Uma caixa de isopor com gelo faz a função de geladeira na casa de Willian Almeida Ivanov, 32 anos, desde quinta-feira. Os alimentos perecíveis ganharam preferência nas refeições da família desde que o temporal que se iniciou durante aquela madrugada derrubou dois postes e a energia da rua onde mora com os pais, no bairro Santa Cecília, em Viamão, na Região Metropolitana. Não pode sobrar nada que venha a estragar sem refrigeração.
- Só hoje (sexta-feira), tentei ligar pelo menos oito vezes para a CEEE, mas está sempre ocupado. A luz é cara e ninguém vem aqui quando tem problema. Parece que não dão bola - desabafa o serralheiro, que também não tem como trabalhar na oficina montada em casa desde que a luz se foi.
Willian é um entre os mais de 173 mil clientes das três principais concessionárias de energia elétrica do Estado que, quase dois dias após a chuvarada, ainda sofrem com a falta de energia.
As justificativas para a dificuldade das distribuidoras para normalizar o serviço são diversas: vão desde a complexidade dos danos, passando por problemas em acessar as áreas afetadas pela falta de energia até uma questão de prioridades (serviços essenciais e estações que atendem a mais clientes costumam ser atendidos primeiro).
Veja o que dizem AES Sul, CEEE e RGE:
AES Sul (160 mil clientes sem energia até as 23h)
Distribuidora com mais clientes afetados pela falta de energia (o número chegou a 490 mil), a AES Sul diz que a principal dificuldade na resolução dos problemas se dá em função dos danos às redes. Muitas delas, segundo a concessionária, foram danificadas pelas quedas de postes e árvores e têm de ser reconstruídas.
Conforme o coordenador de leitura e entrega da AES Sul, Fábio Calvo, cerca de 1,5 mil pessoas, entre técnicos e eletricistas, trabalham no restabelecimento do serviço em todo o Estado. A empresa explica que a prioridade no atendimento são serviços essenciais e ocorrências de perigo (locais onde há cabos energizados, por exemplo). Em seguida, são atendidos os casos que afetam mais clientes em uma mesma região, até chegar aos casos individuais. Não há previsão para a normalização do serviço.
CEEE (9 mil clientes sem energia até as 23h)
Segundo o diretor de distribuição da CEEE, Júlio Hofer, o principal entrave à normalização do serviço é a logística. Conforme Hofer, a área de concessão da companhia teve muitos problemas isolados, como quedas de postes e rompimento de cabos, em diferentes pontos de Porto Alegre, o que provoca demora no deslocamento e, consequentemente, no atendimento às ocorrências.
A Capital é o município mais afetado, com 3,1 mil clientes sem luz. Metade deles, segundo a CEEE, são pontos na Região das Ilhas, onde a energia foi desligada por questões de segurança. Alvorada, na Região Metropolitana, é o segundo município com mais locais sem energia.
De acordo com a CEEE, 126 equipes leves (caminhonetes que reparam cabos de baixa tensão e reenergizam locais onde não houve dano à rede) e 41 equipes pesadas (caminhões com equipamentos especiais que trabalham na reconstrução de redes danificadas) estão em campo para resolver os problemas. A expectativa é de que 99% do serviço seja normalizado até a noite desta sexta-feira.
RGE (4 mil clientes sem energia até as 23h)
O acesso às áreas rurais é considerado o maior dificultador no restabelecimento da energia aos clientes da RGE. Diferentemente das áreas urbanas, onde os problemas podem ser diagnosticados remotamente, essas regiões exigem saídas de campo.
Conforme o presidente da distribuidora, Roberto Sartori, em Taquara, o acesso ao meio rural, seja em função de problemas nas estradas ou pelos alagamentos, tornam difícil prever quando a situação voltará ao normal. Em Gravataí, onde se concentra quase todo o restante dos clientes sem energia, o serviço deve ser normalizado ainda nesta sexta-feira.
Segundo a RGE, cerca de 900 pessoas trabalham no restabelecimento da energia pelo Estado, sendo 600 delas somente na Região Metropolitana.