Com o retorno gradual de policiais militares ao serviço e a presença de tropas federais nas ruas, aos poucos os capixabas tentam retomar a rotina paralisada pela onda de violência da última semana. Apesar da continuidade da paralisação da PM, neste domingo 1.236 policiais atenderam a uma convocação e se apresentaram para trabalhar no patrulhamento de vias em diferentes pontos do Espírito Santo.
Segundo a Secretaria de Segurança do Estado, os policiais trabalharam em dois turnos de oito horas, em viaturas ou a pé. Como na tarde deste domingo entre 200 e 300 PMs se apresentaram sem farda na Capitania dos Portos, em Vitória, o comando da corporação providenciou helicópteros para buscar as vestimentas no Batalhão de Missões Especiais (BME), onde eles estão lotados. Assim, o grupo poderá retomar o trabalho.
As mulheres garantem que o movimento por reposição salarial e melhores condições de trabalho, em especial para os praças, continuará. Na noite de sábado, foram retirados de helicóptero do quartel do Comando Geral da corporação, em Vitória, 70 policiais que desejam regressar às atividades, mas eram impedidos de sair de local.
– A gente precisa ter uma conversa com o governo, ele ainda não se propôs a uma conversa. A gente sabe que muitos dos policiais que se apresentarem sofrem pressão psicológica – afirma Bethyna Nascimento, 21 anos, esposa de um PM.
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Na noite de sábado, foram retirados de helicóptero do quartel do Comando Geral da corporação, em Vitória, 70 policiais que desejam regressar às atividades, mas eram impedidos de sair de local.
Os 1.236 policiais que se apresentaram representam mais da metade dos cerca de 2 mil que vão para as ruas todos os dias em escalas – o efetivo da PM é de cerca de 10 mil homens. Com o regresso gradual, que ainda está concentrado entre oficiais, e o discurso duro das autoridades federais, que prometem não avalizar uma anistia aos grevistas, o governo capixaba espera que a paralisação perca força e seja encerrada em breve.
As negociações com os policiais e famílias devem ser retomadas, porém o Estado já anunciou que só poderá discutir um eventual reajuste a partir de abril caso haja margem para o aumento, respeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Na Grande Vitória, ainda são vistas poucas viaturas pelas ruas. Zero Hora rodou por mais de duas horas pela capital e viu apenas duas viaturas. A maior parte das patrulhas e abordagens é feita pelas Forças Armadas e Força Nacional, que empregam um efetivo de 3,1 mil homens.
Na manhã deste domingo, uma caminhada pela paz, com as pessoas vestidas com roupas brancas, foi realizada pela orla da praia de Camburi, tradicional local de lazer em Vitória. No mesmo local, um jipe do Exército dotado de equipamento de som circulava com mensagem de incentivo aos moradores.
– Sociedade capixaba, as Forças Armadas e a Força Nacional estão presentes em seu bairro para garantir a sua segurança e a de sua família. Trabalhe – repetia o áudio.
A expectativa dos governos estadual e federal é ver a rotina quase restabelecida na região metropolitana nos próximos dias. Neste domingo, algumas linhas de ônibus funcionam das 7h às 17h, sendo que militares garantem a segurança nos terminais e revistam passageiros nos coletivos.
A quantidade de pessoas e carros circulando aumenta de forma gradativa desde a quinta-feira. Os irmãos Leandro e Leonardo Barbosa saíram com os filhos de casa pela primeira vez em uma semana.
– A realidade do capixaba não tem assaltos, saques em lojas, não é uma realidade de medo. Foi um ponto fora da curva – garante Leonardo.
Nas praias da Grande Vitória muitas pessoas caminham, praticam esportes e aproveitam o mar. Analista de sistemas, Maria Angélica Leitão, 60 anos, aproveitou o domingo para voltar ao vôlei de praia em Camburi.
– Tenho uma turma que joga há 30 anos. Jogo todos os dias, mas fiquei uma semana sem poder vir à praia – conta.
Os homicídios seguem altos nas cidades capixabas, mas estão em queda. Conforme o Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sindipol-ES), foram registrados 10 assassinatos no Espírito Santo no sábado. Na segunda passada, foram 40. Ao total, são 144 mortes nos noves dias de greve.
Para auxiliar na retomada da rotina dos capixabas, a diretoria da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Espírito Santo (Fecomércio-ES) soltou um comunicado, no qual incentiva o reabertura das lojas, serviços de turismo e a retomada das aulas a partir de segunda-feira.
Em nota, o pedido é descrito pela entidade "como um voto de confiança às autoridades militares". A Fecomércio ainda diz que "os empresários devem voltar ao trabalho munidos de coragem, guarnecidos que estarão pelas forças federais, preparadas para repelirem toda a sorte de desordem praticadas por pessoas irresponsáveis".
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