Ao longo da década de 1990, diversas tentativas de fugas por túneis foram descobertas pelas autoridades no Presídio Central e na Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC). A construção de passagens era tão corriqueira naqueles anos que os diferentes flagrantes, dentro de uma mesma cadeia, chegavam a ocorrer em dias subsequentes.
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Confira casos abaixo:
Junho de 1990
Descoberto túnel que alcançava 4 metros de comprimento na Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC). À época do flagrante, as escavações duravam duas semanas, comandadas por 10 detentos que usavam colheres, latas, canecas e pratos. Agentes penitenciários acabaram desvelando a trama de fuga. O traçado não levaria o túnel para fora do presídio, mas para a área do banheiro da galeria. O plano seria surpreender os guardas no momento da revista noturna, com a tentativa de uma fuga forçada. O túnel estava localizado abaixo de uma das camas dos detentos, protegido apenas por uma placa de concreto. À época, o diretor da PEC, Alberto Gartner, disse ter desconfiado do "silêncio que há dias perdurava". Determinou varredura no presídio, com o auxílio da Brigada Militar, que culminou frustrando o plano de fuga dos detentos.
Junho de 1991
Foi descoberto um túnel cavado a partir do do banheiro coletivo do pavilhão B da Penitenciária Estadual de Charqueadas. Os detentos de uma cela planejavam usar o vão para alcançar o pátio e, depois, pular o muro. A direção da cadeia tinha a informação da trama de fuga, mas não conseguia localizar a passagem. O diretor, então, prometeu um frango assado a dois detentos que trabalhavam na horta. Eles escavaram pelas áreas da cadeia e acabaram descobrindo a rota.
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Maio de 1992
Por dois meses, 97 detentos do pavilhão D do Presídio Central escavaram passagem subterrânea que atingiu mais de 35 metros de comprimento. Agentes passaram a desconfiar da quantidade de lavagens que os detentos vinham fazendo no corredor. Uma vistoria foi feita na galeria e o plano terminou aniquilado.
Julho de 1993
Desvendada na Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC) uma passagem subterrânea com 18 metros de comprimento. O buraco se iniciava sob o piso do banheiro de uma cela da galeria E. Havia rede de iluminação e a remoção da terra foi feita com pás improvisadas.
Novembro de 1993
Na Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC), agentes descobriram dois túneis. O primeiro tinha mais de 50 metros de comprimento e se interligaria a outro que não teve as dimensões divulgadas. O plano era escavar até o lado externo da cadeia, passando embaixo do muro. Faltaram cerca de 20 metros de escavação para atingir o objetivo de fuga. A direção da PEC estimou que 60 presos poderiam ter escapado pela rota.
Dezembro de 1993
No início daquele mês, dois túneis foram descobertos no Presídio Central, em Porto Alegre. Um deles ficava no pavilhão D, onde chegou a ser cavada uma rota de escape com 10 metros de comprimento e 50 centímetros de diâmetro. Pelo menos 50 apenados poderiam fugir pelo local. O segundo túnel tinha início no pátio onde os detentos do pavilhão B tomavam banho de sol. À época, estimou-se que 350 poderiam usar a rota de fuga, que tinha um metro de diâmetro. Esse segundo túnel teria 40 metros de comprimento, informaram autoridades na ocasião. Ele levaria até a horta do Presídio Central, separada da rua por um muro de 10 metros. A descoberta ocorreu após denúncia anônima de um apenado. Nesse mesmo mês, outra passagem foi desvelada na galeria C do Presídio Central. O vão, com cerca de um metro de diâmetro e comprimento não informado, chegou a ser invadido pela água de um poço instalado nas proximidades, destinado justamente a dificultar as fugas.
Janeiro de 1994
No Presídio Central, agentes penitenciários descobriram um túnel com cerca de 80 metros de comprimento. A estimativa é de que 600 presos poderiam escapar. A estrutura contava com energia elétrica e começava no pátio da galeria D. A descoberta ocorreu quando um agente desconfiou da aglomeração de detentos em um local do pátio.
Fevereiro de 1995
Em dois dias consecutivos, um par de túneis foi descoberto naquele mês. Primeiro, agentes penitenciários do Presídio Central descobriram uma escavação de 25 metros de comprimento e 80 centímetros de diâmetro. A estrutura contava com energia elétrica e um ventilador para aplacar o calor durante o trabalho. O buraco havia passado por 12 dias de perfuração a partir do pátio do pavilhão C, que abrigava 425 presos. A direção do presídio disse, à época, que o objetivo dos detentos seria chegar à Vila Clarel, nos arredores da cadeia. Depois, foi encontrado outro túnel com 65 metros de extensão e 90 centímetros de diâmetro. Por ele, poderiam escapar 329 presos do pavilhão B, que era controlado pela facção Falange Gaúcha. A perfuração era feita à noite e os detentos contavam com diversos ventiladores e bicos para colocação de luz. Pás foram improvisadas com o uso de tampas de panelas. A escavação foi interrompida a poucos metros de distância do muro que separa a penitenciária da calçada externa. Nos episódios de fevereiro de 1995, 44 presos chegaram a fugir do Presídio Central. Caçados pelas ruas do Estado, foram recapturados integralmente nos dias seguintes. O episódio foi determinante para que o Palácio Piratini decidisse colocar a Brigada Militar para controlar e administrar a cadeia. A medida deveria se estender por seis meses, mas perdura até hoje, 22 anos depois.
Maio de 1995
Em uma sequência de dias conturbados no Presídio Central, marcados por rebeliões, destruição de três galerias, suspensão de visitas e protesto dos parentes dos detentos, acabou sendo descoberto um túnel no pátio do pavilhão D. A rota ainda estava em fase inicial de construção. Nesse mesmo mês, outro túnel, este de 35 metros de comprimento, foi descoberto no pavilhão C da cadeia. A Brigada Militar recebeu a informação sobre o caso e fez vistoria no local.
Julho de 1995
Cavado no pátio do pavilhão B do Presídio Central, um túnel atingiu cerca de 5 metros de comprimento com o uso de ferramentas como canecas e pratos. Cobertores e roupas foram usados para disfarçar o ponto de partida da escavação.
Setembro de 1995
Detentos interligaram duas galerias do pavilhão B, estendendo o túnel da cantina até o pátio do pavilhão D do Presídio Central. Neste ponto, a escavação chegou a galerias de esgoto. Três apenados conseguiram fugir pela estrutura à época. Nas tubulações subterrâneas, eles percorreram cerca de 200 metros até uma boca-de-lobo que permitiu ao trio chegar à calçada externa do presídio. No momento da descoberta da rota pela Brigada Militar, que recentemente havia assumido a administração e segurança do Presídio Central, outros 120 presos já estavam no túnel, em ação de fuga quando foram flagrados naquela que poderia ter sido a maior da história.
Fevereiro de 1996
Foi descoberto no Presídio Central um túnel que estava sendo escavado a partir do refeitório do pavilhão C. Uma denúncia anônima por telefone levou o caso a ser desvelado. Quando descoberta, a rota tinha 20 metros de extensão e se comunicava com outro túnel mais antigo que levava ao pavilhão B e à rede de esgoto. Cerca de 10 apenados trabalhavam na empreitada e, conforme autoridades declararam à época, havia pagamento de salário para quem atuasse na escavação. Estimou-se que 450 apenas poderiam ter escapado.
Junho de 1998
Força-tarefa da Brigada Militar descobriu um túnel de 6 metros de comprimento no pátio da galeria C do Presídio Central. A escavação, feita com colheres e barras de ferro, se prolongou por nove dias antes de ser desvelada. O objetivo dos detentos era alcançar uma rua lateral à penitenciária. A trama foi desfeita porque guardas desconfiaram da movimentação incomum no ponto de partida do túnel. Barulhos também chamaram atenção.
O mais famoso dos túneis no RS
- O objetivo não era fugir da prisão, mas a prática era igualmente delituosa. Liderando a Operação Facção Toupeira, a Polícia Federal prendeu, em setembro de 2006, homens que trabalhavam na escavação de um túnel de mais de 100 metros que iria ligar um prédio, na Rua Caldas Junior, às agências do Banrisul e da Caixa Econômica Federal, no centro de Porto Alegre.
A quadrilha, integrada por 26 pessoas que atuaram por seis meses, planejava praticar um assalto para arrecadar R$ 200 milhões nas agências centrais dos dois bancos, separados por poucos metros no Centro da capital gaúcha. A ação era planejada por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa que nasceu em São Paulo.
O bando era organizado e com fartos recursos: investiu R$ 1,2 milhão para comprar um edifício na Caldas Junior, onde simulava uma reforma dos sete andares enquanto, na verdade, escavações eram feitas com o objetivo de surrupiar milhões. Alguns dos detidos pela Operação Facção Toupeira foram suspeitos de participar do exitoso ataque ao Banco Central, em Fortaleza, que terminou com a tomada de R$ 164,7 milhões em agosto de 2005.
Veja fotos do túnel encontrado nesta quarta-feira próximo ao Presídio Central