Por volta das 6h30min de terça-feira, os 136 agentes da Força Nacional (FN) começaram a patrulhar as ruas de Porto Alegre, acompanhados de 160 policiais da Brigada Militar. O chamado feito pelo governador José Ivo Sartori (PMDB) devido a uma onda de violência na Capital deve ter um efeito quase que imediato na sensação de segurança dos porto-alegrenses. Mas causará impacto na segurança em Santa Maria? Para autoridades da segurança pública da cidade e especialistas, não. Nem para o bem nem para o mal.
– Não vai ter nenhuma alteração para a nossa realidade. A não ser que devolvam os nossos brigadianos que foram dar apoio lá – afirma o delegado regional da Polícia Civil Sandro Meinerz.
O retorno dos cerca de 50 policiais militares do 2º Batalhão de Operações Especiais (2º BOE) e do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon) que estão em Porto Alegre não deve acontecer. A boa notícia é que não deve haver novo deslocamento de efetivo à Capital.
– Não temos expectativa de quando eles voltarão. Devem permanecer lá enquanto for necessário. Em contrapartida, o governo nos alcançou um número maior de horas-extras e estamos conseguindo colocar mais efetivo na rua para suprir isso – afirma o comandante do 1º RPMon, tenente-coronel Erivelto Hernandes, responsável pelo policiamento em Santa Maria e em outros 18 municípios da região.
Por outro lado, a possibilidade de migração de criminosos da Capital para o interior é pouco provável dizem as autoridades, que acreditam que o “intercâmbio” deve acontecer dentro da própria cidade ou em municípios vizinhos (leia abaixo).
Sensação de segurança
Para o coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma) e especialista em segurança pública, Eduardo Pazinato, a vinda da Força Nacional vai impactar muito mais na sensação de segurança do que nos índices de criminalidade na Capital.
– Era necessário, uma decisão precisava ser tomada, mas é uma estratégia do governo que cumpre mais com um efeito simbólico de minorar essa sensação de insegurança – explica.
Sem vagas na Pesm, vinda de criminosos é mais difícil
Apesar de ser uma possibilidade, a migração de criminosos da Região Metropolitana para cidades do interior é improvável. Segundo especialistas, a vinda de infratores para Santa Maria seria facilitada caso os presos em delegacias da Capital e da Grande Porto Alegre continuassem sendo transferidos para a cidade. A medida do Tribunal de Justiça ainda vigora, mas como a Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm) está praticamente no limite de sua capacidade – tem 758 detentos para 766 vagas – as transferências foram suspensas.
Para o especialista em segurança pública Eduardo Pazinato, se a medida ainda vigorasse, seria possível que houvesse, sim, uma migração de criminosos para a cidade.
– Em havendo essa continuidade, sobretudo com a transferência de presos da Região Metropolitana e Vale dos Sinos, onde há bases dos “Bala na Cara”, dos “Manos”, e outras facções menores, chamados de “Anti-Balas”, traria esse público para Santa Maria, e aí, sim, impactaria a segurança, pois haveria esse fluxo maior das facções na cidade – avalia o especialista.
Neste contexto, o delegado Sandro Meinerz comemora que não há mais a vinda desses presos, mas lamenta a quase lotação da Pesm e a permanência de 56 dos cerca de 70 dos detentos, que já haviam vindo da Capital para Santa Maria.
– O fato de não virem mais é bom, mas o fato ruim é que lotou a nossa casa prisional. E a tendência, com a permanência desses presos de lá aqui, é que eles façam mais conexões na cidade e fiquem em Santa Maria. E isso é prejudicial à segurança da nossa cidade – destaca.