Pelo menos 60 estudantes do campus da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) em Caçapava do Sul, na Região Central, foram agredidos por caminhoneiros durante o bloqueio da BR-392 na manhã desta sexta-feira. De acordo com os estudantes, a manifestação era contra o sucateamento da instituição, que vem enfrentando diversos cortes financeiros que impedem a manutenção dos campi. Segundo eles, colaboradores contratados por terceirizadas estão sendo demitidos.
Assista ao vídeo:
– Nós já não temos Casa do Estudante, Restaurante Universitário, e a estrutura vem se tornando cada vez mais precária, inviabilizando o ensino – disse Mateus Kroth, estudante de geologia na instituição.
Dos R$ 84 milhões orçados para este ano, apenas R$ 34 milhões serão disponibilizado para a instituição. É um corte de 59% no recurso financeiro que seria destinado para 10 campi em 10 municípios gaúchos. Apesar de não haver suspensão de atividades, algumas das 33 obras em andamento serão paralisadas de acordo com a reitoria.
Por conta disso, os estudantes resolveram bloquear a BR-392, no acesso ao município de Caçapava do Sul, indefinidamente, por volta das 11h, como forma de chamar a atenção para o problema que a Unipampa enfrenta.
A rodovia é a principal ligação do Centro com a Zona Sul do Estado, onde fica o porto de Rio Grande. Filas de veículos se formaram nos dois sentidos da rodovia por conta do bloqueio. O local ficou interrompido por pelo menos uma hora e meia de acordo com o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Caçapava do Sul, que acompanhou a manifestação, e só foi liberado por causa das agressões.
A PRF aponta que os caminhoneiros desceram dos veículos e avançaram contra os manifestantes. Eram pelo menos 20 motoristas.
– Era uma manifestação pacífica. Eles estavam armados com facas, avançavam com os veículos para cima da gente. Havia gente sangrando – conta a estudante Ana Paula Corrêa.
A PRF diz que, quando começou o bloqueio, orientou os estudantes a permitirem a passagem dos motoristas de tempos em tempos, pois havia a possibilidade de conflito, que foi o que aconteceu. Os policiais não intervieram porque não havia efetivo suficiente, por questão de segurança. Eram só dois.
Os estudantes afirmam que vão até a delegacia de polícia de Caçapava do Sul com o objetivo de fazer o registro contra os caminhoneiros pelo crime de tentativa de homicídio. Os 60 estudantes devem registrar. Pelo menos 120 acadêmicos do campi ocupam a instituição desde quarta-feira.
O que diz a Unipampa
Em nota, na última quarta-feira (18), a Unipampa se manifestou quanto aos cortes orçamentários. Ela diz que “desde outubro de 2014 há um contingenciamento impositivo dos seus recursos orçamentários, o que tem provocado sérios prejuízos para o funcionamento qualificado das atividades acadêmicas e administrativas”. O reitor Marco Antonio Fontoura Hansen tem buscado contato com o Ministério da Educação (MEC) para tratar do assunto.
Na fanpage Juntos pela Unipampa os estudantes emitiram um comunicado por meio de um post:
"Nós, alunos da Unipampa estamos em ocupação desde 18/05. Ontem (19/05) ocorreu o bloqueio parcial da BR-392. E hoje, na mesma rodovia houve o fechamento total das 10h30min até cerca de 12h30min. O objetivo da paralisação é repudiar o corte orçamentário do governo federal que irá sucatear o ensino e a infraestrutura da nossa instituição, impossibilitando a continuidade das aulas ainda no ano de 2016.
Em grande parte do tempo da ocupação na rodovia, dois PRFs acompanharam nosso protesto e em grande parte do tempo os estudantes permaneceram sentados declamando o hino nacional, representando a tristeza da atual situação da educação pública no Brasil. Entretanto, desde o início houve contestações por parte de alguns caminhoneiros (uma minoria frente à massa que prestou apoio ao nosso movimento), que com a complacência da polícia, se organizou, de forma agressiva, em combate corpo a corpo, com paus, martelos e até mesmo facas contra os estudantes que permaneceram sentados em todo processo. Nos recolhemos, sem ferimentos graves, de cabeça erguida e dispostos a continuar lutando pelo que é direito de todos: a educação!"