O primeiro dia de acesso liberado na Colônia de Pescadores Z-3, em Pelotas, expôs o drama de outra comunidade atingida pela cheia da Lagoa dos Patos. No bairro Cedrinho, uma das áreas mais afetadas, ruas seguem totalmente alagadas e as casas inundadas pela água, apesar da trégua da chuva.
Segundo a equipe de assistência social da Z-3, são pelo menos 180 pessoas desabrigadas e mais de 300 desalojadas. Seis pontos, como o salão paroquial e a igreja da comunidade, estão servindo de abrigo nos últimos dias para as famílias.
- Faz uma semana que a gente está nessa situação aí. Minha casa foi tomada pela água, quase invadiu a janela - relata o pescador Cristiano Marques da Silva.
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Maria Cleni Gomes, pescadora, não arredou o pé de casa. A água entrou, mas ela elevou todos os móveis e eletrodomésticos e permaneceu ali para enfrentar sua terceira enchente em 40 anos.
- Como que a gente vai deixar o pouco temos em casa? Dessa vez eu disse "não". Não vou perder o pouco que tenho e que lutei tanto para conseguir - diz, emocionada.
Nas áreas mais secas da colônia, o maior desafio para as famílias, agora, é obedecer ao alerta da Defesa Civil e permanecer nos abrigos, pois a expectativa é de nova cheia nos próximos dias.
- Toda água que vai para o Guaíba tem que voltar por aqui para sair para o oceano. Enquanto permanecer a cheia lá (em Porto Alegre), a gente pede para as famílias ficarem nos abrigos. É arriscado voltar - afirma Gabriel Viegas, ajudante da assistência social na colônia, que enxerga de perto o drama dos moradores desabrigados.
É o que acredita - e teme - o pescador Clair Costa, com a experiência de seus 64 anos:
- Hoje está bom porque o vento Sul está tocando para Porto Alegre. Mas quando virar para Nordeste, aí vai botar tudo para baixo d'água de novo.
Veja a situação das pessoas afetadas pela enchente em Pelotas:
No abrigo improvisado no salão paroquial da colônia, moradores aguardam para poder retornar para casa. Pelo menos 100 pessoas estão abrigadas no local, como a dona de casa Maria Bernardes, o marido e suas duas filhas.
- Conseguimos salvar algumas coisas e trazer as crianças. Graças a Deus não está faltando nada para elas. Tem leite, tem alimento, tem tudo. Todo mundo ajudando e se ajudando - diz Maria, em tom de agradecimento.
Um dos maiores pontos de arrecadação de doações em Pelotas fica na Igreja Santo Antônio, no Laranjal. Milhares de pessoas já passaram pela paróquia, segundo o pároco Eneias Carniel. A igreja recebe alimentos, produtos de limpeza, roupas e colchões.
- Nunca vi tanta doação, tanta generosidade. Não tenho noção de quantas pessoas já passaram por aqui - diz o padre.
Em toda cidade de Pelotas, mais de mil pessoas foram atingidas pela cheia da Lagoa dos Patos. O município já encaminhou o decreto de emergência para a Defesa Civil.
ENTENDA COMO SE FORMOU A CHEIA NA LAGOA DOS PATOS
* Zero Hora