O presidente americano, Barack Obama, enalteceu nesta terça-feira os cinco policiais mortos em uma emboscada, em Dallas, e insistiu em afirmar que os Estados Unidos não são tão divididos quanto parecem por raça e política.
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– Eu sei que os americanos estão se debatendo agora mesmo com o que testemunhamos na semana passada – disse Obama durante uma cerimônia em memória dos policiais falecidos.
– Estou aqui para dizer que precisamos rejeitar este desespero. Estou aqui para insistir em que não somos tão divididos quanto parecemos – acrescentou.
De Charleston a Orlando ao mais recente ataque em Dallas, na semana passada, praticado por um homem negro que queria matar brancos em retribuição à violência policial, os EUA foram marcados por uma sequência de chacinas motivadas pelo ódio.
Ao que parece, a cada semana surge um vídeo chocante de um policial atirando e matando um negro americano, imagens que rapidamente se tornam virais e reacendem questões duras sobre raça e policiamento.
O discurso de Obama incluiu a admissão franca de que seus próprios esforços para combater a violência, as armas e o racismo têm falhado.
– Eu tenho discursado em memoriais demais no transcurso desta Presidência – afirmou.
–Eu tenho visto como o espírito de unidade surgido da tragédia consegue, gradualmente, se dissipar.
– Tenho visto como as palavras podem ser inadequadas em produzir mudança duradoura. Tenho visto como minhas próprias palavras têm sido inadequadas – acrescentou.
– Nós vemos preconceito.
Oito anos atrás, a destreza retórica de Obama o transformou no primeiro presidente negro dos Estados Unidos e despertou a esperança de que o país pudesse superar suas profundas divisões sociais.
A cerimônia desta terça-feira mostrou um presidente cansado, cujas esperanças por mudança foram confrontadas.
A saída, segundo Obama – sugerindo que o trabalho continuará além de sua Presidência – é que os americanos abram seus corações uns aos outros.
Os afro-americanos que protestam contra a violência da polícia – afirmou Obama – precisam compreender como pode ser difícil o trabalho de um policial.
– Vocês sabem como algumas das comunidades onde estes policiais trabalham podem ser perigosas. E fazem de conta que não há contexto?
Mas Obama também desafiou a força policial, majoritariamente formada por brancos, a aos americanos brancos em geral a admitir que, embora a construção de racismo legalizado tenha acabado, o preconceito permanece.
– Todos nós vimos esta intolerância em algum momento em nossas próprias vidas", afirmou. "Às vezes ouvimos isto em nossas próprias casas. Se formos honestos, talvez tenhamos ouvido o preconceito em nossas cabeças e o sentido em nossos corações.
– Nós inundamos as comunidades com armas.
O apelo por unidade foi reforçado pelo ex-presidente republicano George W. Bush.
– Com muita frequência nós julgamos outros grupos com base em seus piores exemplos, enquanto julgamos a nós mesmos por nossas melhores intenções – disse Bush, residente em Dallas.
Obama, um democrata, fez um apelo para que os colegas republicanos de Bush percebam o preço por sua oposição ao controle de armas e aos gastos em saúde mental e tratamento contra as drogas.
– Nós permitimos que a pobreza cresça de forma que comunidades inteiras não ofereçam perspectiva de emprego digno", disse Obama, em alusão a uma sequências de causas para a violência.
– Nós nos recusamos a financiar o tratamento contra a dependência às drogas e programas de saúde mental. Nós inundamos as comunidades com tantas armas que é mais fácil para um adolescente comprar uma (pistola da marca) Glock do que ter nas mãos um computador ou, inclusive, um livro – acrescentou.
Mais cedo, o cirurgião negro Brian Williams, que atendeu vários policiais feridos, deu uma declaração comovente sobre as feridas que fazem o país sangrar.
Ele contou ter comprado sorvete a policiais para que sua filha visse como ele interage normalmente com a polícia, e não crescesse com os mesmos medos que ele tem.
Dirigindo-se aos policiais, declarou: "eu os apoio, eu os defenderei e eu me importarei com vocês". "Isto não significa que eu não tema vocês".
EUA em azul e preto
Na semana passada, disparos efetuados pela polícia mataram dois homens negros - Alton Sterling, na Louisiana, e Philando Castile, em Minnesota - gerando uma onda nacional de ódio, com milhares de manifestantes nas ruas em protesto de costa a costa do país.
Aparentemente, estas mortes também conduziram ao ataque mortal em Dallas, executado por um veterano da guerra no Afeganistão, Micah Johnson, um jovem negro, em protesto contra a violência da polícia.
Na quinta-feira, Johnson, de 25 anos, usou um fuzil para matar os cinco policiais e ferir outros nove. Dois civis também ficaram feridos no ataque.
Antes de ser morto, ele disse aos negociadores que queria matar policiais brancos em vingança pela morte de negros.
O memorial desta terça-feira prestou uma homenagem comovente aos "pacificadores de azul" mortos no ataque - Brent Thompson, Patrick Zamarripa, Michael Krol, Lorne Ahrens e Michael Smith.
Cada um foi representado por uma cadeira vazia no auditório e cada cadeira estava adornada com uma bandeira americana dobrada e um quepe de policial.
*AFP