A Polícia Federal (PF) abriu nesta quinta-feira inquérito para apurar tentativa de homicídio e injúria racial sofridas pelo aluno de Medicina Veterinária da UFRGS Nerlei Fidelis, em frente à Casa do Estudante do campus central da universidade, na Capital. Indígena e cotista de 31 anos, Fidelis registrou ocorrência na sede da PF na terça-feira, mas o caso ocorreu na madrugada do último sábado, dia 19. A investigação ficou com a Delegacia de Defesa Institucional (Delinst) da PF.
Câmeras de segurança da Casa do Estudante flagraram a agressão e as imagens já foram pedidas pela PF à UFRGS. À 1h39min, Nerlei e um sobrinho, identificado apenas pelo nome indígena de Catãi, passam por um grupo de rapazes que estão em frente à Casa do Estudante e sobem a escadaria do número 41 da Avenida João Pessoa. O vídeo não tem som, mas neste momento, segundo Nerlei relatou à polícia, foi provocado pelo grupo.
– O que estes indígenas estão fazendo aí? – teriam dito em meio a outras provocações.
Os indígenas então vão em direção ao grupo e começam a conversar. Cinco minutos se passam até que as agressões começam. O estudante é derrubado no chão, enquanto o sobrinho tenta se desvencilhar do grupo. Veja o vídeo:
De acordo com o advogado Onir de Araújo, Nerlei ficou cerca de 10 minutos desacordado, foi socorrido por Catãi e levado até um grupo de índios caingangues que está acampado na Praça da Alfândega. Ele ainda critica que não houve esforço dos seguranças da universidade para chamar o Samu ou a polícia, mesmo que alguns estudantes, que testemunharam da sacada as agressões, terem pedido ajuda. Fidelis retornou às aulas na quarta-feira.
– Num primeiro momento, ele ficou reticente de fazer ocorrência por questões culturais e desconfiança nas instituições – esclarece Araújo. – Depois de conversar conosco, ele se deu conta de que conhece muitos cotistas e que a sua denúncia poderia provocar mudanças.
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Após o registro da ocorrência na PF, Nerlei prestou depoimento a um delegado plantonista e apontou estudantes suspeitos de terem cometido as agressões. Ele também fez exame de corpo de delito.
A UFRGS informou que está ciente do assunto e vai apurar o que aconteceu. A partir da confirmação, diz que tomará as "medidas disciplinares cabíveis conforme o código disciplinar da universidade". Para o advogado Onir de Araújo, que é líder do movimento quilombola no Estado, a agressão de Nerlei é o caso mais extremo da violência que vem atingindo indígenas e negros que frequentam a universidade. Segundo ele, o número desses segmentos cresceu na UFRGS desde que o sistema de cotas foi implementado, em 2008.