Um passeio na Serra costuma ser oportunidade para vivenciar um pedacinho da Itália no sul do Brasil. Pelo menos é assim que muitos turistas assimilam o potencial da região. Tem o dialeto, o clima friozinho, a geografia amontanhada e, claro, a diversidade em vinhos e gastronomia. Mas um passeio que acaba de ser integrado ao roteiro turístico de Garibaldi tem oferecido outra faceta italiana por aqui. Desde o início de setembro, a empresa Madelustre está abrindo as portas de sua fábrica de vidro, forjada com os conceitos da escola de Murano. O arquipélago vizinho a Veneza recebe muitos visitantes curiosos sobre as técnicas artesanais e super tradicionais da fabricação de cristais. Agora, mais essa beleza italiana também está disponível por aqui.
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Quem chega na Madelustre é logo recepcionado pela simpática funcionária Tânia Ferrari Andreolli. A primeira etapa do passeio é bem didática, com informações sobre a história milenar do vidro e sobre a própria empresa garibaldense fundada pelos irmãos Clóvis e Miguel Furlanetto. Antes de partir para a parte mais quente do passeio (literalmente) o visitante ainda tem a oportunidade de conhecer um xodó da Madelustre: a maior taça de espumante do mundo, eleita pelo Livro dos Recordes em 2013. A gigantesca peça foi confeccionada para a Fenachamp medindo 2m19cm de altura e pesando 33 quilos. Dá para tirar foto e ficar pequeninho do lado da taça especial.
– Foram quatro meses de tentativas e muitas peças quebradas – conta Tânia.
O segundo momento do passeio é mais emocionante, porque leva o turista para o meio da produção da Madelustre, onde funcionários se revezam rapidamente entre as diferentes etapas da elaboração do vidro. Dois fornos super aquecidos deixam o vidro no estado líquido para ser moldado com destreza pelos jovens da produção da Madelustre. A movimentação deles precisa ser muito ágil para moldar o vidro ainda quente e não deixar que as formas se percam. Algumas vezes, algo dá errado, mas isso é raro devido a experiência dos funcionários.
Ao contrário das fábricas de Murano, onde é mais comum a confecção de peças decorativas e joias, na Madelustre a produção é de, como o nome sugere, lustres. Mesmo assim, os funcionários sempre arrumam um tempinho para mostrar aos visitantes como se faz um cisne de vidro, por exemplo. As técnicas e o material empregados na empresa de Garibaldi são os mesmos que podem ser vistos na cidade italiana.
– Nós compramos a fórmula da Itália. Uma vez ou duas por ano o pessoal de Murano vem aqui. Lá, as técnicas são mais artísticas, eles se consideram os maestros. Os funcionários aqui são jovens porque aceitam mais desafios, eles também têm que se tornar um pouco artistas – comenta Miguel Furlanetto, diretor industrial da empresa.
Com um cano especial de inox, os funcionários moldam pequenas bolas de vidro assoprando. A técnica exige muita destreza porque é preciso ir girando o cano ao mesmo tempo em que se assopra, para o formato do lustre ficar perfeito. A turismóloga Melina Casagrande, 34 anos, resolveu aceitar o convite dos funcionários durante a visita na empresa e confeccionou uma "bola" de vidro assoprando a peça sozinha. Um sucesso por ser a primeira experiência dela na moldagem de vidro:
– É difícil. Ele (funcionário) disse para ir soprando como um balão, mas tem que ir mexendo e modulando.
Encantada com a visita, mesmo já tendo visitado Murano, na Itália, Melina acredita muito no potencial turístico do roteiro em Garibaldi.
– É um atrativo único, vem complementar muito nossa oferta aos turistas. Acaba se destacando porque vai além das já tão conhecidas vinícolas e da nossa gastronomia – diz ela.
Diferencial turístico
Conforme seus administradores, a Madelustre é a única fábrica de lustres do Brasil que possui vidraria própria. A decisão de investir nesse segmento foi tomada em 2008, 24 anos depois da fundação da empresa. Descendentes de italianos, os Furlanetto desenvolveram o negócio a partir da vocação dos imigrantes para trabalhar com madeira – até hoje importante matéria-prima dos produtos da Madelustre. Mas, com o tempo, foi-se criando a necessidade de expandir a fábrica.
– A gente importava o vidro da Itália, mas foi ficando muito caro. A decisão acabou sendo uma necessidade, e hoje eu já não consigo imaginar a Madelustre sem a vidraria – diz Miguel.
Como Garibaldi recebe um grande número de turistas por ano (em 2015 foram 450 mil), a ideia de abrir a fábrica para visitação acabou surgindo naturalmente. O roteiro Garibaldi: Mundo do Vidro _ Magia da Luz foi inaugurado em 2 de setembro
– As pessoas se encantam muito e é um diferencial na nossa região. A visita marca muito as pessoas – opina Tânia, lembrando de um casal de Porto Alegre que visitou a fábrica recentemente e voltou para casa cheio de orgulho por levar uma peça que havia ajudado a confeccionar.
EVOLUÇÃO*
:: Areias, carbonatos e material fundente são submetidos a altas temperaturas e se transformam em um líquido com extraordinária plasticidade. Eis o vidro.
:: As mais remotas amostras de vidro datam de mais de 5 mil anos. Podem ter sido produzidas sob a interferência de raios nas praias fenícias e egípcias.
:: Desde antes de Cristo o povo romano se especializou na arte de trabalhar o vidro. Recebeu o título de inventor do "muro transparente" (vidraça) e desenvolveu um tubo metálico oco (cana) para soprar e dar forma aos vidros.
:: Com a queda do império romano no ano de 776 depois de Cristo, todo o ofício de produzir vidro foi abandonado, assim como tantas outras atividades.
:: Nos idos do ano 1000, pressionados pelos povos bárbaros do norte, os habitantes da região de Veneza continental se refugiaram nas ilhas venezianas. Nessas ilhas, aos poucos, foi sendo retomado o ofício de trabalhar o vidro, evoluindo com novas técnicas, novas cores e criando maravilhosos objetos.
:: Com isso, os fornos foram isolados na ilha de Murano, Itália, e seus mestres bem pagos e protegidos pelo Doge (autoridade máxima da República de Veneza) os quais deveriam garantir todos os segredos do ofício e da arte com vidros.
:: Em meados do século 17, na região da Boemia, desenvolveu-se importante polo vidreiro, favorecido pelas extensas florestas que alimentavam os fornos.
:: No século 19, os ingleses desenvolveram o cristal, dando novo impulso ao setor vidreiro.
:: No decorrer dos séculos, o trabalho em vidro se desenvolveu em toda a Europa onde se criaram várias escolas de métodos e tecnologias novas.
* Texto de Giorgio Mantovani e Valdir Ben
Serviço
A Madelustre atende turistas em grupos de, no máximo, 15 pessoas. O passeio dura cerca ade uma hora. Reservas pelo fone (54) 3462.9500 ou pelo e-mail tania@madelustre.com.br. O valor individual da visita é R$ 20.