A caminho de Itajaí, onde desembarca nesta quinta-feira, a tripulação do barco Alemão Pescados ainda tenta entender o acidente que tirou a vida do colega Linaldo Galdino de Brito, 32 anos, vítima de uma mordida de tubarão no convés da embarcação. O acidente ocorreu na costa do Rio Grande do Sul, na terça-feira.
Segundo o dono do barco em que Linaldo trabalhava, o armador Luiz Augusto Coelho, o pescador era experiente na profissão, porém era novato no grupo: havia se juntado à tripulação apenas sete dias antes, para uma viagem que duraria três semanas.
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Ele estava a cerca de 180 milhas náuticas de distância do litoral – o que equivale a 335 quilômetros – a leste de Rio Grande. Foram acionadas equipes da Marinha e da Força Aérea Brasileira (FAB), mas o socorro não chegou a tempo de salvá-lo.
A pescaria foi interrompida antes do tempo em razão da morte do colega. Os peixes capturados pela longa linha de espinhel, modalidade de pesca de tubarões e atuns, foram largados em alto-mar para que outro barco os recolha.
O comandante da embarcação decidiu voltar ao porto de origem, e o desembarque deve ocorrer na Delegacia da Capitania dos Portos de Itajaí na noite de quinta-feira. Dali, a empresa pesqueira levará o corpo de avião até a Paraíba, onde vive a família de Linaldo. O translado deve ser imediato.
Dono do barco, o armador Luiz Augusto Coelho diz que nunca ouviu falar de um acidente como esse. Por rádio, os pescadores que estavam com Linaldo no barco disseram a Luiz que o tubarão que atacou era da espécie anequim, conhecida pela agressividade, e que o acidente ocorreu durante a operação para retirar o animal da água. Foi nesse momento que o tubarão mordeu a panturrilha de Linaldo.
Em nota, a Marinha informou que o pedido de socorro por rádio foi feito às 10h de terça-feira, e que orientações médicas foram repassadas imediatamente à tripulação, para possibilitar os primeiros socorros. No entanto, os colegas não conseguiram estancar o sangue e o pescador morreu cerca de 30 minutos depois.
A Marinha chegou a enviar o Navio Patrulha Benevente para prestar apoio e acionou a Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo a assessoria de comunicação do Esquadrão Pantera, o helicóptero H-60 Black Hawk, da Base Aérea de Santa Maria, foi acionado às 13h40min e por volta das 16h a aeronave decolou de Pelotas em direção ao barco pesqueiro.
Os socorristas desceram até o barco usando um guincho – mas já era tarde.
Pesca perigosa
A pesca de espinhel ou long line, praticada pelo barco Alemão Pescados, utiliza uma linha com vários quilômetros, que tem anzóis submersos em toda a sua extensão. Essa modalidade é usada para capturar peixes de grande porte, como tubarões (ou cações) e atuns, distante da costa e em áreas de grande profundidade. Nesse tipo de pescaria, os peixes são trazidos para o barco com a ajuda de um carretel, que tem um guincho hidráulico.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Pesca de Santa Catarina (Sitrapesca), Eros Martins explica que os pescadores evitam tocar nos tubarões. O anzol só é retirado depois que o animal morre, já no convés.
– É uma pesca perigosa, porque o animal está acuado e pode morder o que estiver ao alcance. Já soube de pescadores que perderam membros no espinhel, mas morte é a primeira vez que ouço falar – diz.
Luiz Augusto Coelho, dono da embarcação, diz que Linaldo conhecia bem o ofício.
– O rapaz era experiente, já trabalhava com essa modalidade de pesca há 5, 6 anos. Foi uma fatalidade, está todo mundo muito mal com isso.