Salvo aos 13 anos, em agosto de 1977, ao cair no fosso das ariranhas no Zoológico de Brasília, Adílson Florêncio da Costa, ex-diretor financeiro do Postalis, fundo de pensão dos Correios, foi preso temporariamente pela Polícia Federal na última sexta-feira.
Para resgatar o menino da sanha animal, o sargento gaúcho Sílvio Delmar Holenbach deu a própria vida, morrendo como herói. No trágico dia, o militar passeava com a esposa e os quatros filhos. A família já deixava o local quando foram alcançados por gritos apavorados que vinham do viveiro das ariranhas, mamíferos que podem ter até 1,80 metro, donos de presas compridas e afiadas. Holenbach saiu em disparada e viu que um menino havia se desequilibrado e caído entre os animais, furiosos com a invasão do seu espaço, o que julgavam ser uma ameaça aos seus filhotes.
Destemido, o sargento tomou nos braços o jovem Adílson, machucado, e se esticou para entregá-lo a outras pessoas que acompanhavam o drama junto à mureta de proteção. Depois de salvar o garoto, o militar estava posicionado na ilhota do fosso e, para sair dali vivo, tentou saltar sobre a água e se agarrar em uma grade. Sobreveio a tragédia: as ariranhas o abocanharam pelas pernas, arrastando-o barbaramente para dentro do manancial.
A mordidas, as feras fizeram mais de cem rasgos no corpo do homem, que ainda resistiu por três dias no Hospital das Forças Armadas. Ele acabou morrendo de infecção generalizada. A água do fosso estava contaminada.
Em 2010, Zero Hora entrevistou Sílvio Delmar Holenbach Junior, filho do herói que arriscou a vida para salvar um desconhecido. À época da tragédia, quando viu o seu pai se esvair entre caninos e mandíbulas, ele tinha apenas seis anos. Junior revelou que Adílson jamais demonstrou gratidão. Os parentes de Holenbach nunca foram procurados, sequer por telefone. Um agradecimento que, mais de três décadas depois, não aconteceu.
Se o menino resgatado não se manifestou, o gesto bravo e altruísta do militar recebeu homenagens de terceiros: ele virou nome de colégio, rua, auditório, zoológico e praça.
Salvo das ariranhas em agosto de 1977, Adílson Florêncio da Costa não escapou das garras da Polícia Federal. Ele acabou sendo detido na Operação Recomeço, que apura supostos crimes cometidos nas gestões do Petros e do Postalis, fundos de pensão dos funcionários da Petrobras e dos Correios, respectivamente.
Sete pessoas foram presas por ordem da Justiça Federal do Rio de Janeiro. A defesa de Adílson considerou a prisão ilegal porque ele "sempre esteve à disposição das autoridades", prestou depoimento no inquérito e deu esclarecimentos na CPI dos Fundos de Pensão.