No terceiro dia da greve motivada pela falta de pagamento dos salários a servidores estaduais, Zero Hora percorreu pontos de protestos e endereços de serviços públicos em Porto Alegre.
Quem esteve na Farmácia de Medicamentos Especiais, por exemplo, foi atendido, mas alguns enfrentaram um problema rotineiro: a falta de medicamentos.
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- É comum eu vir e não ter o remédio. Uso colírios para glaucoma. Aí tenho que ficar ligando para saber se chegou, isso quando atendem o telefone. Eu acabo tendo que comprar a medicação - desabafou Pelagia da Costa, 75 anos, ao sair da farmácia no começo da manhã desta quarta-feira.
Do outro da rua, na Avenida Borges de Medeiros, o funcionamento no Tudo Fácil Centro era normal. Já no serviço da Zona Norte, houve quem não conseguiu fazer carteira de identidade, por exemplo.
- Vim de Alvorada, preciso da carteira para minha filha. Nem sabia da greve. Agora me mandaram lá na Azenha (no endereço do Departamento de Identificação) - contou Andriele da Costa Mendes, 18 anos, que precisava fazer documento par a filha de dois anos e meio.
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A informação na portaria do Tudo Fácil, situado na Rua Domingos Rubbo, era de que os serviços estavam normalizados, menos o de confecção de carteiras de identidade (CI). As CIs só estavam sendo feitas para quem agendou ou em casos prioritários, para gestantes, idosos e deficientes físicos.
As demais situações foram direcionadas para a sede do Departamento de Identificação (DI), na Azenha, onde o serviço estava normalizado, segundo informações do próprio DI.
O Hospital Sanatório Partenon, que é referência no atendimento de tuberculose no Estado, foi ponto de protesto pela manhã na Avenida Bento Gonçalves. Servidores da saúde se reuniram com faixas e cartazes e fizeram uma caminhada até a Avenida Ipiranga. Um caixão foi usado para puxar o protesto.
Conforme Elpídio de Borba, supervisor de enfermagem do sanatório e integrante do comando de greve, as internações e consultas de rotina agendadas estão suspensas. Só estão sendo atendidos casos especiais, em que há suspeita de paciente com tuberculose ainda sem iniciar tratamento.
- Dentro do possível, quem tinha consulta agendada está sendo avisado para não vir - explicou Elpídio.
No Hospital Psiquiátrico São Pedro, que também mantém apenas 30% do efetivo atuando, o atendimento é parcial.
- Quem tinha agendamento segue sendo atendido no ambulatório, também tem serviço de triagem (para casos de surtos), e o atendimento aos internados - disse Antônio Renato dos Santos, especialista em saúde e secretário-geral do Sindicato dos Servidores da Saúde (Sindssama-Saúde).
A manhã foi marcada por graves transtornos no trânsito da Capital. Logo no começo da manhã, a notícia de uma suspeita de bomba no viaduto da Silva Só motivou o fechamento do trânsito na região com repercussão na Avenida Ipiranga. O problema se estendeu por quase três horas devido à demora de atendimento do caso pelo Grupamento de Ações Táticas Especiais (Gate) da Brigada Militar.
O protesto de mulheres de policiais militares nas duas saídas do Batalhão de Operações Especiais (BOE), onde fica a sede do Gate, atrasou a solução da ocorrência. Um dos portões estava fechado com cordas, pedras e cadeiras. O outro, o principal, foi bloqueado com barracas. PMs tiveram de sair à paisana do local e em carros particulares para ir até a Silva Só.
- Nós não vamos liberar a saída para ocorrências. Se liberar uma, acaba nossa greve - afirmou Loiva de Oliveira Carneiro, 56 anos, mulher de um sargento.
No portão principal do batalhão, Claudete Valau, 55 anos, explicou que em caso de bomba, ou seja, de risco grave à população, haveria liberação, mas só para isso.
- Só o Gate vamos liberar. O BOE não.
*Zero Hora