Em novembro, o Ministério Público interceptou telefonema em que um irmão do deputado estadual Mário Jardel (PSD) reclama que o aluguel de seu apartamento não foi pago. Também foram gravadas a ligação em que Jardel cobra de um servidor o atraso no pagamento, exigindo que seja feito no dia seguinte, e outra entre dois servidores para tratar do mesmo assunto.
Batizada de Gol Contra, uma operação do Ministério Público faz buscas nesta segunda-feira para apurar denúncias de corrupção no gabinete de Jardel. A Justiça determinou o afastamento do deputado.
Confira os diálogos:
Irmão: O menino da imobiliária ligou e disse que os caras não pagaram o ap.
Jardel: Não pagaram?
Irmão: O ap., o aluguel.
Jardel: Tu ligou para o Ricardo (assessor) para falar isso aí que tu me falou?
Irmão: Não, vou ligar agora.
Jardel: Liga para ele, "o Jardel tá puto", viu, pode falar isso.
Irmão: Beleza.
Jardel: O Jardel tá puto, muito puto com isso, tu vai resolver com ele que ele tá muito, viu.
Seis horas depois, o deputado liga para o assessor Ricardo Fialho Tafas:
Jardel: Amanhã é dia 10, né, Ricardo? Esqueceu de fazer o negócio da minha mãe, do apartamento, e eu quero o negócio amanhã.
Ricardo: Tá, mas o que, o negócio do apartamento eu não...
Jardel: Bá, cara, eu tô cansado de combinar as coisas e não ser cumpridas.
Ricardo: Tá, mas não é comigo, né, Jardel?
Jardel: Todo dia cinco do mês tem que fazer aquele negócio.
Ricardo: Ô, Jardel, isso não era comigo, né?
Jardel: Minha mãe, né, cara, minha mãe já é doente.
Ricardo: Claro, tá louco, tá louco. Deixa que eu vejo isso com ele amanhã.
Logo depois de falar com Jardel, Ricardo telefona para o chefe de gabinete, Roger Antônio Foresta, para tratar do assunto e diz que ressarcirá o pagamento com diárias:
Ricardo: Tem o número dessa porra dessa imobiliária?
Roger: Eu vou subir e já te passo.
Ricardo: Sabe por que, Roger?
Roger: Não.
Ricardo: Eu vou dar um cheque pré-datado até eu fazer essas diárias aí e entrar as diárias para mim. Mesmo que eu pague juro, aí o dinheiro fica para mim.
Ricardo: Eu acho que dá, né? Eu acho que não tem problema, né?
Roger: Acho que não.
Ricardo: Eu vou dizer que a culpa foi minha, o engano foi meu.
Roger: Cinco minutos e já te mando.
Ricardo: Faz isso para mim. Porque essa vaca aí...Eu não sei o que esse merda...O que que ele tem que cobrar de mim.
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Uma das viagens investigadas na Operação Gol Contra ocorreu no mês de setembro e envolveu dois assessores do deputado Mário Jardel. Os funcionários teriam sido pressionados pelo deputado a inventarem um roteiro pelo Litoral Norte para obter diárias fraudulentas e, com o dinheiro arrecadado, pagar o aluguel de outubro do apartamento em que vivem a mãe e um irmão do parlamentar.
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Oficialmente, a viagem ocorreu entre os dias 21 e 26 de setembro, mas notas obtidas pela investigação mostrariam indícios de fraude. Na prestação de contas, um assessor relatou que esteve no Litoral entre os dias 21 e 24. Porém, o MP tem provas de que, na verdade, ele estava em Porto Alegre nos dias 22 e 24. Dias depois, um dos servidores envolvidos na viagem fez o pagamento do aluguel de outubro, de R$ 2.688,60.
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