Dois deputados gaúchos ganharam projeção até então inédita nas suas carreiras na Câmara. Darcísio Perondi (PMDB-RS), um dos líderes do comitê pró-impeachment, e Jerônimo Goergen (PP-RS), articulador da saída do PP da base, tornaram-se expoentes da coalizão que tenta acelerar a deposição da presidente Dilma Rousseff.
Decano da bancada gaúcha, aos 69 anos, Perondi está desde 1995 na Câmara. No sexto mandato, decidiu ampliar sua atuação, concentrada em questões da saúde, já de olho em uma eventual candidatura ao Senado em 2018.
Em fevereiro, entrou no comitê criado pela oposição para angariar votos pela saída de Dilma. Logo, aproximou-se dos movimentos Vem Pra Rua e MBL, responsáveis por manifestações antigoverno e iniciativas para pressionar deputados a assumirem o impeachment. Intenso e, por vezes, exagerado nos gestos e falas, Perondi mergulhou nas articulações e se fascinou pelas redes sociais. Em umas das manifestações em frente ao Planalto, subiu no carro de som, tirou a gravata e o paletó, e ficou a protestar contra o governo. No verbo, é um mordaz crítico ao PT.
– O Perondi é super dedicado nas coisas que faz. Ele coordenou o comitê pró-impeachment e foi decisivo na relação com os movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL – diz o deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS).
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Todos os dias, Perondi atualiza as projeções de votos nos mapas, liga e se reúne com indecisos, marca encontros de parlamentares com o vice Michel Temer no Palácio do Jaburu. Passa em permanente contato com Eliseu Padilha. Isso o colocou no grupo mais restrito de lideranças que tramam a queda de Dilma, procurado por repórteres de veículos de todo o país e correspondentes internacionais. Com a exposição obtida no processo contra Dilma, Perondi acredita que distancia sua imagem de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quem fez campanha ferrenha para a presidência da Câmara em 2015. De opiniões apaixonadas, ele entrou em atrito com Cunha na discussão sobre a maioridade penal. Contrário à proposta bancada pelo presidente da Câmara, Perondi chegou a articular junto ao PT. Mas nada disso significou a projeção alcançada agora.
– É o meu momento de maior visibilidade na Câmara. Fico feliz por estar ajudando a livrar o Brasil de um desgoverno – avalia Perondi.
Aos 40 anos, no segundo mandato, Jerônimo Goergen saiu de um período de baixa, iniciado em março do ano passado, quando entrou na lista de parlamentares investigados na Lava-Jato por suspeita de ter recebido recursos desviados da Petrobras. O caso segue na Procuradoria-Geral da República (PGR) há mais de um ano, sem decisão em favor de denúncia ou arquivamento. O novo momento ficou explícito na quarta-feira, 6 de abril. Enquanto degustava um peixe em um restaurante de Brasília, recebeu uma ligação do ex-ministro Eliseu Padilha. Ao atender, foi colocado na linha com Temer.
– Gostaria de lhe cumprimentar por sua liderança – disse o vice-presidente, que poderá herdar o comando do país.
Até o final de 2014, Jerônimo dificilmente seria procurado por Temer. Ele não era um deputado influente. A virada de Jerônimo é materializada nos pedidos de entrevistas. Em um dia da semana, falou para 14 rádios, quatro jornais de circulação nacional, agência de notícias, uma TV dinamarquesa e com o Wall Street Journal.
– Ganhei espaço porque puxei a frente de um movimento que muitos deputados do PP tinham vontade de fazer, mas que preferiam não liderar para não se indispor com o Ciro. Meu mérito foi meter a cara.
Com cadeira na comissão especial do impeachment, Jerônimo liderou a articulação para que o partido deixasse a base. Orientado nas costuras pelo experiente Espiridião Amin (PP-SC), em março iniciou a batalha para reunir assinaturas pelo rompimento com o PT, que resultaram nas reuniões com o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), interessado em seguir aliado do Palácio do Planalto. O apoio ao impeachment passou por idas e vindas, driblando a sede do PP por cargos. Em 6 de abril, Ciro, próximo do petismo, anunciou que o PP ficaria na base. Jerônimo não desistiu. Com ajuda de Celso Bernardi e Ana Amélia Lemos, costurou o apoio dos diretórios estaduais do PP ao desembarque, estratégia que pressionou Ciro e o líder na Câmara Aguinaldo Ribeiro. Assim, na quarta-feira, o PP deixou a base, entregando o Ministério da Integração Nacional. Estava alcançado um objetivo que, até então, parecia impossível.
A atuação pró-impeachment de Jerônimo e Perondi acabou chamando a atenção e obtendo a admiração de experientes parlamentares da Câmara.
– É merecido (o crescimento político). Sobretudo o Perondi, por ter, desde o início, levado esse trabalho com os movimentos de rua, sempre muito determinado. E o Goergen foi corajoso ao enfrentar o partido e sair vencedor – reconhece o deputado Pauderney Avelino (AM), líder do DEM, que está no sexto mandato de deputado e votou o impeachment de Fernando Collor na Câmara em 1992.