Funcionário do gabinete na Assembleia e também investigado pelo Ministério Público na Operação Gol Contra, Christian Vontobel Miller, advogado do deputado Mário Jardel (PSD), disse que o parlamentar "rechaça" todas as acusações. Miller também afirmou que Jardel foi ameaçado de que seu mandato seria prejudicado. Seria em decorrência de exonerações que Jardel determinou no começo do ano.
Em dois meses de apuração, tendo o deputado e ex-jogador como principal investigado, o MP apurou indícios de crimes como concussão, peculato, falsidade documental, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Também é investigado o financiamento ao tráfico de drogas com dinheiro público desviado do parlamento.
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Confira abaixo trechos da entrevista do servidor Christian Vontobel Miller, que recebe R$ 6,4 mil na Assembleia.
ZH: O que o senhor pode nos dizer sobre a investigação que envolve o deputado Jardel?
O deputado rechaça todas acusações. Jamais pegou dinheiro de funcionário. Se tem algum tipo de irregularidade, tem que ser visto com a pessoa (um servidor do gabinete cujo nome ZH não revela por ele não estar entre os investigados) que fez as denúncias e que é o responsável por todas as contas do gabinete.
ZH: O senhor sabe quem fez a denúncia ao Ministério Público?
Sim.
ZH: O senhor tem informação sobre áudios e gravações de outros funcionários falando de entrega de dinheiro. O próprio chefe de gabinete aparece reclamando de ter que entregar R$ 4 mil todo mês. A investigação do MP mostra esses elementos, mais do que um denunciante falando.
Não tive acesso a isso, de que o chefe de gabinete tinha que dar R$ 4 mil por mês. Esse áudio eu não vi.
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ZH: A investigação cita o senhor como um dos investigados, aponta como um dos principais articuladores desse esquema de desvio de verbas.
O que vou dizer? Eu sou um simples funcionário do deputado. Até o mês passado, o menor salário ali dentro era o meu, ganhava R$ 3 mil por mês. Minha função é ser advogado dele, única e exclusivamente.
ZH: O MP aponta uma viagem que o senhor teria feito com verba da Assembleia para tratar de assuntos pessoais do deputado em Fortaleza.
Eu fui nomeado há seis meses. Nesse tempo eu tirei uma diária, se não me engano. Realmente, fui para Fortaleza. Estive na Assembleia Legislativa de Fortaleza para tratar de assuntos políticos do gabinete e coincidiu com uma defesa que eu tinha que apresentar para o deputado Mário Jardel numa ação de pensão alimentícia.
ZH: O compromisso na Assembleia coincidiu com a audiência.
Não era audiência, eu tinha que apresentar uma defesa no processo. Estive lá, fui na Assembleia, resolvi os assuntos que tinham que ser resolvidos, tudo está comprovado mediante documentos.
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ZH: É sócio no seu escritório o senhor Velco Tadeu de Matos? O MP diz que vocês trabalham juntos e que ele é funcionário-fantasma.
Não é meu sócio. Conheço o Dr. Velco, foi indicação minha para o gabinete, uma pessoa extremamente qualificada, formada em Engenharia e Direito. Isso não existe (ser funcionário-fantasma).
ZH: O senhor desconhece pedido de dinheiro a servidores, de fraudes com diárias? Eu não cuido dessa parte.
ZH: O senhor disse que sabe quem fez as denúncias. Se nada disso é verdade, qual seria a motivação dessa pessoa?
A motivação é simples. Há alguns meses, o deputado Jardel colocou 90% do gabinete para a rua. Eram todos indicações do deputado federal Danrlei. Naquela época Danrlei rompeu com Jardel. As 20 pessoas exoneradas tinham sido indicação do Danrlei. E isso causou indignação muito grande do Danrlei e desses funcionários. E foi prometido que, no decorrer do mandato, iam dar um jeito de prejudicar o deputado Jardel.
ZH: Quem prometeu, quem ameaçou?
Não posso dizer diretamente porque tu vais colocar num meio de comunicação. Vou deixar que o deputado fale. Dos 20 que foram exonerados, quatro que haviam sido indicados pelo deputado Danrlei permaneceram. Esse servidor (o denunciante) era responsável por todas as contas e ficou indignado quando o deputado Jardel exonerou do gabinete o ex-genro dele (do denunciante). O que gerou indignação também contra minha pessoa foi o fato de outro funcionário (um segundo denunciante, que ZH não dá o nome por não estar sendo investigado) ter sido exonerado e eu ter sido colocado no lugar dele.
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ZH: Mas esse funcionário não é um que saiu por vontade própria e escreveu uma carta fazendo denúncias também?
Jardel estava insatisfeito com o serviço desse funcionário e o exonerou. O servidor foi na Assembleia e fez denúncia escrita. Depois de dois dias, voltou, se arrependeu, foi num cartório e se retratou. Protocolou na Assembleia a retratação. Dias depois começou a ameaçar o deputado que, se não colocasse ele em algum lugar para trabalhar, ele voltaria com a denúncia. O deputado, com pena da pessoa que não tinha o que comer, conseguiu para ele um cargo no Estado. Foi isso que aconteceu.
ZH: O senhor fala de possível armação de dois funcionários. Mas e o que foi gravado com o próprio deputado falando, como exigência de pagamento de aluguel da mãe? Ou quando o MP flagra um carro que devia estar numa cidade x, pois cobrou indenização veicular, mas estava em outro lugar?
Eu vi essa imagem do automóvel, não cheguei a ver as datas, disso não posso falar. Com relação às diárias, tudo responsabilidade do servidor (diz o nome de um dos denunciantes, que ZH não publica porque não é investigado).
ZH: E sobre a cobrança de aluguel?
Várias vezes ele (deputado) pegou dinheiro e deu para funcionário pagar aluguel, isso não tem problema nenhum. Tem que falar com o Ricardo Tafas (servidor da bancada do PSD), que apareceu no vídeo.
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ZH: Não é com dinheiro público? Tafas aparece dizendo que ia tirar diária para cobrir aquela despesa de aluguel.
Uma coisa é o deputado dar o dinheiro para ele ir lá pagar. Mas o que ele fez ali, pega da diária e repõe para o servidor. Não tem irregularidade nenhuma nisso.
ZH: E quanto à questão do vício do deputado? O MP diz que ele podia estar pagando drogas com verba pública.
Uma pessoa que tem vício tem altos e baixos. Ele vinha numa fase boa, um tempo atrás teve recaída, se submeteu a tratamento. Agora, comprar droga com dinheiro do gabinete é uma história muito bem articulada.