O desastre ambiental do Rio Doce virou tema de sala de aula em escolas de municípios afetados pela onda de lama que vem varrendo o manancial desde o rompimento da barragem de rejeitos de minério em Mariana (MG).
Em Tumiritinga, cidade mineira de 6 mil habitantes cortada pelo rio, por exemplo, crianças e adolescentes preocupados com o futuro da região debateram sobre a morte do manancial em aula e expressaram suas conclusões em faixas e cartazes pendurados a poucos metros das águas de cor marrom-alaranjada.
Muitos dos 700 alunos da Escola Estadual Luiz de Camões temem que a beleza e a vida ao longo do curso d'água se resuma, no futuro, a uma longínqua e apagada lembrança de infância. Boa parte das mensagens expressa tristeza e revolta com a maré de morte que passou pela região: "Luto. O nosso rio está morto. Queremos o nosso rio de volta", diz um dos cartazes pendurados sobre uma longa faixa de tecido preto.
Os meninos e meninas se dividem quanto à busca por responsáveis. Enquanto um estudante escreveu que a tragédia ambiental "poderia ser evitada facilmente se a visão da mineradora não fosse somente lucro", a aluna do 8º ano Tyffani Silva Marçal, 13 anos, prefere não apontar culpados:
- Ninguém queria que isso ocorresse, então o jeito é rezar. Mas a tristeza é muito grande. Nasci e passei a vida inteira junto desse rio - afirma.
A colega Júlia Borges, 14 anos, não demonstra muito otimismo em relação ao futuro do Rio Doce - que ajudava a abastecer a cidade, fornecer irrigação para plantações e garantir fonte de renda para pescadores.
- Pode melhorar um pouco, mas acho que o rio vai ficar danificado por muito tempo. Muitas pessoas vinham para cá aproveitar a nossa prainha, principalmente no Carnaval. Agora, não vão vir mais - lamenta Júlia.
João Modesto, de 14 anos, tem mais confiança na recuperação da natureza na região:
- A tristeza é muito grande, mas eu espero que, em uns cinco anos, tudo volte a ser como era.
Um dos últimos cartazes diz: "Mesmo que pareça ser o fim, há sempre um recomeço".
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Rota da Lama
Zero Hora percorre o rastro de devastação provocado pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco ao longo do curso do Rio Doce. A primeira parada foi na localidade de Bento Rodrigues, no município de Mariana, que registrou mortes, desaparecimentos e foi praticamente extinta. A segunda parada foi em Paracatu de Baixo, também em Mariana (MG), onde a lama destruiu as casas e se acumula em blocos de um a dois metros de altura. Em seguida, nossos repórteres visitaram Rio Doce, Governador Valadares e Tumiritinga. Em outra frente, no Espírito Santo, a reportagem já passou por Colatina e seguiu em direção a Linhares, no litoral capixaba. Veja abaixo todas as matérias que já foram publicadas: