Cerca de 3,2 mil pessoas alinhavam-se em uma longa fila no pátio da Engevix Construções Oceânicas (Ecovix), no Estaleiro Rio Grande, segunda-feira pela manhã. Para percorrê-la do início ao fim, levava-se mais de sete minutos, a passos largos.
Quem a compunha eram os trabalhadores da companhia que recém haviam recebido a notícia da demissão em massa da empresa que um dia representou uma promessa de prosperidade para esses homens e mulheres prestes a assinar a sua rescisão. Diante de um sonho que ruía, muitos choravam.
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Debaixo dos macacões de cor cinza característicos da companhia, não estavam somente trabalhadores que "amarravam a lata" – gíria dos metalúrgicos para demissão. Perfilavam-se famílias endividadas, em dúvida quanto ao futuro.
– O polo naval veio como uma promessa de 20 anos de trabalho, de se aposentar trabalhando lá. Viriam novos contratos... Mas aconteceu o que aconteceu. É um investimento grande demais para se deixar ali enferrujando – lamenta Cristiano Hernandes, montador da Ecovix até segunda-feira.
O rio-grandino de 30 anos chegou às 6h30min, como de costume, no estaleiro que o empregava fazia mais de dois anos. Estava pronto para trabalhar. Não acreditava no rumor que circulava desde sexta-feira, de que todo o quadro de funcionários seria dispensado em razão da crise financeira na empresa.
Hernandes guardava a esperança de que a assembleia marcada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande para as 7h30min anunciaria a retomada da construção dos cascos para plataformas da Petrobras. Previa que uma maré de boa sorte atingiria o estaleiro que viu nascer na cidade – mas não foi o que aconteceu.
Com a surpresa da demissão, antevê dificuldades para quitar as oito prestações do carro comprado recentemente e pagar em dia as contas da casa de madeira que vive com a mulher e o filho, de dois anos.
O desligamento em massa do maior complexo em atuação na zona sul do Estado causou surpresa.
– Foi um tapa na cara para todo mundo. Pela situação que estava a empresa, sabíamos que aconteceria uma hora ou outra. Mas não que fosse assim, agora, todos de uma vez só – conta o baiano Joel da Costa, 26 anos, funcionário da Ecovix desde 2012.
O jovem representa a desesperança de milhares de trabalhadores nordestinos que atravessaram o país em busca de uma oportunidade de emprego. Agora, sem o salário de R$ 3,3 mil mensais, planeja voltar para a cidade natal de Coração de Maria em busca de serviço. Sem um posto no polo naval, não há mais nada que o prenda a Rio Grande.
– Da minha equipe, só eu sou de fora (do Rio Grande do Sul). Fiquei muito triste, mas a minha tristeza não se compara nenhum pingo à tristeza dos meus colegas que são daqui. Todos eles são pais de família, estão pagando carro e casa que financiaram... É triste. Sinto mais por eles do que por mim – afirma.
O colega também baiano Emerson Santos, 29 anos, com quem dividiu o aluguel de casas durante todo o tempo em que esteve na cidade, tem planos diferentes. Vai permanecer no município em razão da promessa de que o estaleiro vizinho, a QGI Brasil, efetue contratações para a construção de plataformas.
– Não caiu a ficha ainda, não – diz Santos.