Dono de uma vitoriosa trajetória nos gramados, o ex-artilheiro Mário Jardel migrou do futebol para a política apadrinhado pelo ex-companheiro de Grêmio nos anos 1990, o deputado federal Danrlei (PSD), que viu no ex-centroavante um candidato em potencial para obter uma vaga na Assembleia.
A ideia tomou corpo em abril de 2014, quando o ex-goleiro oficializou o convite e recebeu o aceite do goleador. Na época, o histórico de problemas com drogas e álcool estaria sob controle, mas, com o decorrer do tempo, Jardel teria sofrido recaídas e demonstrado descontentamentos até culminar no rompimento com o antigo padrinho, em abril deste ano.
Um assessor que acompanhou o ex-jogador durante a campanha garante que o partido bancou as despesas dele e da família durante 9 meses, até o momento da posse como deputado estadual. O comportamento de Jardel no período eleitoral foi elogiado pelos colegas de partido.
- Ele foi exemplar durante a campanha. Mantivemos ele na linha, ele não cometeu nenhum deslize - conta o funcionário.
Na véspera das eleições de 5 de outubro, o então candidato teria sofrido uma recaída e, segundo relatos de integrantes do PSD, quase comprometido suas condições físicas para votar. Mesmo assim, no início da tarde, Jardel foi conduzido para a sessão eleitoral e registrou o voto na urna. No fim do dia, com a oficialização da eleição com 41.227 votos, o 34º candidato mais votado, em vez de comemorar, o ex-atleta teria chorado diante dos correligionários por conta da recaída da noite anterior.
A decisão tomada pelos líderes do partido, em conjunto com o próprio Jardel, foi de internar o ex-jogador em uma clínica de reabilitação no interior de São Paulo. As despesas, que incluíram um tratamento odontológico, foram pagas por pessoas ligadas ao PSD.
No período pós-internação e a posse, que ocorreu no fim de janeiro, Jardel teria sido mantido sob constante vigilância dos líderes da sigla e sem reclamar disso. Com o início do mandato, o deputado, segundo um ex-funcionário, teria mudado de postura:
- Ele se agigantou, começou a se sentir mais poderoso, a ser o centro das atenções na Assembleia. Começou a reclamar de dinheiro, a pedir para funcionários pagarem contas suas. Ele se perdeu.
A situação se agravou ao ponto de, em abril, Jardel dispensar os funcionários do gabinete, se afastar para tratar depressão e romper politicamente com os aliados do PSD. Na época, o deputado federal Danrlei informou, por meio de nota, que não queria mais se "relacionar publicamente com quem conduz seu mandato e sua vida da maneira como meu ex-colega demonstrou que vai conduzir".
Batizada de Gol Contra, uma operação do Ministério Público devassa nesta segunda-feira a sua rotina de trabalho na Assembleia Legislativa. MP e policiais fizeram buscas e apreensão na casa de Jardel, no gabinete no parlamento e em endereços de funcionários fantasmas.