Por Eduardo Athayde
Diretor do Worldwatch Institute (WWI) no Brasil
Quando a ONU realizou a primeira Conferência sobre o Meio Ambiente Humano (1972), em Estocolmo, as consequências da degradação ambiental para um planeta com 3 ,7 bilhões de habitantes foram destacadas. Em 1987, com 5 bilhões de habitantes, a ONU publicou o relatório intitulado Nosso Futuro Comum, afirmando que o desenvolvimento deve satisfazer às necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das futuras gerações. Hoje, com uma população de 7,3 bilhões de seres humanos, 59% vivendo em cidades, as discussões globais estão focadas no ambiente urbano. Viramos seres urbanos liderando uma economia planetária.
Impactada pelo crescimento desenfreado, a civilização humana dedicou um encontro ao tema pela primeira vez na história, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco 92 (1992), no Rio, onde o conceito de “Desenvolvimento Sustentável” foi oficializado como senso comum. Entre a Eco 92 e a Rio+20 (2012), em apenas duas décadas, acrescentamos mais 1,6 bilhão de habitantes/consumidores e mais 50 trilhões de dólares em PIB, ao planeta. Como civilização, continuamos a crescer a um ritmo acelerado de 80 milhões de habitantes por ano.
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A velocidade do crescimento impacta a todos. Em 1804, atingimos o primeiro bilhão de seres humanos. Cento e trinta anos depois, em 1934, atingimos o segundo bilhão e, de lá para cá, aceleramos a um ritmo desenfreado, acrescentando ao planeta mais 5 bilhões de novos habitantes/consumidores em apenas oito décadas. Em 1900, cerca de 150 milhões de pessoas moravam em cidades. Em 2000, eram 2,8 bilhões. Desde 2008, mais de 50% da população da Terra vive amontoada em cidades, fazendo dos humanos uma “espécie urbana” cada vez mais imobilizada. No Brasil já somos 84% urbanos e, segundo o IBGE, seremos 90% em 2020. Hoje, a velocidade dos carros nas grandes cidades é igual à das carruagens, literalmente puxadas a “dois cavalos” de força, do início do século 20.
O Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015 por 195 países, entrou em vigor em 4 de novembro de 2016, inclusive no Brasil, determinando a descarbonização da economia, uma imperiosa necessidade que, dentre muitos benefícios para pessoas, cidades e o planeta, implica um robusto e lucrativo negócio, com investimentos iniciais de US$ 100 bilhões/ano, começando pela eficiência energética. O novo presidente americano, Donald Trump, com a força que tem, terá que observar o que ensina o provérbio chinês: “Existe a sua verdade, a minha verdade, e a verdade verdadeira” – essa última move o mundo.
Desregrado, o mundo faz rebrotar o modismo do “compliance”, que nada mais é do que a busca da conformidade, governança baseada no respeito às regras, um dos pilares do desenvolvimento equilibrado, também chamado de sustentável. O novo relatório internacional do Worldwatch Institute, Cidades Podem Ser Sustentáveis? (452 páginas), publicado há 33 anos consecutivos em 20 idiomas, e cuja edição deste ano está sendo traduzida para o português, mostra, com fatos e dados, inclusive virtuais, iniciativas exitosas de cidades do mundo focadas no bem estar das pessoas, a chamada sustentabilidade de resultados, com projetos, orçamentos, prazos e entregas. Sem métricas quantificáveis, ficamos apenas no blá-blá-blá da sustentabilidade.
Neste novo espaço de nuvens virtuais que conecta o dia a dia frenético de 3,7 bilhões de pessoas internetizadas (só o Facebook tem 1.2 bilhão de conexões) onde smartphones passaram a ser uma espécie de extensão digital do corpo humano, a ecologia interior das pessoas, das casas, das famílias, dos amigos e do trabalho reclama o seu espaço, buscando ambientes sadios e uma cultura da paz.