A postura idealista do então aluno de Arquitetura e líder estudantil Henrique Pizzolato pouco lembra a do ex-executivo de cabeça baixa que chegou nesta sexta-feira ao Brasil para cumprir pena por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro no escândalo do mensalão. Décadas antes de assumir a diretoria de marketing do BB e envolver-se no desvio de milhões do Fundo Visanet, Pizzolato teve uma vida típica de estudante ao fazer faculdade na Unisinos, entre o final da década de 1970 e o início dos anos 1980.
Morador de um apartamento na Rua Presidente Roosevelt, em São Leopoldo, o então escriturário do banco era presença certa em movimentos universitários de luta pela redução do preço da mensalidade do curso e nos barzinhos. Nas sextas-feiras, costumava frequentar as festas promovidas pelos diretórios universitários da Nutrição e da Geologia. Foi nessa época que conheceu sua mulher, Andréa Haas, também estudante de Arquitetura. No final de 2013, quando Pizzolato fugiu para a Itália, a companheira viajou para a Europa um mês depois para encontrálo. O casal passou a viver com um sobrinho do ex-diretor até ser descoberto em fevereiro de 2014.
Como aluno universitário, um dos projetos que Pizzolato liderou chegou a ganhar visibilidade na imprensa local. Ao lado de três colegas, desenvolveu uma proposta de moradia compartilhada, na qual apartamentos eram equipados apenas com quarto, sala e banheiro. Áreas como lavanderia e cozinha eram de uso comum. A ideia recebeu atenção na época, mas nunca saiu do papel. Quem conviveu com o petista demonstra surpresa com a sequência da sua trajetória. – Pizzolato era um cara muito atuante no movimento estudantil, era muito humilde, lutador. Era bem diferente do que a gente lê hoje nos jornais. Na época, era um sujeito legal, mas hoje não posso dizer que tenho alguma coisa a favor dele – afirma o jornalista Antonio Barcellos.
Após concluir a graduação em Arquitetura, Pizzolato retornou para Toledo, no Paraná, onde vivia a sua família. Já filiado ao PT, tentou eleger-se prefeito e deputado, mas não obteve êxito. Acabou mergulhando no movimento sindical – foi presidente do Sindicato dos Bancários do município – e, passo a passo, galgou posições até chegar à presidência da CUT no Paraná e, posteriormente, à diretoria de marketing do Banco do Brasil.