Amigos e familiares compareceram ao velório da ex-ministra Luiza Barros na tarde desta quarta-feira, no Memorial da Assembleia Legislativa, no centro de Porto Alegre. Ela morreu na manhã de terça-feira, vítima de um câncer no pulmão. Emocionados, ativistas do movimento negro lembravam os momentos de militância e avaliavam o legado deixado pela ex-ministra, como a reflexão mais profunda sobre a condição racial no Brasil.
Amiga e atuante dos movimentos liderados por Luiza Barros, Reginete Bispo relembrou a vida acadêmica da pesquisadora e a implementação de políticas sociais enquanto ministra.
– Pra nós, a Luiza Bairros era a maior referência da luta racial no Brasil e, quiçá, nas Américas. Foi uma mulher que dedicou a vida acadêmica e militante em prol da equidade de gênero e de raça. Enquanto socióloga, produziu muita reflexão sobre a condição do negro no país. Foi na gestão dela que se implementou as cotas no serviço público federal – avaliou Reginete. – Ela era fantástica. Além de ser militante, conhecer a vida do povo e dos mais humildes, era uma doutora que estudou, estudou profundamente. Também era muito franca. E muito dura quando tinha que ser – completou a amiga.
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Mãe da afilhada de Luiza Bairros, a administradora Lana Campos conhecia a comadre há mais de 30 anos. Para ela, a pesquisadora era a maior referência intelectual na atualidade.
– Era minha referência, com todo esse acúmulo intelectual. É a maior referência intelectual do movimento negro na atualidade. Depois que ela saiu do governo, a gente se viu duas vezes e sempre conversávamos sobre a conjuntura, sobre política, ela tinha uma visão muito ampla do movimento negro. Foi uma grande gestora dos programas sociais do governo federal – avalia Lana.
Políticos também compareceram ao local, que estava aberto desde as 15h. O deputado estadual petista Tarcísio Zimmermann lembra que Luiza unia correntes dentro do Partido dos Trabalhadores. Ele lembra também que, quando foi prefeito de Novo Hamburgo, compartilhou ações promovidas por Luiza Bairros sobre a luta pela igualdade racial.
– Ela tinha uma enorme capacidade de buscar uma unidade no meio de tantas correntes e divergências políticas. Foi muito simbólica nesta questão da igualdade racial. Como prefeito, tive a oportunidade de compartilhar algumas ações, como a luta pela igualdade racial – relembra.
O velório no memorial do Legislativo vai até as 14h desta quinta-feira. O sepultamento será no mesmo dia, às 15h, no cemitério João XXIII.
Natural de Porto alegre, Luiza Bairros formou-se em administração pública pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e era doutora em sociologia pela Universidade de Michigan (EUA). Entre 2001 e 2005, trabalhou em programas da Organização das Nações Unidas (ONU) contra o racismo. Com residência em Salvador, Luiza Bairros foi também um dos principais nomes do Movimento Negro Unificado (MNU).