O novo desenho do primeiro escalão de Dilma Rousseff tem as marcas dos caciques do PMDB e do ex-presidente Lula. Na tentativa de recuperar a governabilidade e abafar a ameaça de impeachment, a presidente abriu espaço para indicações do padrinho e do partido que controla Câmara e Senado. O PMDB vai ampliar sua fatia da Esplanada de seis para sete ministérios.
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Mas atender Lula e PMDB exigiu de Dilma a troca de quatro técnicos por políticos. Aloizio Mercadante (PT-SP) sai da Casa Civil e retorna ao Ministério da Educação (MEC), pasta da qual o filósofo Renato Janine Ribeiro foi demitido nesta quarta-feira. A passagem do professor de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo (USP) pela pasta durou menos de seis meses. Símbolo do mandato com o slogan Pátria Educadora, o MEC terá o terceiro titular em 10 meses - Cid Gomes (então no PROS-CE), Janine e Mercadante. O professor foi comunicado à tarde pela presidente que deixaria o cargo. À noite, Janine escreveu no Facebook que "o encontro foi absolutamente cordial" com Dilma.
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Prevista para ser anunciada nesta quinta-feira com o corte de oito a 10 pastas, a reforma administrativa traz ainda a substituição na Casa Civil de Mercadante por Jaques Wagner (PT-BA). Após meses de pressão de Lula e do PMDB para tirar Mercadante do posto, Dilma, enfim, cedeu. A chegada de Wagner, atual titular da Defesa, agradou a deputados petistas.
- O Wagner na Casa Civil vale mais do que 10 ministérios - disse o deputado Décio Lima (PT-SC).
Pepe Vargas deixa Secretaria de Direitos Humanos
Ex-governador da Bahia, com trânsito no Congresso, Wagner é considerado o plano B do PT para as eleições de 2018, se Lula não concorrer. A reforma devolve poder ao ex-presidente no Planalto. Além de Wagner, a entrada de Ricardo Berzoini na nova Secretaria de Governo - junção das Relações Institucionais e Secretaria-Geral - reforça a presença lulista, situação oposta à do início do segundo mandato.
Na reforma anunciada em dezembro, Dilma deixou Lula sem interlocutores nos principais postos do Planalto ao manter Mercadante e indicar Pepe Vargas (PT-RS) e Miguel Rossetto (PT-RS) para as Relações Institucionais e Secretaria-Geral. Na dança das cadeiras, Pepe - que migrou para os Direitos Humanos em abril - deixará à Esplanada e Rossetto tem o futuro indefinido.
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A escolha de Wagner para Casa Civil ainda permitiu a engenharia para atender a sede pelo primeiro escalão do PMDB, partido que cobra redução de ministérios, mas sairá da reforma com sete pastas e um orçamento aditivado. A vaga do ex-governador baiano na Defesa será ocupada por Aldo Rebelo (PC do B), deslocado da Ciência e Tecnologia, que será ocupada por um ministro indicado pelo PMDB - a bancada da Câmara tem a preferência e o favorito é o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ).
O PMDB da Câmara também receberá a Saúde, que era liderada por Arthur Chioro (PT-SP), ministro petista e de perfil mais técnico. Dilma deve entregar o ministério ao deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), que é médico, porém tem experiência reduzida em gestão da saúde pública.
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A entrega de ministérios, orçamento e cargos ao PMDB é criticada por uma ala da bancada do partido na Câmara, que defende o afastamento do Planalto e apoia o processo de impeachment de Dilma. Pelos cálculos desse grupo, um terço da bancada seguirá distante do palácio.
- O PMDB faz de conta que acerta com o governo, que faz de conta que vai governar. Em três semanas, a instabilidade no Congresso estará alta de novo - projeta o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
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O governo chegou a negociar um ministério com o PSB, que não topou voltar a ser aliado do PT - romperam antes das eleições de 2014 para os socialistas lançarem candidatura ao Planalto. Na sexta-feira passada, Jaques Wagner procurou deputados do partido para tentar restabelecer a relação, mas as conversas não avançaram.
- Não dá para deixar o governo e ser oposição na eleição, depois declarar independência no Congresso e voltar para o governo. Não é coerente - analisa o deputado Heitor Schuch (PSB-RS).
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Outras mudanças previstas na reforma administrativa indicam a entrada de André Figueiredo (PDT-CE) na vaga deixada por Berzoini nas Comunicações. É a forma de recompensar o PDT pela perda do Trabalho, fundido com Previdência e Desenvolvimento Social. Um dos aliados mais fiéis de Dilma, o PSD seguirá com Gilberto Kassab à frente das Cidades.
PT gaúcho pode ficar de fora
As negociações finais da reforma administrativa podem deixar o PT do Rio Grande do Sul sem espaço no primeiro escalão federal. Até então favorito para assumir o novo ministério da Cidadania, Miguel Rossetto (PT-RS) corre o risco de deixar a Esplanada. Pressionada pelos movimentos sociais, a presidente Dilma Rousseff estuda colocar uma mulher à frente da pasta. O nome mais cotado é o da deputada federal Moema Gramacho (PT-BA).
A criação do novo ministério também sacramentou o retorno de Pepe Vargas (PT-RS), titular dos Direitos Humanos, ao mandato de deputado federal. A pasta será fundida com Promoção da Igualdade Racial, Políticas para as Mulheres e parte da Secretaria-Geral, mix que resultará no Ministério da Cidadania.
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A ideia inicial de Dilma era a volta de Pepe à Câmara - que implica a saída do suplente Fernando Marroni (PT-RS) - e a ida para Cidadania de Rossetto, que no momento responde pela Secretaria-Geral. Contudo, articulações de movimentos sociais e de correntes do PT modificaram os planos.
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Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci (PT) alertou Dilma que colocar uma mulher na Cidadania seria simbólico para o governo e ajudaria a acalmar a base social. O nome preferencial seria o da própria Eleonora, mas a presidente optou por convidar Moema, ligada ao ministro Jaques Wagner, ex-governador da Bahia.
Dilma estuda colocar uma mulher no novo ministério da Cidadania
Moema foi chamada para conversar com Dilma na noite de segunda-feira. Caso confirme a deputada na Cidadania, a presidente terá de definir o futuro de Rossetto, um dos coordenadores da campanha em 2014. Especula-se seu retorno ao Desenvolvimento Agrário (que comandou no primeiro mandato), implicando a saída de Patrus Ananias (PT-MG). Esse movimento deixaria o PT do Rio Grande do Sul com uma cadeira na Esplanada. Outra opção seria um cargo como uma diretoria em Itaipu.
- Se a Dilma fizer isso, não vai ter ninguém para recebê-la quando for ao Rio Grande do Sul. Então que o PMDB receba a presidente no Estado - esbraveja um deputado petista.