Fiz isso com muita gente. Mas a partir de então minha intervenção terminou, eu não tive mais contato. Sei que ele visitou pessoalmente a entidade, colaborou imediatamente, inclusive mandou uma geladeira que funciona até hoje lá. Pelo que me informei, ele contribuiu também por alguns meses, mediante recibo. Mas isso não passou por mim."
O que diz Jairo Jorge:
"Ainda que sequer esteja na condição de investigado, sobre suposto pedido de informação do Ministro Fachin e com a tranquilidade de quem acredita na Justiça, Jairo Jorge reafirma que em 2012, a campanha para prefeito recebeu doação oficial do Grupo Odebrecht, assim como outros candidatos no estado. O valor foi repassado pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores e consta na prestação de contas entregue a Justiça Eleitoral. No ano passado a informação foi veiculada e prontamente Jairo Jorge informou a procedência dos recursos e sua legalidade.Não podemos transformar o legal em ilegal. Em 2012, não havia nenhuma proibição de doação por parte de empresas. Por isso trata-se de doação legal, cuja prestação de contas teve aprovação sem ressalvas da Justiça Eleitoral".
O que diz Estilac Xavier:
O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Estilac Xavier não atendeu aos telefonemas da Rádio Gaúcha. A assessoria TCE afirma ele está em férias.
O que diz Anderson Dorneles:
ZH tentou contato com o ex-assessor de Dilma Rousseff, mas não obteve retorno.
*Zero Hora