Conheci a Escola Estadual Aurélio Reis, em Porto Alegre, em abril de 2011 e, desde então, voltei lá muitas vezes, como repórter, para mostrar os desdobramentos de uma história de superação. Nesta quarta-feira, ao chegar à redação de ZH, fui surpreendida pela notícia de que o colégio havia sido arrombado, furtado e depredado. O que senti foi indignação.
Liguei para a diretora Nássara Scheck. Do outro lado da linha, ouvi um desabafo.
– Quando vi o que fizeram com a nossa escola, chorei. Chorei muito – disse a professora.
Da primeira vez em que estive na Aurélio Reis, localizada em um beco estreito no bairro Jardim Floresta, minha intenção era descobrir o segredo do estabelecimento classificado como exemplar pelo governo do Estado. O que teria de tão especial aquela pequena escola, com 220 alunos, situada na periferia da Capital?
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Antes de me apresentar para a diretora, circulei no pátio e nas dependências. Olhei para as paredes e não vi pichação. Observei as mesas, e elas estavam todas intactas, sem um risco sequer. Espiei os banheiros e percebi que estavam limpos, impecáveis. Ali, a histórica falta de recursos do ensino público parecia um pesadelo distante.
Voltei outras vezes. Conversei com pais, alunos, funcionários, educadores. Finalmente, cheguei a uma conclusão: o segredo da Aurélio Reis era (e continua sendo) a união da comunidade em torno da escola, a fibra da diretora e de sua equipe batalhadora, a percepção, entre os estudantes, de que aquele lugar é deles – e que por isso deve ser respeitado e cuidado.
Sempre que a pintura do prédio começa a amarelar, Nássara convoca as famílias. Cada membro da comunidade entra com o que pode no mutirão. Em um fim de semana, a estrutura é renovada. Lembro bem: em uma das visitas ao local, notei que a diretora tinha uma lata de massa corrida embaixo da mesa. Ela seguiu meu olhar. Riu e brincou:
– Nas horas vagas eu também sou pedreira, tu não sabias?!
Minha última passagem pela Aurélio Reis foi em fevereiro deste ano. Porto Alegre havia sido atingida por uma tempestade. Árvores inteiras vieram abaixo, inclusive na escola modelo. Como sempre, Nássara decidiu que não iria esperar a ajuda do Estado chegar. Com o auxílio de pais e mães de alunos, limpou toda a sujeira e recolheu os galhos caídos.
Dessa vez, a incansável diretora tem mais um desafio pela frente. E estou certa de que vai conseguir superá-lo. Ao ladrão, apenas um recado: faça como o homem que roubou um carro em Canoas. Ainda dá tempo de se arrepender, de devolver os 110 netbooks furtados e de ficar em paz com a consciência.