Nesta segunda, a aposentada Marinês da Silva, 56, gostaria de ter mostrado os exames para um médico ortopedista. Ao chegar no Centro Especializado em Saúde (CES), cedo da manhã, foi avisada de que não seria atendida e deveria esperar até o final da greve dos médicos para receber uma nova data. Não houve como reclamar e restou a mulher voltar para casa. Simples para quem dá a resposta, complexo para quem a ouve. Desde janeiro, Marinês sofre com uma tendinite no ombro direito, doença geralmente classificada como eletiva, quer dizer, sem gravidade.
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O caso da aposentada é apenas uma amostra de quanto a população tem sido submetida a um sofrimento desnecessário por conta da falta de entendimento entre a prefeitura e os médicos. Diariamente, centenas de histórias se repetem nas unidades básicas de saúde (UBS), no Pronto-atendimento 24 horas (Postão), no CES e no Cais Mental. A aposentada é parte de uma lista de pacientes que só engrossa dia após dia - já são quase 6 mil pessoas que tiveram o atendimento cancelado. É gente que esperava há meses por uma consulta com especialista e só sabe que o atendimento foi cancelado no guichê. São homens e mulheres que enfrentam horas numa sala de espera em busca de uma simples avaliação médica no Postão sem que isso signifique ser recebido por um médico.
– Sem mostrar os exames, não tenho uma receita com remédio que me ajudem. Enquanto isso, fico tomando medicamentos por conta para aliviar a dor – lamenta Marinês.
A aposentada não precisaria lamentar pela confusão instalada na saúde de Caxias. A greve que entrou na segunda semana vem chamando mais atenção pelo desacordo entre Executivo e médicos do que pelo drama de crianças e adultos. Até segunda, uma semana depois do início da terceira greve do ano, mais de 5.900 mil consultas haviam sido suspensas na cidade, o que inclui as unidades básicas de saúde (UBSs), o CES e o Cais Mental.
O secretário da Saúde, Fernando Vivian, não tem uma resposta imediata para amenizar o dilema de milhares de pacientes prejudicados pela greve.
– Somente com o final da greve poderemos colocar em prática uma força-tarefa para atender as pessoas que perderam consultas. Antes disso, é praticamente impossível, pois dependemos dos médicos para atender a demanda – justifica Vivian.
Após o sindicato da categoria ser afastado das negociações com a prefeitura por ordem da Justiça a pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT), o Conselho Municipal de Saúde de Caxias também decidiu agir. Desde segunda, um abaixo-assinado circula por bairros da cidade com a ideia de reafirmar a ilegalidade da greve e buscar o cumprimento dos direitos da população.