Além das lembranças de dias quentes, mar de temperatura agradável e cor cristalina, a temporada de verão está chegando ao fim com um número positivo: as mortes por afogamento apresentaram redução em relação ao veraneio passado. Prestes a ser encerrada no domingo, a Operação Golfinho divulgou dados parciais que apontam queda de 17,6% no número de mortes: foram 70 nesta temporada ante 85 no verão anterior.
O que colabora para a redução é a quantidade de casos ocorridos nas áreas chamadas de "não-balneáveis", que não têm salva-vidas. Em rios, açudes, lagoas e piscinas, houve queda de 29% no número de mortes – foram 56 nesta temporada contra 79 na anterior.
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A explicação, para o chefe de Comunicação do Corpo de Bombeiros, major Everton de Souza Dias, está no trabalho de prevenção.
– Não há número aceitável de mortes, nosso objetivo é que seja zero. Mas temos procurado trabalhar na conscientização, procurando orientar que não dá para se banhar onde não tem salva-vidas – afirma.
Mas nem tudo são boas notícias. Os casos de afogamento mais do que duplicaram em áreas guarnecidas por salva-vidas, o que inclui o Litoral e 41 balneários no interior do Estado. A Operação Golfinho contabilizou 14 mortes de 17 de dezembro até 28 de fevereiro. Na temporada passada, foram seis afogamentos. Uma das explicações para esse aumento está, justamente, nas atraentes das praias gaúchas.
– Mar limpo e quente é um convite a entrar em água. Estatisticamente, com mais gente no mar, maior é a probabilidade de afogamentos – observa o geólogo do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (Ceco) da UFRGS Elírio Toldo.
Em paralelo a isso, a movimentação das ondas também alterou a formação dos buracos e a posição dos bancos de areia, que acabaram ficando mais distantes da beira.
– Tem de entrar no mar como faz alguém que vai detectar um campo minado: perceber os buracos e evitar essas regiões. E, principalmente, não se empolgar com água agradável. A palavra é precaução – recomenda Toldo.
Maioria dos casos ocorreu fora de horário de trabalho dos salva-vidas
Reforçando a hipótese de que as condições do mar atraíram mais gente neste ano, o número de salvamentos também praticamente duplicou, somando 1,5 mil, um aumento de 76% em relação ao último veraneio (851 resgates).
– Teve dias que fizemos mais de 100 salvamentos (a média é de 20 por dia). Foram poucos dias, mas todos eles eram de mar limpo e quente, ou seja, atraente – observa o major Dias.
O major pondera, no entanto, que o verão passado também foi atípico, mas de forma contrária: o número de salvamentos foi bem abaixo da média registrada nos últimos 10 anos, que é 1.628 por temporada. O motivo também tem relação com os fatores climáticos: chuvas intensas, bastante vento e infestação de águas vivas marcaram o veraneio 2015/2016.
Outra explicação para o aumento no número de mortes está na escolha do local de banho: apenas dois casos ocorreram em horário de trabalho dos salva-vidas e próximo às guaritas. Os outros 12 afogamentos ocorreram fora do horário monitorado ou a mais de 150 metros dos postos de observação.
– No próximo ano, estamos pensando em delimitar as áreas de banho, que são de cem a 150 metros para cada lado das guaritas, dependendo da visibilidade do local – afirma Dias.
A partir de segunda-feira, o major não recomenda que as banhistas entrem no mar ou nos balneários porque os 1.084 salva-vidas desocuparão todas as guaritas com o final da Operação Golfinho.
Balanço em números
Temporada 2016/2017
Total de afogamentos: 70
Em áreas sem salva-vidas: 56*
Em áreas com salva-vidas: 14
*Casos por tipo de local:
Rio 24
Lagoa 5
Açude 11
Barragem 4
Arroio 1
Canal 1
Mar 2
Piscina 2
Outros 6
Salvamentos: 1.511
Temporada 2015/2016
Total de afogamentos: 85
Em áreas sem salva-vidas: 79*
Em áreas com salva-vidas: 6
*Casos por tipo de local:
Rio 41
Lagoa 12
Açude 11
Barragens 6
Arroio 2
Canal 2
Piscina 1
Poço 1
Outros 3
Salvamentos: 851
Fonte: Operação Golfinho da Brigada Militar