Para celebrar a pluralidade de temas e visões presentes todos os dias em suas edições impressa e online, Zero Hora homenageou mais de cem profissionais no evento Opinião ZH – Encontro dos Colunistas, realizado nesta quinta-feira no Gaúcha Sports Bar, em Porto Alegre. Pelo segundo ano consecutivo, titulares de espaços dedicados a política, economia, cultura, esportes e comportamento, entre jornalistas do Grupo RBS e colaboradores externos de diferentes áreas, puderam se reunir para trocar ideias e confraternizar durante um coquetel.
Nomes bem conhecidos e admirados pelos leitores, como Luis Fernando Verissimo, Martha Medeiros, Rosane de Oliveira, Tulio Milman, Fabrício Carpinejar, Roger Lerina, J.J. Camargo, Lya Luft e Diogo Olivier, estavam presentes – David Coimbra fez uma participação via Skype, direto dos Estados Unidos. Cada colunista recebeu um livro personalizado, com uma compilação de seus textos publicados ao longo do ano. Diretora de Redação de ZH, Marta Gleich deu as boas-vindas aos convidados.
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– Que coisa boa celebrar o ano, por mais difícil que tenha sido. Que bom que a gente está junto de novo – saudou Marta. – Esse foi um ano realmente complicado, mas este grupo de colunistas não tem do que se queixar. Assunto não falta, e vocês repercutiram muito bem esses temas nas suas colunas – completou.
Marta enumerou algumas das conquistas de ZH em 2016, destacando o prêmio da International News Media Association (INMA) conferido ao ZH Tablet, o crescimento de 58% no número de assinaturas digitais e os lançamentos da Superedição de final de semana e do novo posicionamento do jornal.
– Nosso posicionamento, "Perto para entender. Junto para transformar", tão importante, tem vocês no coração: proximidade e exclusividade é o que nossos colunistas entregam. Como isso é relevante para a comunidade! Em 2017, queremos que vocês continuem entregando esse conteúdo de qualidade ao público – disse a diretora de Redação.
Polarização da sociedade exige uma equipe plural
Presidente do Grupo RBS, Eduardo Sirotsky Melzer exaltou a composição variada do time de colunistas.
– Nosso processo de diferenciação na RBS é marcado pelo jornalismo de qualidade, que passa diretamente por cada um de vocês. É aqui que a gente se diferencia, nessa pluralidade de opiniões, nessa visão ampla que temos na ZH todos os dias. Temos a convicção e o orgulho de que a ZH tem o melhor grupo de colunistas do Estado do Rio Grande do Sul e um dos melhores grupos de colunistas do Brasil – afirmou Eduardo.
Andiara Petterle, vice-presidente de Jornais e Mídias Digitais do Grupo RBS, também ressaltou a importância de um elenco tão diversificado, essencial para que seja possível dar conta de uma época marcada pela polarização:
– Precisamos ser capazes de refletir todas as vozes com o máximo de equilíbrio possível. Não consigo enxergar um futuro para o jornalismo que faça diferença no Rio Grande do Sul que não passe por um quadro de vozes plurais, relevantes, próximas, engajadas na transformação. Não é só dar a informação, é realmente estar disposto e disponível para fazer a diferença.
Além de um show de humor com o chargista Iotti, criador do personagem Radicci, a plateia assistiu a uma série de breves entrevistas, conduzidas pelos colunistas e jornalistas de ZH Cláudia Laitano e Paulo Germano, com as previsões de alguns dos convidados para 2017. Em pauta, Operação Lava-Jato, Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, dupla Gre-Nal e economia brasileira. A escritora Lya Luft, de volta ao jornal, foi questionada sobre o segredo para se manter o otimismo em um ambiente em que tudo parece conspirar para o pessimismo.
– Sou normalmente uma pessoa bastante otimista, mas confesso que vamos precisar de muita meditação, se pegar a si mesmo no colo, curtir um dia bonito, as nuvens, as flores. Senão, não aguentamos. Vai ser um ano ainda de muita trepidação. Estamos em uma gangorra: otimismo e pessimismo, esperança e desespero. Espero que melhore um pouco. A gente merece. O povo brasileiro já sofreu demais – refletiu Lya.
VEM, 2017
Durante o evento, os colunistas Paulo Germano e Cláudia Laitano questionaram alguns dos colegas sobre o que esperar do próximo ano (ou como encará-lo). Confira as respostas.
Martha Medeiros
Muita gente tem dito que o avanço da onda conservadora no mundo tem muito a ver com os excessos do politicamente correto. Você concorda?
"Acho que é cíclico. O conservadorismo é o medo de mudança, uma reação defensiva contra aquilo que não conhecemos bem. E estamos vivendo uma era em que discutimos liberdade de gênero, por exemplo. Os pilares da sociedade já não são os mesmos. Antigamente, o divórcio era um fracasso, hoje é consequência natural de um casamento. Tudo isso deixa a sociedade insegura, e acabamos elegendo líderes retrógrados que prometem manter as coisas como estão. Em 2017, precisamos ouvir os jovens."
Lya Luft
Qual é o segredo para manter o otimismo em 2017, em um ambiente em que tudo parece conspirar para o pessimismo?
"Sou normalmente uma pessoa bastante otimista, mas confesso que vamos precisar de muita meditação, se pegar a si mesmo no colo, curtir um dia bonito, as nuvens, as flores. Senão, não aguentamos. Vai ser um ano ainda de muita trepidação. Estamos em uma gangorra: otimismo e pessimismo, esperança e desespero. Espero que melhore um pouco. A gente merece. O povo brasileiro já sofreu demais."
Humberto Trezzi
Quais são as três medidas práticas que podem melhorar a segurança pública em 2017?
"Depois deste annus horribilis, se os governantes implementarem parte do que estão cogitando em 2017, já teremos um ano melhor. Seja a finalização prevista de grandes presídios, que estão se arrastando desde 2007, seja a nomeação de policiais concursados, que estão aguardando. Ministério Público e Justiça devem conversar com líderes das facções que estão enclausurados nos presídios e convencê-los a depor armas. Eles têm um pacto de não agressão nos presídios, mas a violência ocorre nas ruas. Parece a falência do Estado de direito, mas é a realidade do submundo."
Diogo Olivier
Será que Renato Portaluppi vai ficar como técnico do Grêmio?
"Se direção, jogadores, torcida, Carol, os quero-queros da Arena e o próprio Renato querem que ele fique depois da consagração com o penta da Copa do Brasil, só um grande desacerto financeiro o tiraria do Grêmio em 2017. As chances de disputar título na Libertadores contratando reforços pontuais são interessantes. O time está entrosado e pronto. Todo técnico sonha com uma situação assim. Pedirá reajuste gordo, disso não tenho a menor dúvida. É um direito seu."
Luiz Zini Pires
O Inter vai cair para a segunda divisão? O que o clube deve fazer se cair?
"A tendência é de cair. Seu futuro está nas mãos nada confiáveis de terceiros, Figueirense e Palmeiras, o que agrava o quadro. A queda é sinal de uma série de problemas, que passa por más gestões, contratações equivocadas, trocas constantes de treinadores e gastos sem noção. Como futebol é cíclico, um período na Segundona pode ser benéfico para a reestruturação do Inter. O Corinthians caiu em 2007. Foi campeão do mundo cinco anos depois. Há lições importantes na Série B. Aprende quem quer."
David Coimbra
O que os americanos estão esperando do primeiro ano do Trump na presidência do país?
"Cada povo tem o seu tipo de populismo. No Brasil, espera-se que o populista seja o pai dos pobres e dê coisas aos pobres. Nos EUA, o que esperam é que o populista faça com que o americano médio enriqueça, que ganhe dinheiro com o seu trabalho, com suas possibilidades. Trump foi eleito por causa disso, porque é um vencedor, um bilionário."
Rosane de Oliveira
Até onde pode chegar a Lava-Jato em 2017?
"Tenho a impressão de que a cor de 2017 vai ser verde-água, que é a cor do uniforme da Adriana Ancelmo e de Sérgio Cabral no presídio. Isso diz muito sobre 2016. Nunca imaginamos que pessoas como eles pudessem sair dos salões de Paris para um presídio de Bangu. Até onde vai 2017? Respondo com o que ouvi do procurador Deltan Dallagnol. Questionado sobre até onde vai a Lava-Jato, ele disse: "Até onde eles tiverem ido". Certamente, teremos grandes emoções em 2017. A delação do fim do mundo, que é a delação da Odebrecht, vai sacudir muito o país, e para isso não é preciso ter bola de cristal."
Fabrício Carpinejar
Qual é o conselho que você dá para as pessoas manterem seus casamentos em 2017? O que temos de fazer para segurar o bem-amado no próximo ano?
"Para manter o relacionamento, tem de encontrar a chinelagem na sua alma, admitir que é chinelão. Quem é chinelão não se separa. O chinelão trará humildade e humor para a vida a dois. Quem é muito chique e elegante será soberbo, prepotente, sério. Se é chinelão, terá senso de humor, vai rir de si mesmo e compreender os defeitos do outro. Generosidade é saber que o casamento não é uma disputa: ser melhor para o outro, e não melhor do que o outro. No casamento, precisamos somar a nossa humanidade. O riso sempre é a melhor soma."
J.J. Camargo
O que é pior para a saúde: preguiça ou mau humor?
"Os dois são criaturas realmente danosas. Mas esses compartimentos não são estanques. Tem coisas que foram produzidas na preguiça que são delícias. Por exemplo, Dorival Caymmi compôs as coisas mais lindas deitado na rede. O outro tipo também é variável. O que me preocupa em relação ao mau humor é o que tem por trás disso. O que significa uma pessoa estar permanentemente mal-humorada? Ela certamente está fazendo uma coisa de que não gosta, e isso compromete o seu desempenho. Então, contraindicaria os dois com uma margem de tolerância para conviver com eles."
Tulio Milman
Qual é a primeira coisa que o novo prefeito, Nelson Marchezan, deve fazer quando assumir a prefeitura?
"A primeira coisa que o novo prefeito deve fazer ao assumir é conhecer e ouvir os servidores. São eles que tocam ou emperram a máquina. Ter uma relação direta e transparente é fundamental para contar com uma equipe motivada."
Marta Sfredo
Como está a perspectiva para 2017 na economia?
"Sou relativamente otimista, mas nem meu otimismo está resistindo muito bem às provas que temos enfrentado. Estamos passando por uma semana de projeções para o ano que vem, e a grande maioria aponta que, se não houver um susto muito grande – mas a "delação do fim do mundo" (da Odebrecht) não está nessas contas –, em 2017 a gente termina a fase de recessão. Mas essa é a projeção de agora, 8 de dezembro. Em meia hora, tudo pode mudar. Com menos preguiça e menos pessimismo, a gente enfrenta 2017."