Formada por antigos aliados ou partidos que nasceram de frações do petismo, a oposição de esquerda está rachada no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Parte se alinhou à tese do golpe e votará contra o afastamento, mas um número majoritário será a favor da deposição. Ainda há os que defendam a convocação de eleições gerais.
Da esquerda no Congresso, o único partido que segue integralmente fiel à doutrina petista é o PC do B, enquanto o PDT ensaia apoio de forma menos convicta.
As dispersões atingem PSOL, PSB e Rede. Nascido a partir da expulsão de parlamentares do PT que ficaram contra a reforma da previdência do governo Lula, o PSOL enfrenta divergência interna. Os seis deputados da sigla fecharam questão contra o impeachment. A maioria do diretório nacional também. Mas uma ala ruidosa do partido, liderada por Luciana Genro, candidata à presidência em 2014, defende a convocação imediata de eleições gerais, com abreviação dos atuais mandatos.
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– Além da luta contra o impeachment, é preciso pressionar por eleições gerais. Dilma perdeu legitimidade ao aplicar o programa do PSDB, com o ajuste fiscal. Também deu continuidade a um processo de corrupção que o PT tinha o dever histórico de desmontar – avaliou Luciana.
Para ela, o que está em jogo, além do futuro do país, é a estratégia política para se colocar como alternativa real de poder, no possível vácuo deixado pelo enfraquecimento do PT. Luciana refuta críticas quanto ao chamamento de eleições gerais através de emenda constitucional.
– Não vivemos sob a escravidão legal. As leis servem também para dar formas legais às vontades populares – destacou.
A maioria do PSOL, comandada pelo deputado federal Ivan Valente (SP), demonstra incômodo com a posição do Movimento Esquerda Socialista (MES), liderado por Luciana.
– A posição deles é minoritária no diretório nacional e na bancada. O que temos de derrubar agora é o impeachment. Depois é depois. Você engrossa a lógica do PSDB com eleições gerais. É como dar uma via legal para o impeachment – avaliou Valente.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) acompanha o raciocínio:
– Teve gente (no PSOL) que chiou. Acham que eleições gerais é como admitir o impeachment. Não adianta eleições gerais com esse sistema. Estamos na linha do Chico Buarque: "Não se afobe, não, que nada é pra já" – opinou Alencar.
Na bancada da Rede, de quatro deputados, a divisão está posta. Embora a orientação partidária, e de Marina Silva, seja pelo impeachment, apenas João Derly (RS) e Miro Teixeira (RJ) seguirão essa linha. Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR) votarão contra o afastamento de Dilma.
Titular da Rede na comissão especial do impeachment, Aliel tomou posição na tarde de segunda-feira, véspera da votação no colegiado. Antes, com o Salão Verde da Câmara ainda vazio, caminhava pelo carpete com ar angustiado e lágrimas no rosto. Deputado de primeiro mandato – eleito pelo PC do B –, Aliel pesava a consequência da decisão. O voto contra o afastamento pode lhe custar a candidatura à prefeitura de Ponta Grossa, onde enfrentaria um candidato do PT.
– A maior parte do meu eleitorado quer o impeachment, mas não dá. Critico as roubalheiras do PT, mas não consigo votar a favor (do afastamento). Não consigo entregar o Brasil ao PMDB, não consigo votar com Eduardo Cunha – dizia o deputado, enquanto limpava as lágrimas com a manga da camisa.
Aliel teve o apoio de Molon, interessado em reforçar a defesa do mandato de Dilma. Ex-petista, o deputado migrou para a Rede de olho na candidatura à prefeitura do Rio de Janeiro. Pelo PT, aliado do PMDB de Eduardo Cunha no Estado, ele não teria espaço e ficaria sem discurso diante do eleitor de esquerda.
A divisão da Rede se confirma nos assentos ocupados pelos deputados. Amigos que deixaram o PC do B, Derly e Aliel costumam sentar juntos. Miro Teixeira fica nas cadeiras mais ao fundo, e Molon segue na porção da esquerda, ocupada majoritariamente por petistas. Molon passa maior parte do tempo em plenário com os antigos colegas de bancada.
Aliado do PT no governo Lula e no primeiro mandato de Dilma, o PSB orientou seus deputados a votarem pela continuidade do processo de afastamento. Não há resolução no PSB sobre apoiar Temer. A prioridade é aprovar o impeachment.
– Só a carta do PMDB (Uma Ponte para o Futuro) não nos motiva a participar de um eventual governo Temer – diz o deputado Heitor Schuch (PSB-RS).
Dos 31 deputados do partido em exercício, a maior parte deve seguir a diretriz, configurando uma maioria da oposição de esquerda que votará pela saída de Dilma. O Planalto espera ter o apoio de quatro a oito dissidentes. César Messias (AC), que foi vice do governador Tião Viana no Acre, e Bebeto (BA), amigo do ministro Jaques Wagner, podem ficar com Dilma. Janete Capiberibe (AP) segue a mesma posição por questões regionais, já que apoiar a queda do PT leva o PMDB, do rival José Sarney, ao Planalto.
– O PT mudou muito quando chegou a o poder, se moldou aos espaços da burocracia estatal. Discordamos dos rumos da economia. O PT passou a ter praticamente a mesma agenda financeira daqueles que criticava no passado – apontou Beto Albuquerque, vice-presidente nacional do PSB.
Pequenos grupos de esquerda radical, como a Construção Socialista (CS), com atuação no Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro, retiraram o time do campo político-partidário.
– Somos contra o governismo e contra a direita. Não achamos que o impeachment resolva alguma coisa, mas não moveremos uma palha para salvar a Dilma e o PT. Nossa tarefa é mobilizar os trabalhadores para defender os direitos que estão sendo duramente atacados – disse Érico Correa, um dos líderes da CS no Rio Grande do Sul, com passagens recentes por PSTU e, atualmente, PSOL.
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