O diretor do FBI (polícia federal americana), James Comey, pediu ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos que rejeite publicamente as alegações do presidente Donald Trump de que seu antecessor, Barack Obama, teria ordenado o monitoramento dos telefones do republicano, disseram ontem membros do alto escalão do governo. As informações foram divulgadas pelo jornal americano The New York Times.
Até então, nem o FBI e nem o Departamento de Justiça dos EUA comentavam oficialmente o caso. O diretor do FBI teria feito o pedido ainda no sábado, depois que Trump publicou as acusações no Twitter. A intenção seria convencer o departamento a desmentir o presidente em razão da falta de evidências para sustentar as acusações, que implicariam a agência em suposta ação à margem da lei.
A possível divulgação de nota oficial pelo departamento ou por Comey refutando as alegações de Trump seria uma repreensão notável ao presidente, colocando os principais órgãos responsáveis pelo cumprimento das leis nos EUA como questionadores da veracidade de informações do líder do país.
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Ainda assim, a Casa Branca não dá sinais de que Trump que irá recuar de suas afirmações. Também ontem, o bilionário pediu ao Congresso que investigue as escutas "com potencial motivação política", mas não forneceu qualquer tipo de prova da denúncia, negada por um porta-voz de Obama.
O presidente da Comissão de Inteligência da Câmara de Representantes, Devin Nunes, afirmou ontem, em comunicado, que o painel investigará "a resposta do governo dos Estados Unidos às ações de agentes de inteligência russos durante a campanha presidencial". Acrescentou que "a comissão realizará ingestigação sobre se o governo espionou as atividades de dirigentes de campanha de todos os partidos políticos", sem referência específica às denúncias de Trump.
"Terrível! Acabo de saber que Obama fez escutas telefônicas na Trump Tower um pouco antes da vitória. Não encontrou nada. Isso é macarthismo. Aposto que um bom advogado poderia levar adiante um caso pelo fato de que o presidente Obama grampeou meus telefones em outubro, antes da eleição", postou o republicano em uma sequência de mensagens no Twitter, no sábado.
Revide às revelações de contato com russos
"Como o presidente Obama caiu tão baixo a ponto de grampear meus telefones durante o sagrado processo eleitoral. Isso é Nixon/Watergate. Cara mau (ou doente)", escreveu, em referência ao episódio que forçou a renúncia do presidente republicano Richard
Nixon, por ter ordenado espionagem no Partido Democrata, em 1972, quando tentava reeleição.
O porta-voz de Obama, Kevin Lewis, rebateu. "Nem o presidente Obama nem nenhum funcionário da Casa Branca ordenaram espionar qualquer cidadão americano", afirmou em nota à imprensa.
A denúncia de Trump contra Obama ocorre em meio a uma avalanche de revelações sobre os contatos entre funcionários russos e seus colaboradores mais próximos, entre os quais o recém-empossado secretário da Justiça, Jeff Sessions, que, após afirmar no Senado "não ter comunicações com os russos", teve revelados pela imprensa dois encontros com o embaixador de Moscou em Washington, Sergey Kislyak, meses antes das eleições.
Ao menos três comissões do Senado e da Câmara iniciaram apurações sobre a ingerência da Rússia na campanha eleitoral, cujo fim teria sido favorecer a vitória de Trump frente à democrata Hillary Clinton. Por ocultar ter mantido conversas telefônicas com o embaixador russo, o ex-assessor de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, acabou tendo de renunciar em 13 de fevereiro.