Só aquela palavra feia que começa com a letra "f" define o peso da realidade que vi nesta semana. Tudo começa há mais de 20 anos, quando uma mulher que era agredida pelo marido há anos, em legítima defesa, cravou no peito do agressor uma faca. Mas era o amor da vida dela e matá-lo lhe trouxe muita dor.
Por conta disso e de outras cicatrizes que a vida lhe deu, ela acabou caindo no crack. Essa mulher tem uma filha que é guerreira e tenta não cometer os erros da mãe, mas, sem que percebesse, o homem com quem teve uma filha também é violento. Por anos, assim como a mãe, tentou ser feliz com ele, até que desistiu.
Hoje, recebe ameaças de morte e vive escondida em casas de amigos e parentes. Essa rotina absurda fez com que ela desenvolvesse depressão e fobias sociais. Para ficar de pé, recorre a remédios de tarja preta.
Herança
Na tentativa de desviar, sem perceber, seguiu o caminho da mãe: agredida, acuada e viciada. A diferença entre as duas é que a droga de uma se compra na boca de tráfico. A de outra, na farmácia. Mas ambas têm como missão fazer com que essas mulheres enfrentem a vida e seus traumas. A realidade social, às vezes, mói mulheres fantásticas como carne e faz delas um guisado sem cor que só existe sem viver.
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A tristeza é que a filha dessa mulher que matou o marido tem uma filha que assiste mãe e avó lutando contra os traumas sem conseguir vencer. Só espero que essa dor não seja a única herança que essas mulheres deixarão para essa pequena.