Na semana em que a greve dos servidores municipais de Cachoeirinha completou um mês, os reflexos da paralisação que teve início em 6 de março podem ser percebidos em escolas, creches e postos de saúde, alterando a rotina da população.
A mobilização luta pela revogação do pacote do prefeito Miki Breier, já aprovado pela Câmara de Vereadores, que prevê cortes e reduções nos benefícios do servidores.
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Na Estratégia de Saúde da Família (ESF) Vereador José Ramos, no Bairro Jardim do Bosque, dos 33 funcionários que atuam na unidade, apenas um está trabalhando. Na entrada, um cartaz avisa que não há agendamento de consulta por "tempo indeterminado". Foi com o que a auxiliar de lavagem de carro Maria Conceição de Lima, 56 anos, se deparou ao chegar na ESF na manhã desta quinta-feira. Ela precisa renovar a receita de cinco remédios para diabetes, colesterol e pressão alta para conseguir retirá-los gratuitamente pela Farmácia Popular.
– Me avisaram que não tem previsão de volta, mas eu não posso ficar sem remédios, vou ter dar um jeito – preocupa-se.
O coordenador da ESF, Altair dos Santos Dapper, afirma que está ali apenas para dar informações para a população, mas que nenhum serviço do posto pode ser oferecido sem a presença de técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos.
No mesmo bairro, a Escola de Educação Infantil (Emei) Beija-Flor do Bosque está completamente fechada. Com atendimento parcial há duas semanas, a escola não recebe mais crianças desde quarta-feira. A diarista Marilu Pereira, 41 anos, ficou sem ter onde deixar a neta Kauani Vitória, cinco anos, que fica em período integral na creche. Nesta quinta-feira, a menina ficou com uma amiga da avó enquanto Marilu trabalhava:
– A cada dia terei que ver um lugar diferente para deixá-la. Não tenho como trabalhar só meio turno. A gente precisa da escola funcionando.
Mãe precisou trocar filha de escola
Após ver a filha perder quase um mês de aula, a gerente de vendas Gisele da Silva Ramos, 36 anos, decidiu trocar Lauryn, 11 anos, de escola e matriculá-la em uma instituição particular.
Estudante da Escola de Ensino Fundamental Getúlio Vargas, no Bairro Vista Alegre, a menina teve aulas em apenas algumas disciplinas. A mãe, após receber a confirmação da escola de que a paralisação não tem data para acabar, decidiu retirá-la do colégio.
Para a família, será um gasto mensal extra de R$ 507 com mensalidade mais o valor do transporte. A família conseguiu os livros e uniforme por doação. A menina começa na escola nova na segunda-feira:
– Fiquei muito preocupada sobre como seria a recuperação dessas aulas perdidas. Essa semana ela não teve aula em nenhum dos dias.
Fim da greve só com revogação do pacote, avisa sindicato
O presidente do Sindicato dos Municipários de Cachoeirinha (Simca), Guilherme Runge, reforça que o fim da greve só ocorrerá com a revogação do pacote – aprovado em votações que ocorreram em fevereiro e na semana passada – e a negociação de direito de compensação dos dias parados, sem o corte do ponto.
– Todos os projetos do pacote diminuem a remuneração do servidor, e o prefeito não se apresenta para negociar. O corte do ponto (de março) aumentou a mobilização.
Segundo ele, oito Emeis estão totalmente paradas e cinco funcionam parcialmente. Entre as unidades de saúde, 13 estão com atendimentos básicos suspensos e outras cinco com atendimento parcial. Das escolas, 80% das de ensino fundamental estão com as aulas comprometidas.
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Pacote prevê economia mensal de R$ 800 mil
A prefeitura, por sua vez, alega que precisa alterar benefícios dos servidores devido à crise nas finanças municipais. As duas medidas mais polêmicas do pacote são a diminuição escalonada por faixa salarial do vale alimentação para salários acima de R$ 2 mil e a revisão do percentual do adicional por tempo de serviço.
Outros itens do pacote preveem também suspensão de adicionais por educação especial e regência de classe e incluem ainda a revisão do adicional de risco de vida e de adicional por responsabilidade técnica.
O governo municipal precisa economizar R$ 4 milhões por mês e, com estas medidas, irá poupar R$ 800 mil mensais. O resto será buscado com medidas administrativas como devolução de imóveis alugados, diminuição de secretarias – de 19 para 12 – corte de Funções Gratificadas (FGs) e Cargos de Confiança (CCs).
A prefeitura alega que o prefeito Miki Breier já se reuniu com o sindicato e que nomeou três secretários para formar uma comissão de negociação com os grevistas. Segundo a posição oficial do governo sobre a greve a "prefeitura não recebeu até hoje nenhuma contraproposta do sindicato". Reforçou que "está aberta a negociação mas não contou com nenhuma contribuição do sindicato até o momento".