Em acordo de delação premiada ao Ministério Público Federal, o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho relatou a atuação da empreiteira no Congresso, em especial com parlamentares do PMDB, para garantir interesses da empresa. No depoimento, cita o presidente Michel Temer (PMDB), os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e mais 20 políticos, entre eles ministros do núcleo duro do governo. As informações são do Jornal Nacional.
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O executivo também listou as medidas de interesse da Odebrecht que foram defendidas pelo grupo: regimes tributários, regulação de concorrência, parcelamento de dívidas com o governo e o regime especial para a indústria petroquímica.O delator aponta o presidente Michel Temer, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, como os principais articuladores em favor dos interesses da empreiteira na Câmara dos Deputados. As informações são do Jornal Nacional.
Segundo a reportagem, Temer agia "de maneira mais indireta" na articulação para pedir apoio financeiro ao partido. A única vez que o presidente teria solicitado pessoalmente dinheiro para campanha eleitoral foi em 2014, em jantar com a presença de Marcelo Odebrecht. ex-presidente da construtora. Temer teria pedido R$ 10 milhões, dos quais R$ 6 milhões seriam para a campanha do candidato do PMDB ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, e R$ 4 milhões para Eliseu Padilha.
Conforme o depoimento, Padilha seria o principal responsável por falar com agentes privados e "centralizar" as arrecadações financeiras ao partido na Câmara. Segundo o delator, Padilha recebeu cerca de R$ 1 milhão que teria como destino o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Segundo o relator, Rodrigo Maia teria sido outro integrante da Câmara a receber recursos da empresa. O executivo afirmou que a Odebrecht pagou R$ 100 mil ao parlamentar.
No Senado, segundo o delator, o núcleo de atuação do PMDB era liderado pelo atual líder do governo, Romero Jucá (RR) – principal responsável pela arrecadação de recursos financeiros do partido na Casa e distribuidor das verbas para campanhas eleitorais, segundo a reportagem –, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE). Melo Filho afirmou que, desde 2004, participou de pagamentos a Jucá "que hoje superam R$ 22 milhões".
O executivo teria afirmado que Jucá e Marcelo Odebrecht eram responsáveis pela aprovação das contribuições. Esses repasses eleitorais eram "definidos, medidos e decididos de acordo com a relevância dos assuntos de interesse da Odebrecht defendidos pelo senador".O delator teria destacado que ao conversar com Jucá tinha certeza que estava falando também com Renan e Eunício. Melo Filho também afirmou que R$ 500 mil foram repassados para Renan.
Melo Filho teria dito que ficava entendido que os apoios aos interesses da empresa seriam posteriormente proporcionados no valor estabelecido para contribuição de campanha eleitoral, tanto oficial quanto caixa 2.
No depoimento, também foram citados Jaques Wagner (PT-BA), Antônio Palocci (PT-SP),Ciro Nogueira (PP-PI), Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), Gim Argello(PTB-DF), José Agripino Maia(DEM-RN), Marco Maia (PT-RS)e Kátia Abreu (PMDB-TO).
Contrapontos
Michel Temer, presidente da República "Repudia com veemência as falsas acusações. As doações feitas pela Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente."
Paulo Skaf, presidente da Fiesp e candidato do PMDB ao governo de SP em 2014 "Nunca pediu e nunca autorizou ninguém a pedir qualquer contribuição de campanha que não as regularmente declaradas em suas prestações de contas. Todas as contas de campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral."
Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil "É mentira. Não fui candidato em 2014!Nunca tratei de arrecadação para deputado sou para quem quer que seja."
Moreira Franco, secretário de Parcerias de Investimentos do governo Temer "Jamais falei de política ou de recursos para o PMDB com Claudio Melo Filho."
Romero Jucá,senador pelo PMDB-RR "Nega que recebesse recursos para o PMDB. Esclarece que todos os recursos da empresa ao partido foram legais eque, na condição de líder do governo,sempre tratou com várias empresas, mas em relação à articulação de projetos que tramitavam no Senado."
Renan Calheiros,senador pelo PMDB-AL "Jamais credenciou, autorizou ou consentiu que terceiros falassem em seu nome em qualquer circunstância."
Rodrigo Maia, deputado pelo DEM-RJ Em nota, a assessoria do parlamentar afirmou que todas as doações foram legais e declaradas no TSE.