Enquanto rega as mudas de morango nas duas estufas construídas pelos próprios apenados na Colônia Penal Agrícola de Charqueadas, Maicon, 23 anos, condenado a 14 anos de pena por assaltos, planta uma nova esperança profissional para quando sair em liberdade. Por iniciativa da Ouvidoria da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, sem contrapartida financeira do governo estadual, articulou-se parcerias com Susepe, Emater e setores privados para viabilizar o projeto Fazenda Modelo, programa autossustentável que completa um ano neste mês. Um dos frutos já colhidos, mesmo sem a primeira safra ter sido colocada à venda, é que o número de reincidências no crime depois que os apenados estão em liberdade é nulo.
– Esta oportunidade é gratificante. Quando estava preso em regime fechado, pensava muito bobagem, inclusive em como poderia voltar ao crime. Agora estou ganhando um salário em que posso estar ajudando minha família e vejo uma oportunidade profissional para quando sair do presídio. Meu pai trabalha com jardinagem e com o que aprendi aqui, tenho certeza que poderei ter uma chance de emprego – conta Maicon.
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Com um investimento de cerca de R$ 9 mil, já foram construídas duas estufas, com 5 mil mudas de morango. A expectativa é de captar cerca de R$ 100 mil com as vendas para, posteriormente, ampliar o projeto construindo mais estufas e alojamentos para oportunizar mais vagas de trabalho e renda a apenados do regime semiaberto.
– O que propomos é a ampliação de um projeto autossustentável e de baixo investimento, que se paga em pouco tempo, porém com alto valor político e social. Com o projeto Fazenda Modelo, vemos a possibilidade de construção de novas vagas no semiaberto. É uma solução viável que contemplaria vários problemas no sistema prisional, como a falta de vagas e, principalmente, de alternativas de mudança no precário tratamento penal – explica a idealizadora do programa Silvana Oliveira, Ouvidora da SJDH.
Primeira produção será colhida em julho O projeto conta com o apoio técnico e acompanhamento da Emater, que treina e capacita os apenados por meio de cursos para trabalhos no campo em setores onde falta mão de obra especializada, além de fornecer certificados aos apenados.
– Inicialmente, fizemos uma vistoria do local e requisição do material necessário para o plantio com qualidade nas estufas. Semanalmente, temos acompanhamento técnico para verificar o andamento do trabalho. A partir de julho, vamos colher a primeira produção de morangos e a expectativa é que entre setembro e novembro cheguemos na alta safra – comenta Letícia de Lima, chefe do escritório da Emater em Charqueadas.
Segundo a Susepe, com o trabalho nas estufas, desde que o Fazendo Modelo começou o número de faltas, ou seja, de penalidades que os presos cometem dentro do presídio e que podem ainda atenuar ou aumentar suas penas, diminuiu consideravelmente.Em reunião prevista para essa semana, o projeto será apresentado para o secretário da Segurança Cezar Schirmer, para que, então, seja encaminhada a ampliação e a continuidade da iniciativa.