Em meio à chuva insistente que caía na tarde desta quinta-feira, os moradores de 400 casas de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, tentavam salvar os poucos móveis que restaram secos após uma forte chuva de granizo destruir parte de suas moradias. As pedras de gelo, que segundo relatos eram do tamanho de ovos, perfuraram os telhados, deixando aberto o caminho para que a água da chuva inundasse as residências. No final da tarde, a prefeitura decretou situação de emergência, estimando que 2 mil pessoas tenham sido afetadas.
A intensidade do mau tempo foi tanta que, assustada, a moradora do bairro Liberdade Romaldina Ferreira Barbosa, 78 anos, usou o colchão de sua cama para se proteger. O receio dela era ser atingida, mesmo dentro de casa, por uma das pedras de granizo que danificaram o frágil telhado de sua moradia.
– Não tem nem um cantinho pra dormir aqui. Ficou uma peneira –lamenta.
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Porém, um refúgio dentre as inúmeras goteiras que ainda molhavam a casa foi encontrado pelo neto dela, Erick, de 10 anos. Em meio à bagunça decorrente das tentativas de salvar os poucos pertences da família, ele encontrou dentro de um armário um cantinho seco para poder dormir.
– Eu fiquei assustado com o temporal. Estava na escola e fiquei muito triste quando cheguei em casa e vi tudo molhado – relata o menino.
A situação vivida pela família Barbosa se repetiu em todo bairro Liberdade, o mais atingido de Novo Hamburgo, segundo a Defesa Civil. Além dele, também tiveram registros de danos moradias nos bairros Santo Afonso, Industrial, Ideal, Rio Branco, Centro, Rondônia e Boa Saúde.
– Era um barulhão, e a gente só conseguiu se esconder numa parte da casa que tem o telhado mais forte. Quando acabou o granizo, tudo dentro de casa estava molhado – relata a moradora do bairro Liberdade Luciane Queiroz da Silva, 46 anos.
Ao lado do marido, Valdir de Quadros da Silva, 50 anos, ela avaliava os estragos provocados em poucos minutos durante a manhã.
– Furou tudo. A gente tentou colocar lona depois, mas muita coisa já tinha molhado – relata o marido.
Diante das tentativas malsucedidas de estancar a água da chuva que molhou por completo sua casa, só restou ao morador do bairro Liberdade Leonardo Martins Berger, 22 anos, buscar outro lugar para passar a noite.
– Nem adianta secar, tem coisa que já estragou por completo. Foi tudo muito rápido, quando ouvi o barulho, a água já começou a entrar. Vou pra casa da minha mãe agora – relata.
O tamanho das pedras e a duração da chuva de granizo também impressionaram os moradores. Ladir Câmara, 55 anos, deixou o trabalho tão logo o mau tempo cessou para avaliar os danos na casa da irmã, que está em viagem.
– Eu nunca vi uma coisa assim. Foi muito forte, eram umas pedras muito grandes. Agora a gente fica aí, tentando limpar e vendo o que dá pra aproveitar.
Em outro ponto da cidade, a casa de 49 vovôs e vovós também foi atingida pelo granizo. Conforme a diretora do Lar São Vicente de Paula, Margô Bastos, os danos afetaram os quartos, a enfermaria, a rouparia e o salão do imóvel.
– Foi tudo muito rápido, e todos ficaram bem agitados. Perdemos muitos colchões e o telhado está quase todo perfurado. A gente já enfrenta dificuldades para manter o lar, agora temos mais essa pela frente – desabafa.
Quem quiser ajudar o lar, que precisa de doações de toalhas e colchões de solteiro, pode contatar a instituição pelos fones 3595-8181 e 3582-1011.
– Nunca vi nada parecido. Mas a gente tem que rezar, pedir a Deus, que tudo vai melhorando – comenta a moradora do lar, Bernadete Nunes, 67 anos.
São Leopoldo
No município vizinho a Novo Hamburgo, cerca de mil famílias foram afetadas pelo temporal. Segundo a prefeitura de São Leopoldo, os bairros mais afetados são Arroio da Manteiga, Santa Helena, Jardim Luciana, Santos Dumont, Baum, Boa Vista, Santo Augusto, Feitoria e Scharlau. Devido à dimensão dos estragos, a prefeitura decretou situação de emergência e calamidade pública.