O pedido de demissão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, veio após o aumento das pressões do Partido dos Trabalhadores (PT) para controlar a ação da Polícia Federal na Operação Lava-Jato que, na última semana, prendeu João Santana, o responsável pelo marketing das últimas campanhas presidenciais do partido e se aproxima do ex-presidente Lula.
Nesta segunda-feira, Cardozo oficializou a decisão tomada em reunião com a presidente Dilma Rousseff ainda no domingo: deixar o cargo, mas não o governo. Ele será o novo titular da Advocacia Geral da União (AGU), no lugar de Luís Inácio Adams. Para o Ministério da Justiça, a presidente irá nomear o procurador baiano Wellington Cesar.
Leia mais
Presidente Dilma aceita pedido de demissão de José Eduardo Cardozo
João Santana é preso na 23ª fase da Lava-Jato
Um dos quatro remanescentes do primeiro escalão que tomou posse com Dilma ainda no primeiro mandato, em janeiro de 2011, Cardozo é um raro confidente a quem a petista devota absoluta confiança. Foi coordenador da campanha presidencial de 2010 e sempre cotado para uma indicação ao Supremo Tribunal Federal.
Nem mesmo a amizade com Dilma, contudo, foi capaz de lhe garantir a tranquilidade para continuar no cargo. Nas últimas semanas, o PT centrou fogo no ministro, acusado de não controlar a Polícia Federal e tampouco conter o vazamento das investigações contra próceres do partido, em especial o ex-presidente Lula.
Foi para protestar contra a suposta frouxidão de Cardozo que um grupo de 10 parlamentares foi até seu gabinete, na segunda-feira da semana passada. Oficialmente, a pauta da audiência era a entrega de uma representação solicitando que o Ministério da Justiça investigasse as suspeitas de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se valeu de uma empresa para entregar dinheiro no Exterior à ex-amante, Miriam Dutra. A conversa quase se transformou em discussão, com os deputados afirmando rispidamente que a permanência de Cardozo no governo não agradava ao partido e que ele não seria bem-vindo à festa de aniversário do PT, realizada no final de semana.
Quatro dias depois, Cardozo pediu à PF a abertura de inquérito para investigar os repasses a Miriam Dutra e não compareceu ao evento petista.
– Se ele tivesse ido, seria vaiado – resume um dirigente petista.