O gaúcho Jeferson Rodrigo de Souza Bueno, 29 anos, que atropelou três pessoas na madrugada de Réveillon na praia de Ingleses, em Florianópolis, foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio doloso qualificado, lesão corporal grave e lesão corporal gravíssima pela morte de Cristiane Flores e ferimentos graves em Nilandres Lodi e Gean Matos. Os três estavam na calçada, no primeiro dia do ano, quando foram atingidos pelo Camaro de Bueno, que fugiu do local sem prestar socorro às vítimas.
Além da análise de imagens de câmeras de segurança e tomada de depoimentos, o inquérito foi finalizado baseado na conclusão dos laudos periciais – inclusive de reconstituição do ocorrido – pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), que apontou, entre outros, velocidade acima do permitido por Bueno. O paradeiro dele é desconhecido das autoridades.
No momento do choque, o Camaro dirigido por Bueno seguia a uma velocidade entre 80 km/h e 90 km/h, em uma via onde o máximo permitido é 60 km/h. O inquérito descarta a possibilidade de racha entre o motorista do Camaro e outro homem que guaiava um Audi.
A defesa de Bueno, que segue foragido desde o dia do triplo atropelamento, alega que a culpa pela perda do controle do Camaro é do motorista do Audi, que teria colidido lateralmente no veículo, causando o acidente. O jovem foi ouvido pelas autoridades catarinense, mas não foi indiciado.
A reportagem tentou conversar com o delegado Eduardo Matos, responsável pela conclusão do inquérito, mas ele não atendeu as ligações.
Diretor do Instituto de Criminalística do IGP, Walmir Djalma Gomes Junior, afirma que foram obtidos elementos suficientes, através de vestígios nos veículos, marcas das frenagens e avaliação das filmagens, para interpretar as velocidades e consequentes responsabilidades do ocorrido.
– No momento em que o Camaro bateu ele estava entre 80 e 90 km/h. Aparentemente, eles vinham um ao lado do outro em um primeiro momento, e o Audi ultrapassou o Camaro, numa manobra normal, e depois o Camaro foi ultrapassar o Audi novamente... O Camaro vinha pela pista da direita, e o Audi na esquerda, e quando o motorista do Camaro foi ultrapassar, o motorista do Audi deu sinal, e o Camaro desviou demais para a direita e acabou atingindo um Gol estacionado e, depois, as pessoas na calçada – narra Walmir no que a investigação aponta como a dinâmica do acidente.
O que diz a defesa de Bueno
O advogado Ademir Costa Campana, que defende Bueno, disse ter tomado conhecimento do indiciamento de seu cliente na segunda-feira e ter ficado surpreso pelo fato de o motorista do Audi não ter sido indiciado. Campana afirma que o relatório de indiciamento tem várias contradições, e promete solicitar judicialmente uma nova perícia paralela e particular depois de conversar com a família de Bueno. Mesmo assim, ele entende que a perícia do IGP "está favorável ao seu cliente", mas o indiciamento do delegado Eduardo Matos, "não".
– Há muitas contradições no relatório do inquérito, porque o IGP deixa claro no laudo que o motorista do Audi provocou o acidente, e não o meu cliente. O motorista do Audi iniciou uma manobra e atingiu o meu cliente, que foi arremessado às vítimas. As vítimas, também, estavam em local errado e contribuíram de certa forma para o acidente. Isso está lá, os peritos dizendo como foi, algo que meu cliente vem dizendo desde o início – aponta Bueno, que classifica de "equivocada" a decisão do delegado Matos porque "não houve dolo eventual", mas sim "imperícia, negligência e imprudência por parte do condutor do Audi" .
Campana não soube dizer se Bueno pretende se entregar à Justiça. Falou que mantém contato com seu cliente, e que ele estaria no Brasil. Diz que Bueno não é empresário e foi demitido por justa causa na empresa em que trabalhava por ter se ausentado por mais de 30 dias. Sobre o fato de seu cliente ter fugido do local do atropelamento, explica que Bueno chegou a esperar 20 minutos, pediu para pessoas ligarem para o socorro, mas saiu porque "estava com medo de ser espancado" por populares.
– O erro dele foi não ter se apresentado na delegacia no domingo, porque ele ficou em choque ao ver os corpos lá no chão.
O acidente
Bueno atropelou Cristiane Flores, que morreu no local, o esposo dela, Nilandre Lodi, que teve as duas pernas amputadas e está hospitalizado, e Gean Mattos, que está em coma. O motorista conduzia um Camaro com placas de Sapiranga, no Rio Grande do Sul (RS), onde morava e trabalhava na JCR Metais, empresa especializada na produção de metais para segmentos como calçados e bolsas que tem como sócio um irmão de Jeferson.
Por volta das 3h do dia 1° de janeiro, o carro dirigido por Bueno invadiu a calçada em frente à loja RMS Auto Som, na rodovia Armando Cali Bulos. Nilandre era proprietário do estabelecimento - ele voltou para o Rio Grande do Sul após o acidente - e retornava com a esposa para a casa da família, que fica nos fundos do local. Lá, familiares e os filhos, uma menina de 13 anos e um menino de 5, os aguardavam.
Antes de atingir as três pessoas, o Camaro bateu em um Audi e numa Hilux. Nilandre e Cristiane eram de Passo Fundo (RS) e estavam juntos há 8 anos, três deles morando em Florianópolis.