A Justiça determinou a interdição de uma clínica de repouso em Cachoeira do Sul, na Região Central. O pedido foi feito pelo Ministério Público (MP). O motivo é a falta higiene e de estrutura física, segurança, salubridade e capacitação dos funcionários da Instituição Perpétuo Socorro. O documento com a decisão está no site do Ministério Público, a pedido da Promotora Maristela Schneider.
Conforme inspeção da Vigilância Sanitária, a Instituição Perpétuo Socorro abriga 87 residentes, sendo 33 idosos. Entre as deficiências encontradas relacionadas à recursos humanos, há falta de um responsável técnico, de profissionais capacitados e de um número de cuidadores suficiente para a quantidade de internos. O documento indica que apenas dois funcionários pernoitam no local para cuidar dos moradores.
Segundo o levantamento, a construção tem corredores estreitos e desníveis, sem sinalização de rotas de saída, e os extintores de incêndio estão vencidos. O prédio tem instalações elétricas inadequadas e não tem alvará de prevenção e proteção contra incêndio.
Quanto à higiene dos pacientes, o documento indica que há cadeiras de banho em péssimo estado, forte odor de urina e fezes em alguns ambientes. Conforme a Promotora, apenas oito escovas de dente eram divididas pelos 87 moradores. Também consta, no relatório do MP, que não havia cremes dentais, xampus, sabonetes, papel higiênico e toalhas nos banheiros, e o vestuário, inclusive roupas íntimas, também é de uso coletivo. Travesseiros e roupas de cama estavam em péssimas condições de uso, e não eram usados lençóis laváveis e impermeáveis nos colchões.
Não foram encontrados registros de prontuários médicos dos pacientes e nem de uma tabela com restrições alimentares dos moradores hipertensos e diabéticos. Eles seriam medicados sem prescrição. A água não era acessível aos pacientes e a alimentação, insuficiente. Alimentos vencidos, deteriorados e em estado de decomposição foram encontrados no local.
A Promotora relata que alguns internos que foram devolvidos aos seus municípios, estavam infestados de vermes e piolhos, e alguns deles foram diagnosticados com doenças mais graves, como sífilis, problemas odontológicos e tumores não tratados. O MP também recebeu denúncias de casos de maus-tratos contra os moradores.
A partir de agora, a prefeitura de Cachoeira do Sul deverá administrar o retorno dos moradores para seus municípios de origem, sendo ela responsável por aqueles que não puderem voltar para casa.
A direção da clínica, ouvida pela reportagem da Rádio Gaúcha nessa manhã, negou as denúncias e diz que irá recorrer da decisão.
Abrigos
Conforme levantamento de agosto de 2015 feito pelo MP, existem em Cachoeira do Sul 22 casas asilares, com 678 idosos e pessoas portadoras de sofrimento físico e psíquico, de cerca de 60 municípios do Rio Grande do Sul. A ação pede que os abrigos particulares sejam desfeitos, os moradores retornem aos seus municípios de origem e a Prefeitura de Cachoeira do Sul crie uma casa municipal para cuidado dos moradores que não puderem retornar para suas famílias.