A atriz publicou um comunicado em sua página do Facebook condenando o ataque racista. Segundo Taís, tudo foi registrado e será enviado à Polícia Federal. Ela disse também que não irá apagar nenhum comentário.
"Faço questão que todos sintam o mesmo que senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena nesse país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar", explicou.
Mais uma vez, uma celebridade negra foi vítima de ataques racistas pelas redes sociais. A exemplo do que ocorreu em julho com a jornalista Maria Júlio Coutinho - a Maju, garota do tempo do Jornal Nacional -, a atriz Taís Araújo recebeu, neste sábado, uma enxurrada de comentários preconceituosos em sua página do Facebook.
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Em uma foto de sua página na rede social, datada do início do mês de outubro, xingamentos e brincadeiras preconceituosas foram publicados a partir de diferentes perfis - como "Entrou na Globo pelas cotas", "Macaca fdp" e "Pode ser mais clara?".
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Após o ataque, fãs da atriz trataram de defender Taís e repudiar os comentários ofensivos. No Twitter, foi criada a campanha #SomosTodosTaisAraujo para apoiá-la. A hashtag estava no topo dos assuntos do momento da rede social no Brasil até o começo da tarde deste domingo.
<BLOCKQUOTE cite=https://www.facebook.com/taisdeverdade/photos/a.467026363422100.1073741830.460027354122001/473302922794444/?type=3> Posted by Taís Araújo on Domingo, 1 de novembro de 2015
É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar: na última noite, recebi uma série de...
Polícia investiga taques organizados
O caso de Taís é semelhante ao ciberataque ocorrido em julho, quando a jornalista Maju foi alvo de internautas. Na ocasião, a polícia de São Paulo começou a investigar ao menos dois grupos de jovens que se organizam para pregar racismo e intolerância nas redes sociais, realizando os ataques contra perfil de figuras públicas.
Conforme o Delegado Emerson Wendt, diretor do Denarc e pesquisador em crimes cibernéticos, estes grupos normalmente se organizam na própria internet, em fóruns e chats privados no Facebook:
- Não existe um perfil de participante, eles podem ser jovens, adultos. O que os une são suas concepções culturais, em que a questão racista é tratada como elemento de superioridade.
Na maioria dos casos, os usuários criam perfis falsos para publicar as ofensas e, através dos grupos privados, combinam quando e para quem direcionarão os comentários racistas, aplicando uma técnica conhecida como "flood", que consiste em postagens sucessivas e de conteúdo irrelevante em um determinado perfil:
- Esta é uma forma de trollagem muito comum, que não necessita muitos conhecimentos sobre informática. São centenas de mensagens, neste caso racistas e preconceituosas, para uma mesma pessoa. Os casos normalmente ganham notoriedade quando a vítima é uma celebridade, e em muitas situações a pessoa acaba tendo que descadastrar seu perfil na rede social.
Ainda não se sabe se os ataques à Taís foram originados por um grupo organizado, mas conforme a atriz, o caso será encaminhado à Polícia Federal para investigação.
Leis devem ser aprimoradas
Somente no ano passado, mais de 86 mil denúncias de racismo e 4,2 mil de homofobia foram registradas na internet pela SaferNet Brasil, uma organização não governamental que recebe denúncias de crimes desse tipo e encaminha para os órgãos responsáveis.
O procurador do Estado Jorge Terra, coordenador da Rede Afro-Gaúcha de Profissionais do Direito e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RS, explica que publicações como essas podem ser enquadraras tanto como crime de injúria racial quanto como racismo. Em ambos casos, a pena prevista em lei é de um a três anos de reclusão e multa.
- Nos casos específicos de publicações em redes sociais, como se trata de um meio de grande propagação, ainda é possível gerar um agravante na pena. Mas o que vemos hoje em dia é que grande parte das pessoas acabam não precisando cumpri-la.
Conforme uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser) da Universidade Federal do Rio De Janeiro (UFRJ), 66,29% das pessoas que respondem por crimes raciais, que englobam injúria e racismo, são absolvidas:
- Isso ocorre porque as leis que se referem ao tema não são boas, estão em descompasso com a realidade. Elas nem sempre favorecem a conjunção de provas, e muitos acabam considerando lesões menores - explica Terra.
* Zero Hora