Para reforçar as informações fornecidas por seus delatores à Procuradoria-Geral da República (PGR), a construtora Odebrecht entregou aos investigadores planilha com o registro de R$ 245,9 milhões de repasses via caixa 2 para candidatos de diferentes partidos, em eleições entre 2008 e 2014. O material traz nomes, apelidos, cargos disputados e os respectivos valores doados de forma ilegal.
Chamada nos bastidores da Operação Lava-Jato de "tabelão", a lista apresenta parte dos beneficiados com recursos irregulares. A relação tem 27 políticos gaúchos e um diretório estadual de partido entre os destinatários do dinheiro da construtora. Ao todo, teriam recebido R$ 9,6 milhões nas campanhas de 2010 e 2014. Também é mencionado, em 2014, um gaúcho como intermediário da entrega de R$ 4 milhões a um colega do Rio de Janeiro.
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Entregue de forma eletrônica em formato Excel, o documento é uma versão atualizada e refinada de uma planilha encontrada pela Polícia Federal na casa do ex-diretor da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Barbosa Silva Júnior e divulgada em março de 2016. A primeira lista, impressa, com rabiscos à mão e com campos não preenchidos, tinha mais nomes (eram 47 gaúchos entre cerca de 200 políticos de todo o país), mas trazia não só informações sobre repasses de caixa 2, mas também propina ou envio legal de dinheiro, sem distinção. O tabelão de 2017 se concentra nos pagamentos não contabilizados.
Dos 27 políticos do Rio Grande do Sul da segunda versão da planilha, nove estão entre os alvos dos inquéritos abertos pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ou das petições encaminhadas a instâncias inferiores da Justiça. Zero Hora optou por não divulgar os nomes, pois parte dos citados não é investigada até o momento.
Anexado a um dos inquéritos da lista de Fachin, o tabelão cita 179 políticos de 17 Estados, que concorreram em eleições municipais, estaduais e federal. O material entregue pelos delatores foi retirado diretamente do Drousys, sistema que a Odebrecht utilizava para controlar as propinas.
– Os documentos são cópias fiéis, saíram do Drousys, sistema pelo qual a Odebrecht usava para fazer pagamentos de recursos ilícitos, então, são cópias fiéis – explicou aos investigadores Benedicto Júnior.
Responsável pelo departamento de propina da construtora, o ex-dirigente afirmou que seis dos seus subordinados, todos delatores, levavam à empresa os políticos e os pedidos de doações. Eles escolhiam os apelidos, que poderiam ser vinculados a mais de uma pessoa.
– Os seis diretores superintendentes que tinham essa responsabilidade de identificar onde as doações deveriam ser feitas – disse Benecdito.
A planilha também traz o "propósito" do caixa 2: "Disposição para apresentar emendas", "defensor de concessões e privatizações", "político influente em seu partido", "pedido de apoio à sua base de aliados" e "doação a pedido do candidato" estão entre os motivos apontados.
Embora a planilha seja o registro "fiel" dos pagamentos de caixa 2, segundo Benedicto, nem todos os nomes registrados constam em inquéritos ou petições da lista de Fachin. A PGR enviou pedidos de procedimentos ao STF apenas dos casos considerados mais consistentes, corroborados por outros relatos e provas. Advogados e procuradores consultados por Zero Hora avaliam que, conforme o avanço das investigações, outros nomes presentes na relação poderão figurar entre os alvos da Lava-Jato.
– A lista de políticos investigados tende a crescer com o tempo – afirma um especialista.