Logo na abertura das 26 páginas em que ordena busca e apreensão contra Luiz Inácio Lula da Silva e familiares, o juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, justifica porque tomou essa decisão drástica.
"Observo que, no esquema criminoso que vitimou a Petrobras, surgiram, mais recentemente, alguns indícios do possível envolvimento do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva", escreve Moro.
O juiz detalha vários episódios que necessitam de maiores esclarecimentos, os quais o ex-presidente Lula e familiares teriam obrigação de detalhar. Para isso, o magistrado considera necessário buscar documentos que estariam em propriedades privadas dos investigados. As buscas e apreensões incluem os três filhos do ex-presidente (Fábio, Sandro Luís e Luís Cláudio), além da ex-primeira-dama Marisa Letícia.
Leia mais:
Lula não está "imune à investigação", diz Moro em despacho
Saiba quais são os elementos que sustentam a operação da PF contra Lula
"Esta pergunta não está à altura dos problemas do país", afirma Lula sobre pedalinhos
Confira abaixo os casos citados por Moro:
Benção de Lula para sonda petrolífera
Moro se refere a diversos "criminosos colaboradores" que falam da influência de Lula em negócios irregulares com a Petrobras. Um dos operadores do pagamento de propinas no esquema criminoso da Petrobras, Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, declarou que o pecuarista José Carlos Bumlai lhe confidenciou ter havido interferência de Lula na contratação do Grupo Schahin para operação do navio-sonda Vitoria 10000, visando à quitação de empréstimo fraudulento.
– Bumlai chegou a dizer a Fernando que o negócio estava “abençoado” pelo presidente Lula – citou Baiano.
O juiz transcreve também trecho de depoimento de Salim Taufic Schahin, um dos sócios do Grupo Schahin, colaborador da Lava-Jato, que confirmou a prática dos crimes e declarou que, na época, lhe foi relatado que o contrato entre a Petrobras e a Schahin teria obtido a aprovação do ex-presidente.
Empresa de jogos do filho de Lula
Moro salienta que, dos pagamentos efetuados pelo Instituto Lula, R$ 1.349.446,54 foram repassados (entre 2012 a 2014) à empresa G4 Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda. Ela tem como um dos sócios Fábio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente, e ainda Fernando Bittar e Kalil Bittar. O juiz estranha o reduzido número de funcionários da empresa e considera que ela tem de ser investigada.
Instituto Lula sob suspeita
Relativamente ao Instituto Lula, Moro destaca que foi presidido por José de Filippi Júnior em 2011. Ele era tesoureiro da reeleição do ex-presidente Lula em 2006.
“A referência é relevante, pois José de Filippi é citado expressamente pelo criminoso colaborador Ricardo Ribeiro Pessoa, presidente da UTC Engenharia, e também pelo subordinado deste Walmir Pinheiro Santana, como responsável pelo recebimento de cerca de R$ 2,4 milhões oriundos de contratos celebrados com a Petrobras pelo Consócio Quip S/A, integrado pelas empreiteiras Queiroz Galvão, UTC e Iesa. Também teria recebido R$ 400 mil provenientes de acertos de propina”, comenta Moro no despacho.
Sítio em Atibaia
Moro aponta que as provas, "em cognição sumária", são no sentido de que Luiz Inácio Lula da Silva é o real proprietário do sítio em Atibaia e que a propriedade sofreu reformas significativas, de valor expressivo, ainda que sem dimensionamento do valor total, por ação de José Carlos Bumlai e da Odebrecht, além de a OAS ter providenciado a aquisição e a instalação da cozinha.
Apartamento no Guarujá
O juiz diz que, "de maneira completamente incomum", a OAS arcou com elevadas despesas de instalação de móveis na cozinha e dormitórios do apartamento (cerca de R$ 320 mil) do apartamento no Guarujá que pertenceria a Lula.
Entre os indícios mencionados por Moro estão:
– Funcionária da empresa que realizou a reforma no apartamento confirmou a participação da esposa e do filho de Lula em reunião com executivos da OAS para tratar de detalhes da obra.
– Foi identificada no aparelho celular utilizado pelo presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, vulgo Léo Pinheiro, troca de mensagens, em 12 e 13 de fevereiro de 2014, com Paulo Cesar Gordilho, diretor da OAS, da qual é possível inferir que os destinatários das cozinhas tanto do sítio como do apartamento seriam o ex-presidente e a ex-primeira-dama.
O diálogo:
Paulo Gordilho: "O projeto da cozinha do chefe tá pronto, se marcar com a madame pode ser a hora que quiser."
Léo Pinheiro: "Amanhã às 19hs. Vou confirmar. Seria bom também ver se o do Guarujá está pronto."
Paulo Gordilho: "Guarujá também está pronto."
Leo Pinheiro: "Em princípio amanhã, às 19hs."