Aos 59 anos, o oficial da reserva do Exército e advogado Carlos Norberto Barbosa dos Santos planejava se aposentar. Em janeiro, encontrou um amigo dos tempos de Colégio Militar e contou que era hora de aproveitar a vida junto da mulher: queria viajar. Santos foi morto em um assalto na noite de segunda-feira, enquanto esperava a mulher em sua caminhonete, em frente ao apartamento dos sogros, no bairro Tristeza, em Porto Alegre.
Lena Maris Fernandez ouviu ao menos um estampido que atingiu o marido. Ao se aproximar da rua, ainda viu dois dos assaltantes fugirem correndo, e Norberto caído no chão. Ela mesma ligou para os filhos, chamou a polícia e o Samu, mas ele já estava morto.
– Ela (Lena) está em estado de choque, revoltada. Fala toda hora de quão bom ele era e do desprezo que tiveram com a vida dele para dar um tiro na cabeça – contou Juliano Moura Nunes, sócio de Santos em um escritório de advocacia.
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Mais do que parceiro há 10 anos, Nunes se define como "mais um filho de criação" do oficial aposentado.
– Ele não tem nenhum filho de sangue, mas criou os três filhos da Lena Maris como se fossem dele e mais outros tantos que ele ajudou a criar ao longo da vida. Eu sou um deles – afirma o advogado, que é amigo dos enteados, o médico Fernando, 35 anos, e os gêmeos Marcos, advogado, e Marcelo, médico, de 34 anos.
– Ele era um pai, um advogado e um marido muito atencioso, honesto. A escola militar trouxe a ele muito caráter. Ajudou muita gente, de espontânea vontade. Ele era extraordinário – resume Nunes.
A opção pela carreira de advogado veio depois da aposentadoria forçada do Exército. Estudante do Colégio Militar de Porto Alegre e da escola preparatória de cadetes de Campinas, Santos se formou como aspirante em 1979 na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende. Pouco tempo depois, devido a um problema grave no joelho, acabou sendo reformado como capitão.
Estudou Direito na Universidade de Passo Fundo (UPF) e lá iniciou a nova profissão. Voltou para Porto Alegre e morava com a mulher e Marcos no bairro Tristeza, perto do Guaíba. Mesmo impedido de atuar como oficial, permanecia como um "grande colaborador" do Colégio Militar.
– Comprava livros para os alunos que têm problemas financeiros. Sempre como doador anônimo, pois para ele o importante era ajudar. Tinha uma biblioteca fantástica em casa. E quando não tinha mais lugar lá, doava os livros pra gente – conta o amigo e chefe da Comunicação Social do Colégio Militar, coronel Leonardo Araújo.
– Era um cara de paz. Extremamente gentil. Por isso, causa tanta comoção o assassinato dele – conclui.
O velório de Santos ocorrerá a partir das 19h30min desta terça-feira, na capela B do Cemitério Parque Jardim da Paz. O sepultamento será realizado na quarta-feira, às 17h30min.