Diante de políticos, empresários, sindicalistas, servidores e representantes de outros poderes, o governador José Ivo Sartori fez nesta sexta-feira uma espécie de convocação da sociedade para enfrentar a crise financeira do Estado e angariar apoio na ação judicial que questiona o processo de renegociação da dívida gaúcha com a União. Cerca de 250 pessoas estiveram presentes no Palácio Piratini, segundo o cerimonial do governo.
Desde que Sartori assumiu, poucas vezes se viu tanta gente reunida para um evento no salão Negrinho do Pastoreio. A mobilização foi tão massiva que o espaço ficou lotado e pessoas tiveram de ficar do lado de fora, nas escadarias, fosse por falta de lugar, fosse pelo calor sufocante que fazia no local.
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O governador tratou de deixar claro o objetivo do encontro logo de início, no discurso de abertura do evento. De acordo com Sartori, a luta pela recuperação financeira do Estado deve ser transparente e contar com o apoio de todos os setores da sociedade, criando uma unidade de mobilização e fortalecendo a articulação política.
– Estamos cumprindo um papel que não é do governo. É um papel de Estado. Em busca de soluções coletivas – destacou.
Entre as figuras políticas que marcaram presença estavam o ex-senador Pedro Simon, os senadores Lasier Martins (PDT) e Ana Amélia Lemos (PP), a presidente da Assembleia Legislativa, Silvana Covatti (PP), e o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, além de secretários e deputados federais e estaduais. Bancos, empresas, federações, sindicatos e cooperativas também foram representados.
A presença de diversas entidades não significa um apoio imediato ao apelo do governador. Em alguns casos, na verdade, representa apenas a tentativa de abrir diálogo com o governo, mesmo que ainda não haja o retorno esperado.
– Essa tentativa de aproximar vários setores, chamar as entidades para participar, só vai prosperar se houver diálogo. Ninguém vai aceitar passivamente e aplaudir as medidas do governo sem participar e elaborar soluções conjuntas. Tem de haver diálogo e não monólogo – sustenta o presidente da Federação Sindical dos Servidores Públicos (Fessergs), Sergio Arnoud.
Convidada a participar do evento, mas impossibilitada devido a outros compromissos com a categoria em Brasília, a presidente do Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers-Sindicato), Helenir Oliveira, afirma que os servidores sempre estarão presentes para ouvir o que o governo tem a dizer, mas ressalta a desconfiança da categoria com Sartori.
– A presença das entidades não quer dizer apoio. Se for simplesmente o mesmo choro de crise e o Estado continuar penalizando os servidores, estaremos diante de um ato totalmente desrespeitoso. Pede apoio e parcela nossos salários? – questiona a líder do Cpers. – Sempre estaremos presentes para ouvir, mas esse governo já demonstrou que não merece a nossa confiança – acrescenta.
Por outro lado, a senadora Ana Amélia Lemos (PP) destaca o sucesso da mobilização encabeçada pelo governador e diz que os interesses do Estado estão acima de qualquer intenção política.
– O governador Sartori conseguiu criar uma unidade de posições, com discursos sintonizados. Como você enfrenta uma crise, uma guerra? Através da união. De fato, ele conseguiu uma demonstração de relevância na medida em que as principais lideranças de diversos segmentos do Estado estiveram presentes comenta a senadora.
– Nos momentos de crise, a união de todos é um grande facilitador para as soluções. Esse é o momento que estamos vivendo, de absoluta crise financeira. É obrigação da sociedade gaúcha como um todo, através de todos os setores, tentar viabilizar o melhor plano de Estado – avalia o vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Humberto Busnello.
Depois do evento, em entrevista coletiva, Sartori salientou que "chegou a hora de defender os interesses" e reafirmou a convocação:
– O ato não foi apenas sobre a ação judicial. Foi um momento de encontro das entidades, das organizações, das mais variadas camadas da sociedade. Chegou a hora de defender os interesses do Rio Grande do Sul – disse o governador. – O Rio Grande precisa de vocês. Todos por todos e todos pelo Rio Grande – apelou Sartori.
A expectativa do governo é de que o mandado de segurança que questiona o cálculo da União no processo de renegociação da dívida seja analisado em breve. O Piratini e a Procuradoria-Geral do Estado têm convicção de que a tese jurídica é "bastante consistente" e que deverá ser aceita na Justiça.
*Zero Hora