Para esclarecer as suspeitas levantadas pelo Ministério Público em relação ao deputado Mário Jardel (PSD), a corregedoria da Assembleia Legislativa enfrenta outro desafio: o de clarear onde está a verdade na guerra de versões e de gravações que vem ocorrendo desde a deflagração da Operação Gol Contra.
Nesta terça-feira, a pedido da corregedoria, técnicos do Setor de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública (SSP) fazem uma varredura no gabinete de Jardel para colocar um ponto final nas supeitas de que há escutas clandestinas no local. Se algo for encontrado, será levado à exame pelo Instituto-geral de Perícias (IGP). Na quinta-feira da semana passada, a defesa do deputado apresentou ao corregedor do parlamento, deputado Marlon Santos (PDT), um equipamento de escuta supostamente encontrado na sala da bancada do partido. A ação causou alvoroço na Casa, e Marlon determinou que a bancada e o gabinete de Jardel fossem lacrados. Mas só nesta terça-feira o corregedor soube que a bancada estava desativada desde o dia 30, quando o MP deflagrou a operação.
– Eu não sabia que a bancada não existia mais (no local em que funcionava antes). Foi uma surpresa. Esse equipamento me foi entregue pelo advogado de Jardel (Amadeu Weinmann) e por um ex-assessor. Teria sido achado na bancada, mas não me disseram quando. Hoje ainda quero tentar ter uma resposta sobre o que há nesse equipamento, que não parece ser de escuta ambiental, mas sim, telefônica – explicou o corregedor.
Segundo ex-chefe de gabinete, R$ 17 mil mensais eram repassados a Jardel
A teia de responsáveis pela eleição de Jardel
Zero Hora apurou que a sala da bancada do PSD, que funcionava no 5º andar, teve a porta arrombada por funcionários da Superintendência Administrativa e Financeira da Assembleia no dia 30, mesmo dia em que o MP fazia buscas no gabinete de Jardel. O objetivo era transferir a bancada, já que havia definição de que o local seria transformado em gabinete parlamentar. Todos os móveis e divisórias foram retirados e a chave da porta, trocada. O material foi levado para uma sala no térreo, onde agora funciona a bancada do partido.
– Quando surgiu esse equipamento, pedi para lacrar tudo, mas não sabia que a bancada tinha trocado de lugar. Quando falo em possível armação contra o deputado Jardel, não é por causa dessa escuta. O que estou analisando é a existência de possíveis provas forjadas, provas documentais das supostas fraudes – disse Marlon.
Na tarde desta terça-feira, será ouvido pela corregedoria um ex-servidor de Jardel, o mesmo que colaborou com a investigação do MP fazendo uma filmagem no gabinete. O ex-servidor contou a ZH que usou o equipamento de gravação, com autorização judicial e orientação do MP, apenas um dia, que era data de pagamento de salários dos servidores da Assembleia. O objetivo era flagrar o recolhimento de dinheiro de funcionários e a eventual entrega dos valores ao deputado, o que não ocorreu.
– Foi colocado um aparelho na minha roupa e agentes do MP me acompanharam até a Assembleia e logo depois de eu sair do gabinete. Fui monitorado o tempo todo – explicou o ex-servidor.
Ele também admite que, antes disso, fez gravações por conta, com celular ou gravador, numa tentativa de "se proteger". Segundo o ex-servidor, ele e colegas sofriam ameaças por parte do deputado e de outro assessor no sentido de que se ocorresse algum problema, se irregularidades viessem à tona, eles seriam responsabilizados. Essa seria a motivação de gravações feitas e também já entregues ao MP. O corregedor também analisou na terça-feira assinaturas em documentos autorizando pagamentos de diárias e outros, para verificar possíveis falsificações. O deputado Marlon tem prazo até dia 22 para entregar relatório final do caso à Comissão de Ética do parlamento.