Ao esmiuçar um esquema de pagamento de propinas pela construtura Odebrecht em obras que extrapolam os negócios da Petrobras, a investigação da Lava-Jato mirou no Rio Grande do Sul. Entre os contratos analisados pelos investigadores, está a obra de expansão do trensurb, na Região Metropolitana. Em Porto Alegre, foi identificado um doleiro que seria um dos operadores financeiros do esquema paralelo. Ele foi preso pela Polícia Federal (PF) em casa, na zona sul da Capital.
Alvo de mandado de prisão temporária na 26ª fase da Operação Lava-Jato, Antônio Cláudio Albernaz Cordeiro, apontado pela PF como doleiro, é identificado na investigação como Tonico, mesmo apelido encontrado em planilhas relacionadas à conta supostamente movimentada por ele para distribuir propina a mando da Odebrecht. Planilhas foram apreendidas pela PF.
O doleiro também foi citado na delação premiada de Maria Lúcia Guimarães Tavares, que trabalhava como secretária na Odebrecht, ligada justamente ao setor responsável por cuidar dos pagamentos paralelos secretos da empresa.
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Segundo a investigação, o doleiro é "pessoa relacionada a empresas offshores panamenhas". Cordeiro, que é engenheiro agrônomo, já foi investigado pela PF no Estado por crime contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro. No depoimento de Maria Lúcia à PF está escrito: "Que (ela) se recorda do prestador Tonico em Porto Alegre, a declarante se recorda que era utilizado com menor frequência; Que mantinha contato com a pessoa de Antonio Claudio Albernaz Cordeiro, nome anotado em sua agenda". O doleiro deve ser levado para Curitiba para prestar depoimento.
Repasses para codinomes Varejão2 e Encostado2
As suspeitas relacionadas à expansão do trensurb surgiram a partir da identificação na investigação de Nilton Coelho de Andrade Junior, diretor de contrato da Odebrecht Infraestrutura, responsável pela obra na Região Metropolitana. A expansão foi executada pelo consórcio Nova Via, formado pelas empresas Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez, Toniolo/Busnello e TTrans.
Conforme a investigação, Nilton aparece em planilhas como responsável por solicitação de pagamentos em espécie de R$ 10 mil em 21/10/2014 para uma pessoa identificada pelo codinome Varejão2 e de R$ 100 mil, no mesmo dia, para uma pessoa identificada pelo codinome Encostado2.
Os policiais ainda não sabem a quem esses apelidos se referem. Nilton foi alvo de condução coercitiva na operação desta terça-feira.
O outro foco no Estado é o advogado Douglas Franzoni Rodrigues, que teve a condução coercitiva decretada pelo juiz federal Sergio Moro. Há indícios de que ele recebeu pagamento de R$ 50 mil da Odebrecht. O dinheiro, parte do esquema de contabilidade paralela da empresa para pagamento de propinas, teria chegado às mãos do advogado por intermédio de uma pessoa identificada como "HS". Para investigadores, é possível que se trate de Hilberto Silva, executivo da companhia.
A investigação aponta que a entrega de R$ 50 mil para Douglas teria ocorrido no hotel Mercure, em Brasília, no dia 4 de novembro de 2014. O advogado estava hospedado no apartamento 109. A Lava-Jato quer descobrir os motivos que levaram a Odebrecht a fazer os supostos pagamentos, que teriam relação com uma obra identificada nas planilhas da empresa como "DP-ODB".
Os investigadores sabem que Douglas já trabalhou no governo federal. Ele ocupou cargos na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Ministério de Minas e Energia e Casa Civil. O advogado é sócio do Red Bar, no estádio Beira-Rio. Douglas também foi advogado de Anderson Dorneles, ex-assessor especial da presidente Dilma Rousseff que deixou o cargo no início do ano. Ambos costumavam ser vistos juntos em Brasília. ZH não conseguiu contato com Douglas.
CONTRAPONTOS
O que diz Alexandre Wunderlich, advogado de Antônio Cláudio Albernaz Cordeiro:
"A defesa só vai se manifestar após ter acesso aos autos e vai contribuir para esclarecer os fatos. Meu cliente não é doleiro. É empresário na área de material hospitalar há mais de 10 anos."
O que diz a Trensurb:
"As obras de expansão da Linha 1 a Novo Hamburgo foram auditadas e aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. A empresa não tem conhecimento do teor das informações apuradas pela Polícia Federal e não foi intimada a contribuir com as investigações. No entanto, está inteiramente à disposição das autoridades."
O que diz a Odebrecht:
"A Odebrecht confirma que a Polícia Federal cumpriu mandados de prisão, condução coercitiva e busca e apreensão em escritórios e residências de integrantes em algumas cidades. A empresa tem prestado todo auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários."
Veja a lista de alvos da 26ª fase da Lava-Jato:
Prisão preventiva:
- Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho
- Luiz Eduardo da Rocha Soares
- Olivio Rodrigues Júnior
- Marcelo Rodrigues
Prisões temporárias:
- Antônio Claudio Albernaz Cordeiro;
- Antônio Pessoa de Souza Couto;
- Isaias Ubiraci Chaves Santos;
- João Alberto Lovera;
- Paul Elie Altit;
- Roberto Prisco Paraíso Ramos;
- Rodrigo Costa Melo;
- Sergio Luiz Neves.
- Alvaro José Galliez Novis
Conduções coercitivas:
- André Agostin Moreno
- André Luiz de Oliveira
- Antonio Carlos Vieira da Silva Júnior
- Bruno Martins Gonçalves Ferreira
- Douglas Franzoni Rodrigues
- Elisabeth Maria de Souza Oliveira
- Flavio Lucio Magalhães
- Gustavo Falcão Soares
- Lourival Ferreira Nery Júnior
- Luiz Appolonio Neto
- Luiz Roque Silva Alves
- Maiara Prado Ribeiro do Lavor
- Rogério Martins
- William Ali Chaim
- Alexandre Biselli
- Alyne Nascimento Borazo
- Antônio Carlos Daiha Blando
- Antônio Roberto Gavioli
- Carlos José Vieira Machado da Cunha
- Claudio Melo Filho
- Eduardo José Mortani Barbosa
- Fabio Andreani Gandolfo
- Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis
- Flavio Bento de Faria
- Nilton Coelho de Andrade Júnior
- Marcelo Marques Casimiro
- Camillo Gornati
- Paulo Sergio da Rocha Soares
* Colaboraram Carlos Rollsing e Guilherme Mazui