O governo de Dilma Rousseff e o PT sofreram nesta segunda-feira mais um golpe desferido pela Operação Lava-Jato. Ao decretar a prisão do marqueteiro João Santana, o juiz Sergio Moro reforçou os indícios de que as campanhas presidenciais do partido tenham sido abastecidas com dinheiro desviado de contratos da Petrobras.
Em conversas com ministros, Dilma afirmou que estava "tranquila".
– Não tem nada a ver com minha campanha – declarou a presidente.
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Responsável pelo marketing do PT nas eleições de 2006, 2010 e 2014, Santana estava na República Dominicana comandando a campanha de reeleição do presidente Danilo Medina. Nesta segunda-feira, anunciou que tomará um avião de volta para o Brasil. Junto está sua mulher, Mônica Moura, que também teve pedido de prisão decretada. Em carta endereçada ao Partido de la Liberación Dominicana, o publicitário pede desligamento da campanha, diz que as acusações são "infundadas" e que o Brasil "vive um clima de perseguição".
De acordo com investigações da Lava-Jato, Santana recebeu pelo menos US$ 7,5 milhões em contas no Exterior. Desse dinheiro, US$ 4,5 milhões teriam sido repassados em nove depósitos pelo lobista Zwi Skornicki, preso pela Polícia Federal (PF) e considerado operador de propina no esquema da Petrobras. Mais US$ 3 milhões teriam sido pagos em offshores (empresas ou contas em paraísos fiscais) vinculadas à Odebrecht.
Para dirigentes do PT, a iniciativa é uma tentativa de criminalizar a campanha presidencial de 2014 e, assim, atingir a imagem de Dilma. A avaliação é de que, embora as suspeitas contra o marqueteiro não envolvam diretamente a petista, a sua proximidade com a presidente empurra novamente o Palácio do Planalto para o centro das investigações da PF.
No total, cerca de 300 agentes federais participaram da 23ª fase da Lava-Jato. A nova etapa teve 51 mandados judiciais, sendo 38 de busca e apreensão, dois de prisão preventiva, seis de prisão temporária e cinco de condução coercitiva. Os policiais vasculharam casas e empresas na Bahia, no Rio e em São Paulo, apreendendo veículos de luxo, obras de arte, uma lancha e pelo menos R$ 500 mil em espécie.
O fio condutor da investigação que chegou a Santana foi uma carta enviada pela mulher dele a Skornicki e apreendida em fevereiro do ano passado, durante a 9ª fase da Lava-Jato. Na correspondência, ela orientava o lobista a formular contrato de prestação de serviço, cujo respectivo pagamento deveria ser feito por meio de depósitos em duas contas do Citibank, em Londres e Nova York. As contas pertencem à offshore Shellbill Finance SA, com sede no Panamá e de propriedade de Santana e Mônica.
Imóvel em São Paulo é sequestrado pela Justiça
Como modelo para o contrato, Mônica apresentou documento similar, firmado pela Shellbill com a Klienfeld, offshore que seria controlada pela Odebrecht. De acordo com o MPF, a empreiteira usou a Klienfeld e outra offshore no Exterior, a Innovation, para repassar R$ 3 milhões para a Shellbill. O rastreamento dos depósitos foi possível graças a acordo de cooperação entre as autoridades financeiras do Brasil e dos Estados Unidos.
Foi assim que foi descoberto que Santana usou US$ 1 milhão depositados no Exterior para quitar parte da compra de um apartamento em São Paulo, avaliado em R$ 3 milhões. O imóvel foi sequestrado pela Justiça Federal. Para a PF, a aquisição foi uma operação de lavagem de dinheiro. No sábado, a defesa do marqueteiro protocolou petição informando Moro que prestaria depoimento assim que fosse convocado.
– Entre 2013 e 2014, Santana recebeu mais de R$ 50 milhões no Brasil. Trata-se de um dinheiro lícito. Queremos saber agora por que uma pessoa que recebe tanto dinheiro no Brasil precisa receber um parte bem menor em contas no Exterior. Há indicativos claros de que esses valores tem origem na corrupção da Petrobras – disse o delegado Filipe Pace, um dos responsáveis pela Operação Acarajé.
O delegado acrescentou que tanto Santana quanto Mônica tinham conhecimento de que o dinheiro transferido para suas contas no Exterior eram de "origem espúria".