É nesta época do ano que uma corrente do bem se forma entre os leitores do Diário Gaúcho. Durante dois meses, o jornal recebeu e publicou os pedidos especiais de crianças, adolescentes, adultos e idosos na seção Meu Sonho de Natal. Parte destes desejos foram atendidos por outros leitores. Nesta semana, durante dois dias, uma equipe saiu para distribuir mais de 300 presentes, de material escolar a ceias natalinas. Em quase 500km percorridos, moradores de nove cidades da Região Metropolitana foram contemplados com o carinho de doadores anônimos.
Nem mesmo as dificuldades de morar em endereços inexistentes no mapa, de conviver com ruas tomadas pela violência do tráfico de drogas ou de saber que ainda há muito a ser feito para melhorar as condições de vida nas regiões periféricas tiram o brilho dos olhos de quem recebe a visita do Papai Noel. Mais do que presentes, muitas das pessoas queriam apenas contar as histórias delas de superação e abraçar o Bom Velhinho.
Ceia para os irmãos
Mesmo sem ainda sem mãe, a doméstica Iris Nathalia Romero, 19 anos, da Vila Chácara do Banco, no Bairro Restinga, assumiu uma responsabilidade que poucos jovens teriam coragem: criar sozinha os quatro irmãos mais novos, Fabio Gabriel, de cinco, Gabriele, seis, Geovana, 12, e Kildere, 14 anos. Em março deste ano, a mãe, Luciana, morreu vítima de um aneurisma. Sem a presença do pai, restou a Iris, como ela contou na carta, cuidar dos menores.
- Meu sonho de Natal era a minha mãe, mas como nessa vida isso não pode acontecer, eu queria ganhar uma ceia de Natal para agradar as crianças e material escolar, pois os quatro estão estudando - contou Iris no pedido.
O resultado foram inúmeros presentes enviados por diferentes leitores. O gesto coletivo emocionou Iris, que agradeceu:
- Eu não esperava tanto carinho. Apesar de tudo, nosso Natal será bonito.
Solidariedade para acalmar a saudade
A bondade está no coração de Nasari Farias, 66 anos, do Bairro Lomba do Pinheiro. Por compaixão, adotou a vizinha Taielem, 14 anos, que perdeu os pais logo após o nascimento e não tinha outros familiares. A solidariedade de Nasari ampliou-se ao perder um filho, vítima de latrocínio. Foi a forma encontrada para diminuir a saudade. Hoje, ela faz festas comunitárias para crianças carentes da região. O presente pedido para Taielem, material escolar e roupas, foi uma forma de alegrar a menina.
- A gente enfrenta tantas dificuldades que neste período quer só ver os filhos felizes - justificou, emocionada, ao ver a menina sorrindo com o pacote nas mãos.
Felicidade em família
Ao ver a equipe do Diário Gaúcho na porta de casa, a educadora social Graziela Matos, 34 anos, da Vila Laranjeiras, no Morro Santana, não conteve as lágrimas. Era a primeira vez, garantiu, que uma carta dela era atendida. Na verdade, o pedido foi para o filho Jorge Manoel Santos Souza, três anos.
- Oi, Papai Noel! - gritou o pequeno, abraçando as pernas do Bom Velhinho enquanto ele entrava na casa da família.
- Vocês não têm ideia da emoção que eu estou sentindo por ver o meu filho feliz. Só desejo paz e alegria para todos - disse Graziela.
Foto com o Papai Noel
Não foram apenas os leitores que enviaram cartas os contemplados com um abraço do Papai Noel. Enquanto percorria as ruas da Vila Santa Rosa, na Zona Norte, a equipe foi parada por Fernanda Oliveira, 23 anos, com um pedido singelo: queria fotografar os sobrinhos dela, Pedro, cinco, e Erick de Jesus, oito, ao lado do Velhinho.
- É a primeira vez que eles terão uma foto com "ele". Que baita presente! - comentou, faceira, Fernanda.
Surpresa na entrega
Bom aluno, Luiz Antônio Rodrigues, nove anos, da Vila Santa Rosa, na Zona Norte, pediu material escolar para usar no novo ano letivo. No dia da entrega, porém, ele estava na igreja quando o Papai Noel visitou a família. Quem recebeu o presente foi a mãe, Marlene Rodrigues, 36 anos, que admitiu surpresa com a visita.
- Escrevemos nos outros anos, e nunca ganhamos. Desta vez, veio. Deus sabe a hora certa. Ele vai ficar muito feliz com o presente - garantiu Marlene, ao lado do marido Airton Luiz Rockembach, 35 anos.
Pedido para os bisnetos
Ao sair na porta e ver a equipe, a bisavó Cesarina Rocha dos Santos, 68 anos, do Bairro Rubem Berta, na Zona Norte, abriu um sorriso. Era o que faltava para encerrar com boa notícia o ano que, segundo ela, foi muito difícil. Cesarina escreveu pedindo brinquedos para os bisnetos Audrey, cinco anos, e Brayan, sete anos. Com problemas financeiros, Cesarina não teria condições de comprar lembrancinhas para os dois.
- Só quero agradecer a quem decidiu me ajudar. Meu Natal ficou completo - disse.
À espera do Bom Velhinho
Pelo menos 15 alunos do Centro Comunitário Paulo Sexto, na Grande Cruzeiro, em Porto Alegre, tiveram as cartinhas atendidas. Outros, receberam kits de presentes enviados por leitores anônimos. Mesmo contentes pela presença do Papai Noel, a gurizada se manteve tão comportada que até o Bom Velhinho se surpreendeu.
Alegria em dobro
O sorriso largo da estudante Karina de Lima Luz, 16 anos, do Jardim Aparecida, em Viamão, foi a prova de que o presente recebido das mãos do Papai Noel era tudo o que ela esperava. Depois de três anos enviando cartas para o Meu Sonho de Natal, pela primeira vez a jovem foi contemplada. Ganhou cinco calças jeans e um smartphone.
- Era tudo o que eu queria. Não tenho palavras para agradecer quem me presenteou - comentou, emocionada.
A mãe de Karina, Lurdes Luz, 58 anos, era só sorrisos.
- A vinda do Papai Noel já é um presente que a gente não esperava - confessou, antes de tirar mais uma foto com ele.
Presente em 2015
No ano passado, a dona de casa Laura Carvalho, 40 anos, do Bairro Fluorescente, em Viamão, escreveu uma carta pedindo ajuda para uma vizinha. E ela foi contemplada.
Desta vez, depois de ter a casa destelhada num temporal e enfrentar dificuldades financeiras, Laura decidiu escrever pedindo auxílio. Recebeu cesta básica e material escolar para os filhos. Emocionada, comemorou feito criança:
- Estes presentes vão dar ânimo. O pior já passou. Agora, é seguir em frente.
Sem fôlego
Emerson Costa, 13 anos, da Vila Valença, em Viamão, tinha um sonho: ganhar um carrinho com controle remoto. As mãos dele tremiam ao abrir o primeiro dos dois pacotes que recebeu. Nervoso, ficou quase sem fôlego ao ver o presente.
- Olha, mãe! É o meu (carro)! - comentou, com os olhos arregalados.
Incrédulo com o que acabara de ganhar, pois não esperava ser presenteado, o menino nem tentou abrir o segundo pacote. Precisou ser lembrado pelos familiares. A surpresa foi ainda maior: veio o segundo carro.
- Sonhava em brincar com um destes. Estou muito, mas muito feliz - resumiu.
Para fazer sacolés
A dona de casa Ivone Gross, 50 anos, da Vila Umbu, em Alvorada, acreditou na presença do Bom Velhinho para começar 2016 com novas metas. Com o liquidificador que ganhou, ela pretende fazer sacolés para vender e ampliar a renda da família:
- Esperei e confiei que ganharia. Esperei o dia inteiro pela chegada dele. Valeu acreditar que era possível.
Valeu pelo Papai Noel
Ao abrir o portão, a dona de casa Iracema Mendes, 77 anos, no Jardim Maringá, em Alvorada, ergueu os braços e agradeceu aos céus pela presença do Papai Noel na casa da família. Os bisnetos presenteados, Angélica e Andersom, estavam viajando. Foi ela quem recebeu por eles.
- Meu maior presente está sendo abraçar o Papai Noel pela primeira vez. Só de vê-lo já está de bom tamanho! - afirmou, faceira.
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