Há quatro meses, o escritor e religioso Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, revelou temer que a presidente Dilma Rousseff renunciasse. Hoje, mesmo com a ameaça de impeachment, o amigo de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que esse receio diminuiu. Segundo ele, Dilma conta com o apoio dos movimentos sociais, do Judiciário e da maioria do Congresso.
Para Frei Betto, a aceitação do pedido de impeachment pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é "mera retaliação", e o processo "não será aprovado por carecer de consistência". Mas, na entrevista concedida a Zero Hora por e-mail, o religioso que participou da criação do PT , também classifica como "péssimos" os 11 primeiros meses do segundo mandato da presidente.
O escritor também afirma que, para se recuperar, o partido precisa fazer "autocrítica, expulsar os corruptos, voltar a ser coerente com seus documentos originários". Ao avaliar o papel do ex-presidente nesse momento, diz que o líder petista está empenhado "em impedir que o governo Dilma afunde o país e, com ele, o PT e a nova candidatura de Lula em 2018".
Como avalia a decisão de Cunha de acolher o pedido de impeachment contra a presidente Dilma?
Mera retaliação. Ele sabe que vai perder o mandato e tenta se vingar. O mais estranho é que ainda pertença ao PMDB, o maior partido da base aliada - que o mantém nos quadros partidários e, ao mesmo tempo, permite que encaminhe o impeachment de Dilma, que não será aprovado, por carecer de consistência.
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Há quatro meses, em entrevista a Folha de S.Paulo, o senhor afirmou que temia que Dilma renunciasse. Esse temor agora aumentou?
Diminuiu. Hoje a presidente Dilma sabe que conta com o apoio dos movimentos sociais, do Judiciário e da maioria do Congresso, apesar dos pesares.
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O senhor foi vizinho de Dilma em Belo Horizonte, estiveram no mesmo presídio durante a ditadura. Como acha que ela enfrentará a pressão de um processo de impeachment, em um momento de baixa popularidade e de crise econômica?
Ela foi legítima e legalmente eleita e não há razões que justifiquem sua demissão. Se ela aguentou a clandestinidade, a tortura e a prisão, mais facilmente suportará a pressão como presidente.
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A abertura do processo de impeachment contra Dilma paralisaria ainda mais o país? Quais seriam os impactos?
Sim, enquanto Eduardo Cunha não cair e o impeachment não for votado, o Brasil continuará à deriva, paralisado, em estado de catatonia cívica.
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Como avalia esses primeiros 11 meses do segundo mandato?
Péssimos. O ajuste fiscal, ainda não aprovado, mas já realizado em várias áreas de governo, penaliza sobretudo os mais pobres. Esse ajuste quer economizar R$ 100 bilhões, enquanto, via dívida pública, o governo entrega ao mercado financeiro R$ 510 bilhões.
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Vê alguma chance de Dilma recuperar parte da popularidade ou dar uma guinada? O que deveria ou poderia ser feito?
Dilma só recuperará credibilidade se acatar as demandas dos movimentos sociais: centrar o peso do ajuste na elite brasileira e promover reformas estruturais.
Qual deve ser o papel de Lula nesse momento?
O que ele está exercendo, ao se empenhar em impedir que o governo Dilma afunde o país e, com ele, o PT e a nova candidatura de Lula em 2018.
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O PT ainda tem salvação?
Sim, se fizer autocrítica, expulsar corruptos, voltar a ser coerente com seus documentos originários.