Na mesma reunião em que discutiu o pagamento de R$ 4 milhões pelo silêncio de Nestor Cerveró, do ex-diretor da Petrobras, além de apoio logístico para ele fugir para a Espanha, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) negociou a indicação de um nome para assumir uma gerência da estatal. Com orçamento de R$ 1 bilhão, a gerência de Tecnologia da Informação (TI) foi escolhida pelo senador petista por ser "menos visada".
- Tem que fazer a gerência de TI. Porque a gerência de TI, ela não não tá ela não é atividade fim. É atividade meio. E ninguém enche o saco - disse o senador petista em conversa com o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro.
- Eu vou ver direitinho isso ( ) porque TI não está na linha de frente e, ó ( ), é o que você falou. Tem o orçamento de 1 bilhão - completou.
A conversa sobre nomeações da Petrobras foi iniciada pelo advogado, que chegou a indicar um candidato assumir a diretoria. Ele também questionou o senador sobre a possibilidade de emplacar dois outros nomes, não identificados, que foram referendados pelo petista.
- Deixa eu te fazer uma pergunta. Aqueles dois nomes é possível ou não é possível? - questionou Ribeiro.
- É possível! - respondeu Delcídio, revelando ainda ter influência sobre a estatal.
Antes de ser eleito senador, Delcídio Amaral foi diretor da Petrobras. É atribuída a ele a indicação do nome de Cerveró para a estatal. A conversa entre o senador petista e o advogado aconteceu no final da reunião em um hotel de luxo de Brasília, no dia 4 de novembro, logo após os dois negociaram com o filho de Cerveró, Bernardo, os termos para garantir que o ex-diretor da Petrobras não cite os nomes de Delcídio e do banqueiro André Esteves, dono do banco BTG Pontual, na delação premiada negociada junto ao Ministério Público Federal.
Toda a reunião foi gravada por Bernardo Cerveró. A gravação, com mais de 1h30min de duração, foi encaminhada ao MPF e foi determinante para a decretação, pelo Supremo Tribunal Federal, da prisão de Delcídio, André Esteves e Edson Ribeiro.
Em outro trecho de gravação, Delcídio cita ministros do STF e planeja fuga de Cerveró:
Maurício Silva Leite, advogado do senador, divulgou nota a respeito da prisão do seu cliente:
"A defesa do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) manifesta inconformismo em relação à decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal e a convicção de que o entendimento inicial será revisto. Questiona-se também a imposição de prisão a um Senador da República que sequer possui acusação formal contra si. A Constituição Federal não autoriza prisão processual de detentor de mandato parlamentar e há de ser respeitada como esteio do Estado Democrático de Direito", diz a nota.
* Zero Hora com informações do Estadão Conteúdo