Para aliados, uma manifestação extraordinária e de caráter histórico. Para os algozes, um discurso bem montando, mas sem novidades e incapaz de mudar o quadro de votos. Foram os tons das avaliações da defesa feita pessoalmente pela presidente afastada e ré Dilma Rousseff no plenário do Senado, na manhã desta segunda-feira, no penúltimo ato do julgamento do impeachment.
– Foi uma fala extraordinária, histórica e contundente. A presidente reafirmou o compromisso com um projeto popular e trouxe sua história política. É a segunda vez que ela se apresenta em um tribunal para defender a democracia – diz o ex-ministro Miguel Rossetto (PT-RS), recordando o julgamento imposto a Dilma ainda nos anos de chumbo.
Ele acredita a presidente afastada acertou ao definir o processo como "golpe", mesmo que isso possa dificultar a tentativa de virar votos a seu favor.
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– Ela resgatou a história dos golpes no Brasil, enfrentou todo o arrazoado dos golpistas, disse que o início aconteceu por vingança do (Eduardo) Cunha. Se esse processo passar, deverá ser aberto imediatamente um movimento de Diretas Já – diz Rossetto, apregoando novas eleições em caso de cassação de Dilma.
Os aliados da presidente afastada, de fato, já pensam no futuro: a hipótese de o impeachment não prosperar é mínima. A tendência é de que Michel Temer seja efetivado no comando do país até dezembro de 2018.
A realidade desfavorável levou a petista a fazer um discurso para a posteridade, com intenção de escrever com tintas indeléveis que é injustiçada e vítima de uma trama para lhe ceifar do poder.
– O discurso não era para ganhar voto, mas discutir as consequências do golpe para a história. Foi uma fala ousada e que dialogou com o país, independente da questão dos votos – afirma o deputado federal José Guimarães (PT-CE), ex-líder do governo Dilma na Câmara, que acompanhou a sessão no plenário do Senado.
Entre os favoráveis à deposição, o discurso de Dilma não causou surpresa. Raimundo Lira (PMDB-PB), que presidiu a comissão especial do impeachment, considerou que o resgate da história pessoal de Dilma foi o trecho mais relevante. Ele classificou a trajetória política da petista como "intensa".
– Ela exerceu o direito de fazer a própria defesa, mas não trouxe nada de novo. Foi um pronunciamento absolutamente normal, nada que possa mudar a convicção dos senadores – afirmou Lira.
Cotado para ser o próximo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) avalia que Dilma apenas procurou "consolidar a sua posição" e "defender a sua honra".
– Isso é um script para a história, ela sabe que não reverte voto – diz Eunício.
Embora o pronunciamento de Dilma seja considerado estéril ante a reversão do placar, senadores de oposição reconheceram que as palavras foram bem escolhidas para a manifestação da presidente afastada. Se não conseguiu deixar o país boquiaberto e os senadores encurralados por uma retórica arrebatadora, ao menos Dilma demarcou com firmeza as suas convicções.
– Meus cumprimentos ao redator – disse Álvaro Dias (PV-PR).