O último dia de funcionamento de uma das unidades do supermercado Nacional – que irá encerrar as atividades de pelo menos cinco estabelecimentos nesta quarta-feira em Porto Alegre – foi marcado por tumulto e revolta. Desde o início da manhã, clientes se aglomeravam em frente ao local, na Rua Francisco Trein, na zona norte da Capital, gritando e exigindo descontos que, conforme eles, haviam sido anunciados no dia anterior.
De acordo com os consumidores, o gerente da loja teria prometido, na véspera, que todos os produtos do supermercado seriam vendidos pela metade do preço. No entanto, quando as portas foram abertas, somente as mercadorias perecíveis estavam com valor reduzido.
– Eu preciso comprar materiais de limpeza e o gerente garantiu todos os descontos, inclusive botou cartazes dizendo isso. Por isso, madruguei para ser uma das primeiras da fila. Não é certo o que estão fazendo com a gente – relatou a auxiliar de enfermagem Alair Simão, 61 anos, que aguardava no local desde as 5h30min.
Em torno das 7h30min, quando os primeiros clientes se direcionavam ao caixa para concluir as compras, a confusão começou. Ao se darem conta de que não teriam o desconto esperado em todos os produtos, se recusaram a pagar o valor estabelecido e avisaram os que aguardavam do lado de fora. Devido à grande demanda, o supermercado havia limitado o número de clientes dentro do estabelecimento.
Revoltados, cerca de cem clientes que aguardavam para entrar começaram a gritar e jogar cestos contra os vidros da loja. A segurança do estabelecimento tentou conter os compradores em um primeiro momento, mas logo a Brigada Militar foi acionada.
Frente às ameaças, as portas foram fechadas e trancadas com cadeados, deixando uma pequena parte dos consumidores dentro do supermercado. Enquanto isso, uma maioria entoava pelo lado de fora: "cinquenta por cento".
– Isso aqui parece um cárcere privado, é um absurdo. Estamos cansados, com calor e sem saber o que fazer. Nessas horas o povo deve permanecer unido, pois estamos sendo vítimas de uma propaganda enganosa – revoltou-se Conceição Paim, de 60 anos.
Primeira na fila, a cliente havia chegado no local às 4h30min da manhã com o neto, Guilherme Covolo, de 19 anos, que tentava lhe ajudar a carregar os produtos. A dupla havia decidido permanecer dentro do local até conseguir comprar com o desconto esperado.
Por volta das 10h, Mario Mercatto, um dos diretores do grupo Walmart, chegou para conversar com os clientes que aguardavam dentro do local.
Ele reafirmou que a promoção era válida apenas para produtos perecíveis. Já um representante da assessoria de imprensa da rede garantiu que não houve nenhum comunicado oficial, tampouco uma divulgação externa sobre a suposta promoção em toda loja. Ele ainda reforçou que algumas lojas estavam autorizadas a dar descontos apenas para produtos perecíveis.
O assessor afirmou também que o gerente do supermercado foi desligado na segunda-feira, portanto não poderia ser responsável pela informação que surgiu na terça-feira referente a queima de estoque em todo estabelecimento.
A decisão inicial da empresa era de retirar os clientes que estavam na loja e fechá-la antecipadamente, sem permitir a entrada de nenhum outro consumidor. Cerca de meia hora depois, entretanto, a empresa decidiu fornecer os 50% de desconto somente para aqueles que estavam dentro do supermercado, como uma tentativa de fazê-los deixar o local. Aos que aguardavam do lado de fora, fichas foram distribuídas para controlar a entrada, e a promoção inicial, que valia somente para produtos perecíveis, foi mantida.
Logo, carrinhos transbordando produtos formavam filas nos caixas. Um dos primeiros que conseguiu concluir a compra foi o funcionário público Marcos Moraes, de 65 anos. Orgulhoso exibindo uma nota fiscal de quase um metro de comprimento e contabilizava uma conta de mais de R$ 700, ele alegava:
– Valeu a pena toda a confusão, o desconto foi muito grande. Eu queria comprar leite, mas acabei pegando de tudo um pouco – relatou, enquanto tentava empurrar as compras para fora do estabelecimento.
Funcionários do Procon foram acionados e chegaram ao local para ajudar a controlar a situação, mas acabaram fazendo, também, um pente-fino no supermercado. Conforme o diretor do Procon Porto Alegre, Cauê Vieira, foram identificados produtos com irregularidades (fora da data de validade, sem refrigeração adequada, entre outros):
– Vamos fazer um auto de infração por esses produtos. Entretanto, sobre a questão da promoção que os clientes alegam ter sido divulgada, não existem elementos de prova. Acreditamos que a oferta foi entendida de forma errada pela população.